Vale a pena ler ( e comentar) a entrevista de Lopes Barreira. arguido no Face Oculta, ao DN, num trabalho meritório de jornalismo que já publicou uma outra entrevista com Manuel Godinho, outro dos arguidos no Face Oculta.
Lopes Barreira é um empresário que manda na Consugal e segundo o jornal é um "facilitador de contactos" e considera-se um "homem de centro-esquerda". Um PS, portanto.
Na entrevista, à semelhança do referido Godinho, não se dá por achado em coisa nenhuma de corrupção ou tráfico de influência ou qualquer tipo de crime que exceda a ética republicana. Que como todos sabem, é equivalente à lei.
Segue a entrevista e os comentários, a proposito.
DN- Há quanto tempo conhece Armando Vara, ex-administrador do BCP?
Lopes Barreira- O dr. Armando Vara é uma pessoa de quem eu sou muito amigo há para aí 20 anos. É da minha região, Trás-os-Montes, e considero-o seríssimo, bem formado e amigo do seu amigo. Nunca lhe pedi favores, nem nunca me servi dele. Por isso temos mantido esta amizade há muitos anos. Mas sei que, se precisasse dele, certamente, me ajudaria, tal como eu o faria com ele.
Comentário: quase apostava em como o conhecimento com A. Vara ocorreu após 1995. Vara foi um dos protestantes da ponte contra o Cavaco. Tinha na altura um carrito utilitário, tipo Fiat ou Opel Kadett...depois disso foi só subir a escada do sucesso, com a Sovenco, o cargo governamental, a fundação e a travessia de um deserto mais pequeno que a faixa de areia da praia mais próxima. Daí até à administração da Caixa e do BCP foi um saltinho sem qualquer vara, mas com o apoio que se sabe e talvez mais se venha a saber.
Portanto, um indivíduo seriíssimo, incapaz de dizer uma mentirola, bem formado e incapaz de dizer não aos amigos por altruismo puro, como o demonstram as escutas malditas publicadas pelo Sol, mas existentes no processo de Aveiro.
DN-E Manuel Godinho, o dono da O2, agora detido na sequência do processo "Face Oculta," quando o conheceu?
LB- Cruzámo-nos há uns anos num pequeno trabalho na Expo '98. Ele tinha uma pequena empresa de construção civil e a minha é de fiscalização e estávamos juntos num trabalho. É um homem muito agradável e respeitador. Mais tarde, ele foi ao meu escritório. Sabe que estes contactos entre empresários são fundamentais, porque sem isso não arranjamos trabalhos. A partir daí ele contactava-me, de vez em quando, para ver se eu lhe arranjava trabalho. Temos de contactar as empresas, porque não são os clientes que se aproximam de nós, somos nós que nos aproximamos deles. Interessei-me por o ajudar mas nunca o consegui.
Comentário- 1998. Anos guterreanos. Um cruzamento fortuito, sem dúvida. Uma pequena empresa de sucata e um fiscalizador de sucateiros. Juntaram-se por acaso na sucatice e nasceu uma parceria de amizade. Depois da Expo, que foi o sucesso empresarial que se conhece, sem espinhas e sem ponta de corrupção à vista, o tapete estava estendido e Godinho tornou-se uma amizade de negócios.
DN-Se nunca ajudou Manuel Godinho, como explica as conversas que teve com ele ao telefonem, transcritas nas escutas, sobre o que estavam a tentar fazer a Refer?
LB- Eu não compreendi, nem compreendo, porque fui envolvido no "Face Oculta", não há nenhum facto objectivo que justifique isto. Conheço o senhor Godinho e foi sempre agradável. Ainda no Verão passado eu estive internado no hospital, com uma doença gravíssima, e ele interessou-se permanentemente pelo meu estado de saúde. E, quando eu fiquei melhor, até me quis oferecer um almoço em sua casa, em Ovar, no sentido de comemorarmos o meu restabelecimento, e eu fui para lá de boleia com o dr. Armando Vara, que ia para a terra de carro, e para cá vim de comboio. Um almoço referido no processo. Agora, sabe que as escutas são sigilosas. E violar esse sigilo é crime. Além disso, as escutas foram desvirtuadas. Apesar das escutas, a minha vida não mudou nada. Os meus amigos são os mesmos e uso o mesmo telefone. E mesmo quando alguém me disse que estava sob escuta, ainda antes de a polícia cá vir a casa, mantive a mesma vida e o mesmo número de telefone, porque não tenho nada de mal para esconder.
