quinta-feira, novembro 23, 2017

O que mudou nos media, em 50 anos...

A Visão  do grupo Impresa, do senhor Balsemão, está prestes a ser dispensada a quem der mais, por ausência de viabilidade económica e continua a prendar-nos com este jornalismo atávico aprendido nas madrassas dos cursos de comunicação social:



Há 50 nos houve uma tragédia em Portugal. Uma tromba de água, um dilúvio abateu-se sobre uma região e ceifou centenas de pessoas indefesas, nas suas casas, muitas delas barracas construídas em locais que não o deveriam ter sido.

Não eram clandestinas porque a clandestinidade, nesse tempo, era reservada aos que ansiavam pelos "amanhãs a cantar" e que pululavam nos jornais de então, numa actividade subterrânea de oposição ao regime.
Muitas dessas barracas perduraram e proliferaram como cogumelos na humidade até ao dealbar do séc. XXI e não é seguro que tenham sido todas erradicadas ou modificadas as condições de vida, actualmente, em certos bairros problemáticos da periferia de Lisboa e Porto.

Portugal em 1967 era o que era e não se deve imputar ao regime o que os regimes só com muita dificuldade conseguem gerir ou dominar, no circunstancialismo do tempo em que vigoram.   A construção clandestina que passou  existir depois de se terem estabelecido as regras urbanísticas que tal conceito definiu não parou com o regime de Salazar/Caetano porque a pobreza nacional não parou desde então. Antes pelo contrário, terá aumentado relativamente, o que nem paradoxo é, uma vez que o actual regime empobreceu mais o povo português do que o anterior, se tivesse continuado, o faria.  

Perante a dimensão extraordinária da catástrofe a imprensa da época, em que a tv ainda tinha hora marcada em estúdio para dar notícias e os rádios idem, aspas, publicaram logo no dia seguinte e a seguir várias fotos da catástrofe.
Fotos, diga-se a propósito, que hoje nunca seriam publicadas, como é o caso da capa eventualmente censurada, conforme agora se aprestam a dizer os alunos daquelas madrassas,  do Século Ilustrado de 5 de Dezembro desse ano de 1967 e aqui já mostrada.

No entanto, na altura era caso de censura como proclamam os alunos das madrassas do jornalismo actual. Agora,  é caso de idiossincrasia politicamente correcta. Pode chocar as pessoas...
Contudo e curiosamente era exactamente esse o motivo porque a Censura da época não deixava publicar certas fotos ou notícias da tragédia, para não chocar demasiado a sensibilidade comum.
Os alunos das madrassas do jornalismo caseiro entendem, porém, o fenómeno de outro modo: a Censura de então destinava-se apenas a esconder do povo as condições em que o regime colocara esse mesmo povo, um regime maligno portanto e incentivador de uma ignorância criminosa que hoje entendem não existir, porque haverá liberdade de expressão completa e irrestrita.

Enganam-se, porém, os alunos destas madrassas. Há uma diferença de vulto entre a Censura de ontem e o que hoje sucede, com o mesmíssimo efeito prático: o politicamente correcto, na época, cingia-se a um bom senso comum que todos entendiam menos os que pretendiam desestabilizar politicamente o regime. Hoje, alarga-se a conceitos estranhos a esse bom senso e pauta-se pela ideologia pervasiva  e estrangeirada do que parece bem e vai fazendo carreira segundo os cânones enunciados nos media pelo método gramsciano: aos poucos se vai fazendo o caminho que se pretende, sempre para a esquerda, claro está. Sempre para o lado do combate permanente à "burguesia" e em prol de outras classes, como a dos artistas, de circo, comédia e outras disciplinas.

Paradoxalmente ou talvez não reclama-se hoje em dia por um "direito à verdade" que os media escondem.

Leia-se este pequeno artigo de um dos principais mentores das verdades alternativas que são ensinadas nas tais madrassas e reinam nas redacções do autor, dono da Impresa. Foi publicado hoje no Jornal de Negócios que celebra os 20 anos:



Quem lê isto até pode ser levado a acreditar que o autor, o inefável Balsemão é um apóstolo da verdade pura no jornalismo formado em madrassas, escrevendo despudoradamente que "cada vez mais pessoas em Portugal e no mundo inteiro, se consideram informadas apenas pelo que recebem via redes sociais. Entre gostos e partilhas, propagam informação, sem muitas vezes perceber que aquilo que tomam como verdade é, na realidade, mentira."

Ou seja, o maior propagandista de certas mentiras institucionalizadas, acrítico de certas políticas públicas e opções estratégicas portuguesas dos últimos anos é um defensor da verdade que se pode conhecer através da informação.
Esta é a maior mentira do artigo. Balsemão não suporta a verdade, desde sempre que leio as publicações que edita. Suporta sim a verdade conveniente aos seus interesses que confunde com os do país.
Os seus jornais e principalmente a SIC ou a TSF, não separam o trigo do joio em certas questões e se a afirmação é injusta em relação a tudo ( o Expresso publicou tabalhos notáveis sobre os incêndios deste Verão, por exemplo), é certeira, no meu ponto de vista,no essencial: as pessoas que lêem, ouvem e vêem os media do patrão da Impresa, ficariam muito mal informadas se apenas tivessem essas fontes informativas.

