Sábado de hoje, coluna "sobe e desce" do jornalista Octávio Ribeiro ( que no CM é director-geral editorial).
A revista tem hoje uma capa que é um mimo de manipulação ideológica. Esta:
O título da capa sugere que Salazar era um corrupto que até tinha uma "rede" de corrupção.
O artigo interior desmente a alusão subvertida, capciosa e manhosa. Intencional, está bom de ver.
O editorial opinativo do responsável pela manobra, Nuno Tiago Pinto diz que o repórter Marco Alves ( um coitado que deve ter penado para entender o contexto do que viu e mesmo assim passou ao lado) fotografou cartas no arquivo da correspondência particular de Salazar e depois analisou "ao detalhe, mais tarde", reunindo 8 751 imagens. Vai dar um livro? Esperemos que sim.
O artigo do tal Marco começa assim, com a citação de uma carta dirigida a Salazar por uma mãe preocupada com o filho rebelde, em 1960:
O pai do rebento em idade de estudar na universidade, era engenheiro de "Urbanização de Vila Real" ( seja lá isso o que for, deve ser emprego de Câmara ou afim) e tinha mais sete filhos, dos 5 aos 20 anos. O mais velho estava no Porto a estudar para médico. Os dois a seguir já andavam no liceu e prestes a entrar na universidade, dali a meses.
A mãe resolveu escrever a Salazar para lhe pedir ajuda principalmente para um deles que não iria estudar se fosse com o irmão para o Porto porque "não tinham feitio sossegado". Solução requerida? A colocação do marido num emprego no Porto, por conta de algum organismo do Estado. O nome do marido era Manuel da Costa Pinto Barreto e o do tal filho António Barreto, com 17 anos e presumivelmente já comunista. Depois mudou, quando esteve em Genebra a estudar sociologia que lhe permitiu depois ser ministro contra o comunismo do PCP.
O artigo diz que o caso andou nos ministérios e já lá conheciam o assunto, mas nada feito: não havia vagas.
Este é o primeiro caso apresentado. Só este caso deveria ter chegado para o pobre jornalista pensar no que iria fazer. Raciocinar e não fazer como os cágados, arrastar-se nas ignomínias de insinuação que culminam num título obsceno.
E obsceno porquê? Por várias razões, mas poderia ser logo por esta:
A carta com fac-simile mostra no frontespício, claramente o seguinte escrito: "Ao Ministério das Obras Públicas" com data de 18.VI.1960 ( mais rápida do que hoje...com a miséria de CTT que há) e a letra só pode ser do próprio Salazar.
A carta, tal como as demais que são citadas no artigo, não foi para o lixo nem foi desprezada. Deu entrada na Presidência do Conselho e no tal ministério e foi classificada. Guardou-se e foi para arquivo e por isso pode ser consultada e "analisada" por estes amanuenses do jornalismo caseiro que se pôem a fazer de sociólogos, psicólogos, historiadores e etnólogos. Enfim.
As várias cartas, centenas ou milhares, aparentemente enviadas por pessoas anónimas e não só ( há referências a "condes" e pessoas ilustres) são claras nos propósitos de pedir ajuda em empregos e colocações.
Resta saber se Salazar deu ordens pessoalmente para ajudar este ou aquele, com base nestes pedidos. Poderá ter dado, mas o que resulta do título da capa e da ignomínia da citação do sobrinho de um antigo ministro de Salazar que deveria saber melhor ( Fernando Rosas) é que o "Estado Novo era uma pirâmide de cunhas de que Salazar era o topo".
Por seu turno Jaime Nogueira Pinto acha que "Salazar não tinha grande receptividade para aceder a cunhas":
Um deles está profundamente errado. Vejamos então quem poderá ser:
Salazar já foi retratado há muitos anos por pessoas afectas ao regime de então e numa revista- Resistência, de Julho/Agosto de 1977- era assim mostrada uma faceta que poderá ajudar a compreender o regime e a figura de Salazar, num contexto diverso do que normalmente é apresentado por este jornalismo corrente e muito menos por tais salafrários ideológicos:
Não parece consentâneo com qualquer imagem de seriedade que é reconhecida a Salazar por todos, com excepção dos salafrários de sempre, atitudes como a que a capa da Sábado insinua sem pudor e para vender papel.
Porém, há um facto que poderá acrescentar-se: quando Salazar morreu e foram verificar o que tinha de seu, o pecúlio era relativamente modesto. Não tinha quadros que lhe foram oferecidos e que valiam milhares e milhares; não deixou fundações com dinheiro dos outros; não deixou casas em vários sítios espalhadas pelo país; não deixou bens que se assemelhassem ao que outros vindouros deixaram depois de chegaram ao poder quase com uma mão atrás e outra à frente, de pinderiquice financeira.
E no entanto vemos os cágados a voarem. Por exemplo, seria impossível no tempo de Salazar acontecer isto que foi notícia no mesmo Correio da Manhã que tem como director-geral editorial aquele Octávio da "outra banda". Repare-se que desapareceram documentos que ajudariam a esclarecer o que se passou nas negociações do Governo com empresários e entidades que representavam milhares de milhões de euros. Desapareceram e é preciso suspeitar das razões para tal.
Salazar guardava até as cartas em que lhe pediam favores. Estes nem sequer documentos com aquela importância guardaram. Tirem-se as ilações.
E quanto a cunhas no poder não consta que Salazar tenha feito algo parecido com isto que vem no CM de hoje:
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