Comentário- Aqui está a cabala. Não sabe no que se meteu e acha que tudo isto é um atentado ao bom nome. "Além disso as escutas estão desvirtuadas". Estão? Como isso? Depois do dia 25 de Junho de 2009, altura em que alguns suspeitos tomaram conhecimento de que estavam a ser escutados?
E, claro, "a violação desse sigilo é crime". E Lopes Barreira não é um criminoso que viole segredos de justiça, mesmo que um catedrático de direito penal tenha já dito publicamente que não era crime algum punível e mesmo que as conversas que o envolvem, possam ser livremente confirmadas pelo próprio, único interessado no assunto concreto.
E usa o mesmo telefone. Mas não explicou se apenas tem esse telefone.
DN-Mas nas conversas escutadas entre si e Manuel Godinho a dada altura refere que poderia falar com Mário Lino. Falou ou não com o então ministro das Obras Públicas para que este pressionasse a saída de Ana Paula Vitorino do cargo de secretária de Estado dos Transportes e de Luís Pardal da presidência da Refer?
LB-Olhe, eu sou amigo do Mário Lino desde os tempos de estudantes. Mas as minhas conversas com ele são sobre batatas com bacalhau, alheiras e um belo copo de vinho tinto. Ele quando deixou de ser ministro até me disse que eu nunca lhe tinha pedido nada enquanto foi governante. Ganhei um concurso na ANA, com a Consulgal, um das empresas mais especializadas em aeroportos, e ele disse que seria melhor não atribuir o negócio à Consulgal porque senão depois começavam a falar que éramos amigos. Por isso, até fui prejudicado.
Comentário- Amigos dos amigos amigos são. Alheiras e vivo tinto. Porreiraços, pá! E por isso mesmo, o amigo até lhe disse que o melhor seria a Consulgal não ganhar nada, por via das coisas. Mesmo que tivesse o caderno de encargos melhor, a proposta melhor e fundamentalmente transparente? Isso, Lopes Barreira não disse. E podia dizer, para todos perceberem o mundo dos negócios com o Estado, as contrapartidas para partidos ou outros pessoas singulares e o modo como se afastam empresas porque "dá mau aspecto", quase a dizer que o aspecto é mesmo esse.
DN-O que tinha contra a Ana Paula Vitorino?
LB-Nada. Eu era e sou muito amigo da Ana Paula Vitorino, que conheço há muito anos por motivos profissionais. Mas há um indivíduo, administrador da RAVE, que tentou pôr areia na nossa engrenagem. E que levanta os problemas todos. Por isso, a RAVE deve-me 2,5 milhões de euros há quatro anos e ainda não me pagou. É natural que eu esteja chateado e tenha criticado a Refer e a RAVE.
Comentário: "areia na engrenagem". Que engrenagem? A dos amigos que afinal não se favorecem e até prejudicam? A dos negócios com empresas do Estado em modo cuja transperência é a de pessoas com a face oculta? E o que será a areia? As dificuldades da lei? Dos regulamentos? Dos contratos que sendo transparentese, não podem cumprir-se?
E a dívida da RAVE deriva de que contrato, feito por quem e de que modo?
DN-Esse gestor é o dr. Luís Pardal?
LB-Não. Mas não vou dizer quem era. Cheguei a almoçar várias vezes com a Ana Paula Vitorino. Sabe que nós temos de falar com os donos de obras, até para saber como estão a correr os trabalhos, mas não para lhe pedir nada. E a receptividade da dr.ª Ana Paula Vitorino para resolver o problema da dívida foi sempre boa, de quem não houve vontade foi do tal gestor. À secretária de Estado até lhe disse antes das eleições: "Ó Ana Paula, mantenha-se no seu lugar, porque a sua saída seria mau para nós, porque já conhece o sector." Agora, quando o Godinho me diz ao telefone "olhe soube que eles vão sair todos", é natural que eu tenha respondido "olhe está bem".
Comentário: "Olha que bem"! Calhou mesmo como sopa no mel. Que sorte! E as escutas não se podem ouvir porque são crime e não se deve comparticipar nestes crimes hediondos.
DN-Usa os seus contactos para "ajudar" amigos?
