sexta-feira, novembro 25, 2011

O último a saber

R.R.:

O secretário de Estado da Justiça, Fernando Santo, manifesta preocupação com as sucessivas fugas de informação e critica o julgamento mediático das pessoas, que muitas vezes são as últimas a saber que estão envolvidas no processo.

“Até como cidadão, sempre me interroguei como é que matérias que são reservadas e que são da esfera da Procuradoria e daqueles que estão envolvidos nestes casos, são depois utilizadas de forma mediática”, afirma à Renascença.

Fernando Santo diz “compreender” que os órgãos de comunicação “vivam muito da mediatização de todos os casos e que com alguns julgamentos até antecipados àquilo que é o verdadeiro julgamento”, mas “criou-se um certo círculo”.

“O que julgo que não pode suceder é haver este tipo de fuga de informações que faz com que a pessoa que está envolvida seja a última a saber”, sublinha.

Este tipo de declarações de quem exerce poder político, insinuando comportamentos ilícitos a quem deveria colocar sempre a lei em primeira linha de actuação, tem obviamente um efeito deletério e por isso mesmo são graves.
Quem tem o dever de guardar segredo de justiça são aqueles a quem os segredos foram confiados profissional e institucionalmente: os magistrados, os funcionários, os advogados e os polícias. Todos os que lidam directamente com informação em segredo de justiça devem preservar esse sigilo por um motivo singular, principalmente: para que a investigação seja profícua.
Não é obviamente a preocupação de todos estes preocupados que se estão inteiramente nas tintas para esse efeito e até o entenderiam como útil, em muitos casos. Veja-se por exemplo o caso do Face Oculta, cuja violação de segredo foi provavelmente a mais grave de todas as que porventura já ocorreram na justiça portuguesa e que não suscitou um reacção sequer destes preocupados habituais. Não é isso que os perturba. A única coisa que os incomoda é que se saiba publicamente qualquer coisa que afecte os que pertencem ao grupo social onde vicejam. As violações sistemáticas relativamente a crimes comuns, de faca e alguidar ou de bomba em caixa de multibanco nunca, mas mesmo nunca os preocuparam minimamente. Antes pelo contrário.

Portanto, para estes preocupados habituais- e ainda faltam os do costume porque ainda não apareceram os maquiavéis à moda do Minho e outros que tais- o que importa acima de tudo é preservar o segredo que esconde malfeitorias da classe a que pertencem. O resto que se dane.

Pois por isso mesmo, por causa desta hipocrisia permanente como modo de vida constante, o que é que se terá passado no caso concreto que tão aflige os preocupados, ou seja, o do pobre Duarte Lima?

Pois...as tv´s rádios e media em geral estavam em peso na porta do buscado antes da diligência se realizar e à espera dela. "uma vergonha", comentou o principal responsável pela guarda do segredo de justiça, enquanto titular principal do MºPº. Uma vergonha que evidentemente sacode do capote beirão.
Porém ou não se informou ou não lhe ocorreu que o assunto tem mais de prosaico que de vergonhoso.
À porta da casa do buscado Lima estavam acampados há vários dias e noites, os catadores de novidades mediáticas, os novos-jornalistas que foram industriados na escola tipo Judite de Sousa de que é notícia apanhar em flagrante, a cara e quiçá a caramunha balbuciante de um suspeito ou arguido mediático.
Duarte Lima, por causa do outro caso muito mais grave e que aconteceu no Brasil, era de há vários dias à parte da busca domiciliária, a presa ideal para este tipo de jornalismo para quem é, bacalhau basta. Um jornalismo com laivos evidentemente murdochianos e que envergonha a função de informar com rigor, objectividade e maturidade. Um jornalismo que busca mostrar a cara do suspeito sem perscrutar sequer de que será suspeito verdadeiramente.
É evidentemente o jornalismo de escândalo, de feira mediática, de superficialidade informativa e de grande pouca-vergonha. Um jornalismo herdeiro directo dos "realitys shows", dos programas de tv tipo ratinho brasileiro ou de trash americanizado. É um jornalismo abaixo-de-cão que chega todo amarrafado aos écrans e completamente sintonizado com a leveza superficial do tempo que passa, de mediocridade assegurada nos noticiários de tv. É um jornalismo de loucos, de mentecaptos e é o que viceja actualmente nas redacções, pelos vistos.

E como assim é nem sequer lhes ocorre que a violação de segredo de justiça, à semelhança daqueloutra que o principal responsável pelo MºPº assegura que nunca existiu ( tal como o fassismo), também pode nem ter ocorrido.

É um facto que havia um circo mediático montado havia vários dias, junto do apartamento de Duarte Lima, na rua em frente à sede da CGD ( Visconde de Valmor). O circo mediático só esperava o momento único da saída da estrela deste circo: o suspeito. De carro, evidentemente, porque nem sequer lhe passaria pelo bestunto mais ousado, pôr os pés na calçada e apanhar com a chusma de repórteres de ocasião, mesmo que então nem sequer um deles tivesse lá a câmara de tv. Porque também esse facto escapou aos exegetas da exigência de segredo: as câmaras de tv só surgiram no momento da diligência, após e muito após os primeiros sinais de movimentação oficial junto da casa do suspeito. Escapou esse como escapou outro. Por exemplo, alguém soube de buscas realizadas antes disso?
O que significa uma coisa muito simples, lógica e que destrói a tal "vergonha" a que o PGR aludiu: não houve violação de segredo algum. Os vigilantes do suspeito, montados nas tendas, é que avisaram os carregadores de câmaras para virem com o pai natal e os palhaços ao circo...
E foi por isso que tudo ficou filmado porque a diligência de busca ocorreu depois disso. Como seria normal.
Há um facto que pode destruir esta teoria: o próprio suspeito saber que seria buscado. Mas é facto facilmente desmontado: basta que os investigadores saibam o que recolheram e poderiam não ter recolhido...

1 comentário:

Carlos disse...

Um velho ditado:

"Se todo o cornudo de Roma tivesse um lampião na ponta de um corno, Roma, seria a cidade mais iluminada do mundo".

A obscenidade do jornalismo televisivo