Depois, perseguiu o rapaz que, cansado da tortura de quase todos os dias, ameaçou lançar-se da ponte, ali a dois passos. Perseguiu-o, impediu-o. Por fim, imitou-lhe os passos, degrau a degrau, até à margem do rio Tua. O primeiro estava decidido a morrer: despiu-se, atirou-se. O segundo estava decidido a salvá-lo: despiu-se, atirou-se.
Leandro morreu - é a primeira vítima mortal de bullying em Portugal; Christian agarrou-se a uma pedra para sobreviver. Antes, arriscou a vida a dobrar: digestão em curso em água gelada. Eram 13.40 horas. Ontem não foi à escola. Os pesadelos atrasaram-lhe o sono. Acordou cansado, alheado, emudecido. Leandro não é caso único. Ele também já foi agredido.
Ontem, na escola em causa, as tv´s entrevistaram o presidente da "comissão de pais" que muito naturalmente explicou que ninguém tinha comunicado uma situação daquelas e nunca ouvira falar naquilo e mostrou-se até surpreendido pelo que sucedeu. A "escola", ou seja, o conselho executivo nada tinha dizer porque o que poderia ter acontecido "foi fora dos muros e portões da escola".
O assunto grave, como agora se pode ler e descoberto facilmente por jornalistas que nada tinham ver com o local o meio e a escola em questão, foi simplesmente ignorado pela escola, pelas comissão de pais, pela comissão de protecção de crianças e jovens local, pela polícia de proximidade e pela polícia que presta auxílio às crianças a passaram em segurança nas passadeiras com semáforos e até têm carros dedicados a essa vigilância específica. Ninguém, nenhuma das pessoas que fazem parte dessas entidades encarregadas especificamente pela "educação" dos nossos filhos, soube de nada.
Isso apesar de meses antes, o mesmo miúdo que agora alertou toda a gente para a gravidade da sua situação, da forma mais sonora e audível que pode haver, ter sido vítima dos mesmos procedimentos que a escrita oficial chama de "bullying", como se o fenómeno da violência sobre menores praticada por outros menores fosse coisa estranha e estrangeira que só se descobriu há pouco tempo para colocar em leis tutelares e discursos oficiais que não conhecem a tradução para português do fenómeno.
Em Portugal, neste momento, não faltam leis para tratar este assunto: lei tutelar educativa, lei de protecção de crianças e jovens, até mesmo o código penal para os maiores de 16 anos e entidades também não faltam. Em Portugal, neste aspecto tudo se institucionalizou por obra e graça de alguns iluminados do ISCTE.Depois acontecem estas coisas em que nenhuma daquelas instituições soube de nada, resolveu nada e continua sem perceber. Porque nenhuma delas se sentiu responsável directamente de coisa alguma. Por uma razão burocrática intransponível: não tomaram conhecimento através de papéis. È tão simples como isto. A situação não foi "sinalizada" na linguagem de pau desta gente.
Então, mais uma vez, escrevo aqui: fechem o ISCTE , ou seja, a mentalidade ISCTE e mudem as leis que produziram. Não servem para nada. E antes havia leis que funcionavam melhor, por uma razão simples e que não entendem: responsabilizavam directa e moralmente quem se deveria sentir implicado no "projecto educativo" e na "segurança escolar". E não desviavam a atenção para o formalismo e a responsabilidade feita comissão com poderes burocráticos.
Para mim, a degenerescência que levou a este suicídio de uma criança, reside aí, simplesmente.
2 comentários:
Um dia a minha filha não queria ir à escola.A custo lá contou que um africano a perseguia.Leveia-a e esperei à entrada para falar com o dito cujo.Avisando o gajo para se deixar de aventuras que eu era ainda mais grande.A coisa piorou.Felizmente a cara metade cheia de estratégias do meio lá foi falar com o africano e a rapariga deixou de ser chateada e até ganhou segurança.Tudo à revelia das estruturas escolares claro.
Mas lembro-me do meu tempo de liceu que havia sempre um funcionário no recreio a impôr a ordem.Com puxões de orelhas e tudo.Coisa mais grave ficava-se sem a bola ou até se ia ao reitor...
De facto estes gajos complicaram tudo mas nada resolvem...
Um excelente postal este, caro José.
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