LB-Ah! Eu procuro sempre ajudar os meus amigos. É a minha forma de estar na vida. Se falar com os meus clientes, eles dizem-lhe que estou sempre disponível para ajudar, mas nunca com contrapartidas ou a troco de dinheiro. Para mim não peço nada.
Comentário: Os amigos sempre em primeiro lugar. Para os amigos tudo. Para os outros a...ética! O pior são os que não têm amigos e têm a lei para cumprir. Com a ética às costas largas do mercado exíguo.
DN-E isso também significa utilizar os seus contactos para isso?
LB-Sim, para ajudar os outros. Ao Vara a única coisa que lhe pedi foi para ele falar com a ministra da Saúde para se tentar instalar uma unidade de cuidados paliativos em Vimioso. Mas também faço outro tipo de pedidos a outros amigos. Imagine que há um amigo que vai lançar uma obra e me diz "não sei como vai ser isto". Se ele merecer confiança e for honesto, sou capaz de chegar ao pé do dono da obra e dizer-lhe "olhe, veja lá que este homem é sério".
Comentário: Vara foi ministo? E tem poder de influência sobre a ministra da Saúde? Para uma unidade de cuidados paliativos? isso é uma obra de benemerência! Uma medalha para o senhor Barreira.
DN-A isso não chama tráfico de influências?
LB-Não. Tráfico de influências é arranjar uma estratégia comercial, envolvendo dinheiro e contrapartidas. Por isso disse ao juiz, se ajudar alguém é tráfico de influência, eu faço-o todos os dias.
Comentário- Confessou-o, pelo menos. Ainda que sem consciência da ilicitude da sua conduta habitual. Segundo o Código Penal, a pena é de prisão, até seis meses, se o fim for lícito. Se ilícito, a coisa passa para os cinco anos de prisão no seu máximo, mas com redução, na prática, para uma pena suspensa. A não ser que se integre como corrupção, porque a diferença é de vulto e de entendimento jurídico e ético.
Ou seja, compreende-se perfeitamente que isto seja entendido tal como se entende um excesso de velocidade ou uma condução sem carta. Este tipo de pessoas, habituou-se mal a essa ética e a lei não acompanhou essa anomia, mas protege-a generosamente, porque são poucos os condenados e publicamente mostrados como corruptos morais.
O erro sobre a ilicitude, esse é que será mais difícil porque a lei exige igualmente a falta de consciência dessa ilicitude como não censurável.
E aqui é que bate todo o ponto da entrevista.
O senhor Lopes Barreira mais o senhor Godinho e ainda mais o senhor Vara não têm qualquer consciência individualizada e publicamente assumida dos actos que notoriamente praticaram conforma as escutas o comprovam.
Não tem vergonha alguma do que fizeram e têm a noção de que nada de mal praticaram porque foi sempre assim que agiram.
Tal como eles, assim um Isaltino de Morais acha que nada lhe deve ser imputável a títulod e conduta criminalmente punível.
E Isaltino até foi magistrado do MP...o que diz muito sobre a ética republicana em confronto com a lei.
Assim, percebe-se perfeitamente a explicação que o senhor Barreira dá para os factos conhecidos:
DN-Mas acabou por ser acusado de tráfico de influências...
LB- Sim, mas por causa de uma conversa que tive com um amigo, Manuel Rodrigues, ligado à reparação naval, com uma empresa que presta serviços para os Estaleiros de Viana do Castelo. Um dia, ele estava a almoçar com o Manuel Godinho e ligou--me a dizer com quem estava. E eu disse-lhe: "Ó Manel, arranje lá trabalho a esse homem que ele é boa pessoa." Isto é tráfico de influências?
Manuel Rodrigues ninguém conhece. Mas devia conhecer porque é outros destes grandes amigos da fraternidade na face oculta desta democracia.
Lopes Barreira é um empresário que manda na Consugal e segundo o jornal é um "facilitador de contactos" e considera-se um "homem de centro-esquerda". Um PS, portanto.
Na entrevista, à semelhança do referido Godinho, não se dá por achado em coisa nenhuma de corrupção ou tráfico de influência ou qualquer tipo de crime que exceda a ética republicana. Que como todos sabem, é equivalente à lei.
Segue a entrevista e os comentários, a proposito.
DN- Há quanto tempo conhece Armando Vara, ex-administrador do BCP?