A Censura que as publicações da Impresa pratica não é aquela que existia no tempo em que o Expresso surgiu e que cortava estupidamente partes de artigos com menção explícita à mudança do regime ou a algo que o colocasse seriamente em causa. É outra e mais insidiosa: esconde a verdade sobre certas matérias que vou enunciar sumariamente:

O Expresso não contou nunca a verdade sobre o regime de Marcello Caetano, obliterou sempre a factualidade existente e adulterou sempre a realidade sociológica existente na época. Compare-se com a revista Observador, existente até 1973, altura em que o Expresso surgiu e que é o melhor espelho do marcelismo, incluindo as dificuldades em sair de um regime de controlo da liberdade, como de facto existia.
O Expresso que saiu depois da "Revolução de Abril" combateu a tentativa de tomada de poder pelos comunistas mas contribuiu muito para essa mesma tentativa, ao não denunciar claramente e desde antes do 25 de Abril a natureza perversa do comunismo, com todas as letras carregadas. Preferiu sempre as meias tintas, apanágio do então director, hoje presidente da República.
A verdade foi escondida, neste caso muito importante da nossa realidade histórica. O Expresso de Balsemão preferiu sempre a "pós-verdade", neste caso. A prova desta afirmação reside neste blog nos postais que escrevi sobre isso, com os documentos-recortes do próprio Expresso.

Sobre a SIC actual e pregressa nem vale a pena falar porque só cito a jornalista Lourença, o exemplo mais acabado de manipulação subtil da informação em prol de um projecto político de uma esquerda difusa. O que a mesma fez durante o consulado de um vigarista que governou o país durante anos é uma prova esmagadora dessa manipulação. Uma vez, entrevistando o dito, comentou que a campanha que o atingia, na altura do Freeport, era uma "campanha negra", subscrevendo assim todos os argumentos dos que defendiam acritica e acefalamente tal vigarista. E digo vigarista porque se prova que é pessoa que por várias vezes enganou, claramente e sem refutação possível,  muita gente durante algum tempo.
Estes são dois exemplos que poderia replicar por dezenas deles, alguns expostos neste blog.

O papel do tal Balsemão, nisto tudo? Lavar as mãos e esperar que os bolsos estejam cheios...

São isto jornalistas?! É esta a verdade que propõem?

Podem ir dar banho ao cão, se o tiverem. 

E até acrescento uma coisa: havia mais verdade na informação anterior ao 25 de Abril de 1974 do que depois. E tal é comprovável, com uma única excepção: tudo o que dizia respeito à esquerda comunista e socialista era escondido e censurado. Isso sim. Mas essa verdade não estava escondida, mas sim claramente exposta na lei e das regras da censura: era proibido publicitar actividades subversivas. O que pretendia então o PCP? O mesmo que hoje, tomar o poder eventualmente pela via revolucionária se as condições fossem propícias.
O regime defendia-se disso, como se defenderam outros países, como a Alemanha dos anos 50 que proibiu o Partido durante algum tempo. E a Inglaterra e os EUA e outros.  O PCP era proibido por cá e em coerência não havia propaganda publica ao mesmo. Teriam feito o mesmo aos "fascistas", mas nem isso reconhecem como coerência. Conseguiram meter na Constituição de 1976 uma noção de proibição de organizações fascistas sem as definirem. Serão portanto aquelas que eles disserem que são...isto é democracia verdadeira? Há alguma diferença entre esta proibição e a do PCP, antes do 255 de Abril?
Em Portugal se alguém disser na tv que é comunista tal é respeitado como sinal de bom tom. Se disser que é fascista, é preso e não apenas simbolicamente. Este é um pequeno exemplo do significado de "amplas liberdades"...

Portanto, quando digo verdade é mesmo isso: as pessoas sabiam a verdade sobre a guerra no Ultramar porque lhes era contada pelos próximos que para lá iam. Não precisavam de correios da manhã a mostrar cadáveres arrebentados por minas.  Sabiam a verdade sobre a política do país e dos interesses que publicamente eram defendidos porque o grau de honestidade dos governantes era incomparavelmente superior e não havia quem quisesse tomar conta de bancos ou de empresas de comunicação ou mesmo de outro género para alimentar uma clique como hoje em dia existem e são escondidas pelos media, com os jornalistas formados nas madrassas a colaborarem nessa farsa.

A verdade que interessava verdadeiramente ao país, todos a conheciam. Depois de 25 de Abril de 1974 deixaram de conhecer. O PCP despachou para Moscovo caixotes e caixotes de documentos da PIDE/DGS. Pois nunca alguém exigiu na AR, com suficiente autoridade a devolução de tais documentos. O PCP andou anos a fio a defender os interesses estrangeiros dos países comunistas, dizendo-se patriotas. Quem os denunciou? O Expresso do Balsemão?

Mais uma vez: vão dar banho a cão.

Questuber! Mais um escândalo!