terça-feira, novembro 03, 2020

A América, terra do Zé Catita

 Nunca fui à América e o que dela conheço é de ler e ouvir dizer, vendo imagens que outros fizeram. 

Desde muito cedo que fui, tal como os portugueses em geral, exposto a intensa carga de imagens americanas, dos filmes e papel impresso. O meu conhecimento da América vem daí e por aí me atenho. Se lá tivesse ido, visto e ouvido e principalmente vivido talvez tivesse uma ideia diversa do que será a América. Por isso e por outras coisas nem sei dizer se este Trump é melhor ou pior que o Zé Biden e vice-versa. O que dizem não me impressiona por aí além e aprendi a desconfiar de um unanimismo excessivo sobre certas coisas. Síndroma de panurgo.

Porém, gosto de contar a maneira como fui descobrindo a América em papel, depois de ver os filmes que por lá se faziam, ainda na televisão a preto e branco dos anos sessenta. Grandes filmes de aventuras, de cóbóis e de "guerra", entretimento de crianças e jovens de todas as idades. 

contei uma vez a história da minha América em papel mas ficou incompleta. 

Em 1972, por esta altura do ano, disputavam-se na América eleições em que os candidatos eram Nixon e McGovern. 

Para dizer a verdade pouco me interessavam e certamente interessavam muito menos os portugueses de então do que as actuais eleições que se realizam hoje e também não sei dizer porquê. Admira-me que assim seja e suspeito que o colonialismo que temos agora por cá é bem pior do que o que tínhamos na altura. E agora somos nós as vítimas do fenómeno. 

Em 1972 os portugueses davam maior atenção aos seus problemas do que aos dos americanos. E nessa altura estes também tinham, como nós, guerra lá fora para se entreterem. Eles no Vietname e nós no Ultramar. E parece que queriam que nós desistíssemos da nossa, continuando a deles. 

Em Outubro desse ano comprei uma revista brasileira muito bem feita e da editora Bloch: Realidade. Saíra um número especial dedicados aos EUA, com imagens de coisas que não conhecia e que me davam outra noção da América um pouco diversa da que via nos filmes e outras fantasias avulsas. 

Folheei assim: 














São particularmente interessantes estes artigos sobre os "farmers" americanos, famílias inteiras dedicadas à produção de víveres para vender e com trabalho de sol a sol, tal como por cá então sucedia com a diferença da extensão, tecnologia e modo de produção. O espírito, no entanto não era muito diferente  porque também era uma agricultura de subsistência. 


O problema rácico, com os pretos, estava muito bem explicado nestas duas páginas e sem preconceitos ideológicos. 

Outros haveria...mas precisariam de algumas décadas para fazerem caminho até cá e servirem de causa ideológica a alguns.


O problema da pobreza e racismo no Harlem? Culpa dos brancos que lá introduziram a droga...


Portanto, o racismo já era tema...


E o feminismo também...


Em 1972, em Portugal, quem teria a noção destas temáticas e das realidades associadas a estas imagens? 

Por mim, o que me tinha mais interessado era esta página, com imagens de revista americanas que não conhecia ainda:


E particularmente esta que dois anos mais tarde comprei pela primeira vez só para ver publicidades e desenhos, mas que nesse ano publicou uma capa interessante, sobre o candidato Nixon, o Trump da altura e que dois anos depois foi corrido por indecente e má figura no caso Watergate. 



A capa a cores...e no desdobrável interior. Até parece o Sócrates mais o seu pinóquio. Quem? Um tal Costa...


Quanto aos americanos desse tempo, o jornal Diário Popular, nessa época do início dos anos setenta, tinha por lá um certo Balsemão e publicava páginas assim a mostrar como era a classe média americana...


Pergunta-se: quem será tipicamente mais americano? O Trump ou o Zé do Bidé... perdão, o Zé Catita?



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