Lopes Barreira- O dr. Armando Vara é uma pessoa de quem eu sou muito amigo há para aí 20 anos. É da minha região, Trás-os-Montes, e considero-o seríssimo, bem formado e amigo do seu amigo. Nunca lhe pedi favores, nem nunca me servi dele. Por isso temos mantido esta amizade há muitos anos. Mas sei que, se precisasse dele, certamente, me ajudaria, tal como eu o faria com ele.
Comentário: quase apostava em como o conhecimento com A. Vara ocorreu após 1995. Vara foi um dos protestantes da ponte contra o Cavaco. Tinha na altura um carrito utilitário, tipo Fiat ou Opel Kadett...depois disso foi só subir a escada do sucesso, com a Sovenco, o cargo governamental, a fundação e a travessia de um deserto mais pequeno que a faixa de areia da praia mais próxima. Daí até à administração da Caixa e do BCP foi um saltinho sem qualquer vara, mas com o apoio que se sabe e talvez mais se venha a saber.
Portanto, um indivíduo seriíssimo, incapaz de dizer uma mentirola, bem formado e incapaz de dizer não aos amigos por altruismo puro, como o demonstram as escutas malditas publicadas pelo Sol, mas existentes no processo de Aveiro.
DN-E Manuel Godinho, o dono da O2, agora detido na sequência do processo "Face Oculta," quando o conheceu?
LB- Cruzámo-nos há uns anos num pequeno trabalho na Expo '98. Ele tinha uma pequena empresa de construção civil e a minha é de fiscalização e estávamos juntos num trabalho. É um homem muito agradável e respeitador. Mais tarde, ele foi ao meu escritório. Sabe que estes contactos entre empresários são fundamentais, porque sem isso não arranjamos trabalhos. A partir daí ele contactava-me, de vez em quando, para ver se eu lhe arranjava trabalho. Temos de contactar as empresas, porque não são os clientes que se aproximam de nós, somos nós que nos aproximamos deles. Interessei-me por o ajudar mas nunca o consegui.
Comentário- 1998. Anos guterreanos. Um cruzamento fortuito, sem dúvida. Uma pequena empresa de sucata e um fiscalizador de sucateiros. Juntaram-se por acaso na sucatice e nasceu uma parceria de amizade. Depois da Expo, que foi o sucesso empresarial que se conhece, sem espinhas e sem ponta de corrupção à vista, o tapete estava estendido e Godinho tornou-se uma amizade de negócios.
DN-Se nunca ajudou Manuel Godinho, como explica as conversas que teve com ele ao telefonem, transcritas nas escutas, sobre o que estavam a tentar fazer a Refer?
LB- Eu não compreendi, nem compreendo, porque fui envolvido no "Face Oculta", não há nenhum facto objectivo que justifique isto. Conheço o senhor Godinho e foi sempre agradável. Ainda no Verão passado eu estive internado no hospital, com uma doença gravíssima, e ele interessou-se permanentemente pelo meu estado de saúde. E, quando eu fiquei melhor, até me quis oferecer um almoço em sua casa, em Ovar, no sentido de comemorarmos o meu restabelecimento, e eu fui para lá de boleia com o dr. Armando Vara, que ia para a terra de carro, e para cá vim de comboio. Um almoço referido no processo. Agora, sabe que as escutas são sigilosas. E violar esse sigilo é crime. Além disso, as escutas foram desvirtuadas. Apesar das escutas, a minha vida não mudou nada. Os meus amigos são os mesmos e uso o mesmo telefone. E mesmo quando alguém me disse que estava sob escuta, ainda antes de a polícia cá vir a casa, mantive a mesma vida e o mesmo número de telefone, porque não tenho nada de mal para esconder.
Comentário- Aqui está a cabala. Não sabe no que se meteu e acha que tudo isto é um atentado ao bom nome. "Além disso as escutas estão desvirtuadas". Estão? Como isso? Depois do dia 25 de Junho de 2009, altura em que alguns suspeitos tomaram conhecimento de que estavam a ser escutados?
E, claro, "a violação desse sigilo é crime". E Lopes Barreira não é um criminoso que viole segredos de justiça, mesmo que um catedrático de direito penal tenha já dito publicamente que não era crime algum punível e mesmo que as conversas que o envolvem, possam ser livremente confirmadas pelo próprio, único interessado no assunto concreto.
E usa o mesmo telefone. Mas não explicou se apenas tem esse telefone.
