quinta-feira, junho 04, 2020

Portugal e o futuro: cepticismo, sempre.


As revistas Sábado e Visão desta semana contêm alguns elementos que permitem vislumbrar as dificuldades que surgirão para aplicação concreta dos milhões que a UE vai disponibilizar para a retoma económica.

Ao contrário de muitos que se julgam entendidos em tudo e até neste sector, altamente volátil quanto a certezas ou teorias científicas de algibeira, ou seja, de bolso, resumidas e de ficção científica pura, não me julgo nada habilitado para palpitar sobre estes assuntos. E por isso não vou fazê-lo. Vou apenas mostrar, em primeiro lugar para me informar, o que nos espera das cabeças pensadoras que estão agora encarregadas de poder executivo.

No final da década de oitenta, o encargo foi do PSD, principalmente e do seu líder que raramente se enganava e nunca tinha dúvidas.
Talvez por causa disso um dos seus ministros chamou um guru da época, Michael Porter, para estudar a nossa economia e alvitrar soluções, a troco de grossa maquia pelo estudo, paga pelo PEDIP ( dinheiro europeu).

cerca de dez anos um expert nacional alvitrou no Público a sua teoria do falhanço rotundo das políticas seguidas...

"Quando nos anos 90 o Professor de Harvard Michael Porter elaborou o célebre Relatório, encomendado pelo Governo Português de então, o diagnóstico sobre o que fazer e as áreas estratégicas de actuação foi muito claro – ou se reinventava por completo o Modelo Económico ou então a Economia Portuguesa tenderia a morrer com o tempo. Quase vinte anos depois, o balanço é conhecido – Défice Estrutural Elevado, Desemprego incontrolado, um Tecido empresarial envelhecido e ultrapassado. Urge mudar. Mas haverá solução? O que diria Michael Porter se voltasse hoje a Portugal?
Porter voltaria a dizer – desta vez com muita mais força – que a aposta nos Factores Dinâmicos de Competitividade, numa lógica territorialmente equilibrada e com opções estratégicas claramente assumidas é o único caminho possível para o futuro. Falta por isso em Portugal um verdadeiro Choque Operacional capaz de produzir efeitos sistémicos ao nível do funcionamento das organizações empresariais.
Uma Nova Economia, capaz de garantir uma Economia Nova sustentável, terá que se basear numa lógica de focalização em prioridades claras. Assegurar que o “IDE de Inovação” é vital na atracção de Competências que induzam uma renovação activa estrutural do tecido económico nacional; mobilizar de forma efectiva os “Centros de Competência” para esta abordagem activa no Mercado Global Se Michael Porter voltasse a Portugal, não poderia dizer outra coisa. Por isso, torna-se um imperativo de identidade nacional saber que será sempre possível não desperdiçar esta nova oportunidade."


Sabemos agora que esta sugestão do que deveria ter sido realidade redundou numa bancarrota estrondosa com cerca de oitenta mil milhões de empréstimo controlado pela troika. Ainda pagamos o esforço e as gerações futuras continuarão a pagar. 

Sobre o cavaquismo e o falhanço rotundo no almejado "pogresso" já tentei perceber e mostrar aqui como foi.  

Como sou muito céptico nestas coisas, ainda mais que nos palpites científicos sobre bichos microscópicos, li estes artigos na Visão e Sábado de hoje e fiquei ainda mais céptico. 

Os "peritos" que agora temos para nos desenrascar mais uma vez, com ajudas da mesmíssima UE parecem-me muito fracos, sem ideias e diletantes. 

Leia-se:


Este responsável político, advogado de profissão, saberá muito pouco de economia mas também nem interessará muito, para o caso. Pudera soubesse de outras coisas e tivesse mente clara, limpa de preconceitos ideológicos e recta intenção. Não me dá garantias de nada disso, antes pelo contrário. 

