José António Saraiva, "conselheiro editorial" ( sic) do Sol arranjou tempo nos últimos meses para escrever três livrinhos ( com cerca de 250 a 300 páginas cada um) sobre Salazar e Marcello Caetano.
O Sol publicita hoje tal coisa:
Já li os dois primeiros sobre Salazar e a transição para Marcello Caetano e comprei agora o terceiro, sobre Marcello Caetano.
São livrinhos despretensiosos ( é uma maneira de dizer porque afinal pretendem ser " a história como nunca foi contada"...) mas bem feitos, a meu ver. Relatam episódios já conhecidos por outras fontes de informação e leitura, como sejam as obras mais representativas sobre tais figuras que ocuparam o poder político na maior parte do nosso século XX.
Para além das citações avulsas e profusas de trechos de tais obras, os livrinhos contêm análises do autor acerca de vários episódios da vida de cada um daqueles presidentes do Conselho.
Destaco por exemplo e neste aspecto a análise do que se passou com o caso Humberto Delgado em que procura contextualizar vários factos e circunstâncias que geralmente são desprezados pelos relatos empenhados em demonstrar a culpabilidade de todo um regime no desfecho trágico e fatal produzido.
O período de transição do poder de Salazar para Marcello Caetano também ocupa várias páginas do segundo volume, com transcrições interessantes e análise do papel equívoco do então presidente da República Américo Thomaz em todo o processo até à morte de Salazar.
O que falta nessas obras de divulgação mais que tudo o resto? Uma interpretação psicológica coerente e credível da personalidade de Salazar, mais que a de Marcello Caetano.
José António Saraiva não se atreve muito a moldar o retrato psicológico de alguém que afinal não compreende tão bem como isso, apesar das nuances e subtilezas analíticas expostas, feitas de citações, principalmente.
Falta por isso a obra que devolva ao leitor interessado o retrato a corpo inteiro, incluindo o moral, de Salazar, da sua governanta, senhora Maria e outros. Não basta dizer em síntese e grosso modo que Salazar era mais rural que Caetano. É preciso explicar o que tal pode significar, completamente.
Haverá alguém capaz de o fazer, um dia? Cada vez tenho mais dúvidas. Quem poderia não quer e quem quer não poderia.
Por exemplo, em determinada parte do livro diz que Salazar guardava na sua residência uma biblioteca com os clássicos da literatura portuguesa, muitas obras em francês e o suficiente em inglês e alguns italianos. Seria bom conhecer tais obras para se perceber como Salazar se educou culturalmente, para além do mais.
Tanto quanto julgo saber, tal informação é escassa, como se pode ler aqui, na recensão de um livro já com mais de 25 anos.
Umas páginas de tal recensão:
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