DN-Mas nas conversas escutadas entre si e Manuel Godinho a dada altura refere que poderia falar com Mário Lino. Falou ou não com o então ministro das Obras Públicas para que este pressionasse a saída de Ana Paula Vitorino do cargo de secretária de Estado dos Transportes e de Luís Pardal da presidência da Refer?
LB-Olhe, eu sou amigo do Mário Lino desde os tempos de estudantes. Mas as minhas conversas com ele são sobre batatas com bacalhau, alheiras e um belo copo de vinho tinto. Ele quando deixou de ser ministro até me disse que eu nunca lhe tinha pedido nada enquanto foi governante. Ganhei um concurso na ANA, com a Consulgal, um das empresas mais especializadas em aeroportos, e ele disse que seria melhor não atribuir o negócio à Consulgal porque senão depois começavam a falar que éramos amigos. Por isso, até fui prejudicado.
Comentário- Amigos dos amigos amigos são. Alheiras e vivo tinto. Porreiraços, pá! E por isso mesmo, o amigo até lhe disse que o melhor seria a Consulgal não ganhar nada, por via das coisas. Mesmo que tivesse o caderno de encargos melhor, a proposta melhor e fundamentalmente transparente? Isso, Lopes Barreira não disse. E podia dizer, para todos perceberem o mundo dos negócios com o Estado, as contrapartidas para partidos ou outros pessoas singulares e o modo como se afastam empresas porque "dá mau aspecto", quase a dizer que o aspecto é mesmo esse.
DN-O que tinha contra a Ana Paula Vitorino?
LB-Nada. Eu era e sou muito amigo da Ana Paula Vitorino, que conheço há muito anos por motivos profissionais. Mas há um indivíduo, administrador da RAVE, que tentou pôr areia na nossa engrenagem. E que levanta os problemas todos. Por isso, a RAVE deve-me 2,5 milhões de euros há quatro anos e ainda não me pagou. É natural que eu esteja chateado e tenha criticado a Refer e a RAVE.
Comentário: "areia na engrenagem". Que engrenagem? A dos amigos que afinal não se favorecem e até prejudicam? A dos negócios com empresas do Estado em modo cuja transperência é a de pessoas com a face oculta? E o que será a areia? As dificuldades da lei? Dos regulamentos? Dos contratos que sendo transparentese, não podem cumprir-se?
E a dívida da RAVE deriva de que contrato, feito por quem e de que modo?
DN-Esse gestor é o dr. Luís Pardal?
LB-Não. Mas não vou dizer quem era. Cheguei a almoçar várias vezes com a Ana Paula Vitorino. Sabe que nós temos de falar com os donos de obras, até para saber como estão a correr os trabalhos, mas não para lhe pedir nada. E a receptividade da dr.ª Ana Paula Vitorino para resolver o problema da dívida foi sempre boa, de quem não houve vontade foi do tal gestor. À secretária de Estado até lhe disse antes das eleições: "Ó Ana Paula, mantenha-se no seu lugar, porque a sua saída seria mau para nós, porque já conhece o sector." Agora, quando o Godinho me diz ao telefone "olhe soube que eles vão sair todos", é natural que eu tenha respondido "olhe está bem".
Comentário: "Olha que bem"! Calhou mesmo como sopa no mel. Que sorte! E as escutas não se podem ouvir porque são crime e não se deve comparticipar nestes crimes hediondos.
DN-Usa os seus contactos para "ajudar" amigos?
LB-Ah! Eu procuro sempre ajudar os meus amigos. É a minha forma de estar na vida. Se falar com os meus clientes, eles dizem-lhe que estou sempre disponível para ajudar, mas nunca com contrapartidas ou a troco de dinheiro. Para mim não peço nada.
Comentário: Os amigos sempre em primeiro lugar. Para os amigos tudo. Para os outros a...ética! O pior são os que não têm amigos e têm a lei para cumprir. Com a ética às costas largas do mercado exíguo.
DN-E isso também significa utilizar os seus contactos para isso?
LB-Sim, para ajudar os outros. Ao Vara a única coisa que lhe pedi foi para ele falar com a ministra da Saúde para se tentar instalar uma unidade de cuidados paliativos em Vimioso. Mas também faço outro tipo de pedidos a outros amigos. Imagine que há um amigo que vai lançar uma obra e me diz "não sei como vai ser isto". Se ele merecer confiança e for honesto, sou capaz de chegar ao pé do dono da obra e dizer-lhe "olhe, veja lá que este homem é sério".