Diz que já está tudo pensado, planeado e até estudado e aconselha os empresários: "apostem na descarbonização dos processos, na eficiência energética, na digitalização. Vai haver muito investimento público"
Já vemos no isto vai dar: começar a construir casas pelo tecto...e mostra até como foi que chegamos ao que chegamos ( dívida pública monstruosa...): "anteriormente tínhamos investido na educação, num sistema científico e tecnológico, na construção de um Sistema Nacional de Saúde que cria confiança aos investidores, na construção de instituições sólidas". Talvez esteja a pensar no sistema de justiça cível e fiscal que demora anos e anos a resolver conflitos, sem soluções práticas à vista. Enfim. 
Tendo em conta as condições impostas pela UE para aplicação dos milhões ( "empresas elegíveis, cem situação sólida", sei lá tipo BES de há dez anos atrás; "remuneração adequada do capital investido", enfim, um aviso para as artimanhas que vão começar; "reembolso do contribuinte público", pois sim, isso logo se vê, com dívidas ao fisco, à segurança social, aos trabalhadores, etc etc) pelo que se deve temer o pior cenário possível: outra bancarrota daqui a uns anos. 

Para já tem uma solução para uma empresa cronicamente deficitária e que continuará a sê-lo, a TAP. Continuará a ser bandeira de Portugal, por orgulho nacional em ter duas cores e esfera armilar ( se chegar aí...) nos aviões estrangeiros.
A gestão pública vai arruinar ainda mais a empresa e será um "elefante branco" daqui a uns, poucos anos. Em breve o prejuízo será maior do que o de todos os bancos falidos juntos, BPN, BES, Montepio etc.

Como é que isto vai ser executado? O Governo é quem manda, mas já tem os seus conselheiros privilegiados. Um deles é este mostrado pela Sábado: o percurso e o discurso não augura nada de bom, mas veremos. 


Depois a mesma Sábado mostra em editorial de Eduardo Dâmaso o que deveria ser feito para se evitar o que aconteceu no tempo do devorismo cavaquista dos Loureiros, Dias, Mendes, Machetes e Cª muito limitada, de inteligência, principalmente.



Dâmaso propõe uma troika de controlo de execução da distribuição dos dinheiros com assento primordial no Tribunal de Contas e a envolver "o MºPº, a PJ e o Banco de Portugal".

É uma ideia peregrina que não tem pés para andar porque irá de carrinho para o campo das utopias. Como é que Eduardo Dâmaso julgaria que uma geringonça destas poderia funcionar? Com que processos, com que métodos, com que liberdades de investigação de controlo? 

Gostaria de saber só que nem ele sabe e por isso nem deveria perguntar. 
Fiquemo-nos apenas por uma hipótese: dotar o tribunal de Contas de uma equipa multi-disciplinar a funcionar em tempo real com os procedimentos de aprovação dos "projectos".  Não serão assim tantos que careçam de muita gente. 
O Tribunal de Contas é uma entidade independente e já deu provas de não estar sob alçada do executivo como estão as várias organizações de prevenção e controlo destes assuntos. 

É preciso não esquecer que em 1984 foi criado um departamento no Estado que tinha tal vocação  e que deu em nada de nada. Até tinha lá a actual ministra da Justiça, claro. Alta Autoridade Contra a Corrupção que até dá vontade de rir, vendo o que se passou a seguir a inutilidade de tal instituição.



É curial, urgente e necessário não esquecer o nosso passado recente e em Abril de 1985 também havia este discurso optimista do então émulo ministerial do actual detentor do lugar:  



Dez anos depois deste discurso apareceu o da "paixão pela Educação"...e sabemos como é que foi: cursos de formação profissional marados e sem utilidade alguma, roubos descarados de verbas do FSE e outras manigâncias que levaram a um pântano.

Enfim, o nosso fado nunca acaba...e por um motivo claro, evidente e muito prosaico: as raposas estão sempre dentro do galinheiro, em Portugal. E por isso vamos dar ao mesmo.

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