Comentário: Vara foi ministo? E tem poder de influência sobre a ministra da Saúde? Para uma unidade de cuidados paliativos? isso é uma obra de benemerência! Uma medalha para o senhor Barreira.
DN-A isso não chama tráfico de influências?
LB-Não. Tráfico de influências é arranjar uma estratégia comercial, envolvendo dinheiro e contrapartidas. Por isso disse ao juiz, se ajudar alguém é tráfico de influência, eu faço-o todos os dias.
Comentário- Confessou-o, pelo menos. Ainda que sem consciência da ilicitude da sua conduta habitual. Segundo o Código Penal, a pena é de prisão, até seis meses, se o fim for lícito. Se ilícito, a coisa passa para os cinco anos de prisão no seu máximo, mas com redução, na prática, para uma pena suspensa. A não ser que se integre como corrupção, porque a diferença é de vulto e de entendimento jurídico e ético.
Ou seja, compreende-se perfeitamente que isto seja entendido tal como se entende um excesso de velocidade ou uma condução sem carta. Este tipo de pessoas, habituou-se mal a essa ética e a lei não acompanhou essa anomia, mas protege-a generosamente, porque são poucos os condenados e publicamente mostrados como corruptos morais.
O erro sobre a ilicitude, esse é que será mais difícil porque a lei exige igualmente a falta de consciência dessa ilicitude como não censurável.
E aqui é que bate todo o ponto da entrevista.
O senhor Lopes Barreira mais o senhor Godinho e ainda mais o senhor Vara não têm qualquer consciência individualizada e publicamente assumida dos actos que notoriamente praticaram conforma as escutas o comprovam.
Não tem vergonha alguma do que fizeram e têm a noção de que nada de mal praticaram porque foi sempre assim que agiram.
Tal como eles, assim um Isaltino de Morais acha que nada lhe deve ser imputável a títulod e conduta criminalmente punível.
E Isaltino até foi magistrado do MP...o que diz muito sobre a ética republicana em confronto com a lei.
Assim, percebe-se perfeitamente a explicação que o senhor Barreira dá para os factos conhecidos:
DN-Mas acabou por ser acusado de tráfico de influências...
LB- Sim, mas por causa de uma conversa que tive com um amigo, Manuel Rodrigues, ligado à reparação naval, com uma empresa que presta serviços para os Estaleiros de Viana do Castelo. Um dia, ele estava a almoçar com o Manuel Godinho e ligou--me a dizer com quem estava. E eu disse-lhe: "Ó Manel, arranje lá trabalho a esse homem que ele é boa pessoa." Isto é tráfico de influências?
Manuel Rodrigues ninguém conhece. Mas devia conhecer porque é outros destes grandes amigos da fraternidade na face oculta desta democracia.
6 comentários:
Foi pena o jornalista não ter pedido mais pormenores sobre aquela curiosa confissão "E mesmo quando alguém me disse que estava sob escuta, ainda antes de a polícia cá vir a casa...". Ah sim??? Então "alguém" lhe disse? E foi antes "de a polícia [lá] ir a casa"? Conte mais, conte mais...
LOOOLLLLLL
Santiago, bem visto uma pessoa tem que se rir,para não chorar!
Num Pais civilizado, já estava dentro.
isto é pior que o zimbabué
para ele é bué de bom
isto é dmais.. E a policia ainda nao lhe foi perguntar quem o avisou q tava sob escuta?
É q pela expressao dele, pareceme dificil e pouco credivel q dps diga AH NAO M LEMBRO
As palavras usadas, mesmo q p descuido, sao reveladoras. .
Mas enfim.. Nada disto é novidad..godinho, penedos, na zona d coimbra aos anos q sao conhecidissimos.. Gente sempre disponivel
"que exceda a ética republicana"
Alguém devia discorrer seriamente sobre a "ética republicana". Conceito de limites dispersos. Vale a pena, a propósito desta questão da ética, ver a reportagem gravada do jornal das 9 da SICN de 17/3, da entrevista a Bagão Félix. Ele falou de ética, com autoridade!
Vi essa entrevista que considero notável pelo desassombro do que Bagão disse.
Tinha de Bagão uma ideia pouco favorável que aos poucos se vai desfazendo.
Falou em decência e que Portugal precisa mais disso do que de outra coisa. Simples decência.
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