domingo, novembro 20, 2011

Uma conspiração tenebrosa

O jornal i de fim de semana arranjou outra notícia mais opinativa ainda que a do Público: "Fuga de informação de Duarte Lima arquitectada para fazer cair Pinto Monteiro".

Esta, nem lembrava ao diabo, mas como a realidade costuma ser mais estranha que a ficção, ainda seria possível avançar um pouco mais na conspiração: e se fosse o próprio a lançar a suspeita da intenção de queda? E se afinal tudo não passasse de uma especulação sobre a intenção do próprio? E se, de resto, nada disto tivesse o mínimo sentido lógico?
Vejamos: sendo consensual que houve uma violação grave de segredo de justiça, na medida em que consistiu no aviso prévio a potenciais interessados dos media, para montar o habitual circo à volta de um suspeito, quem teria sido o presumível autor da fuga?
Depende: quantas pessoas tiveram acesso ao teor dos mandados de busca? Muitas. Mesmo muitas, incluindo a Ordem dos Advogados. Nestes casos em que a Ordem é avisada previamente, sempre, mas mesmo sempre e coincidentemente, têm acontecido fugas de segredo. É coincidência, claro, mas as suspeitas são também coincidentes e imediatas.

Que sentido pode fazer uma notícia como a do i, apontando a interessados na queda abrupta de Pinto Monteiro, a autoria da quebra do segredo da operação? Nenhum, absolutamente nenhum. Pinto Monteiro não pode nem deve, neste caso e ao contrário de um ou outro em que interveio directamente, ser responsabilizado como testemunha de factos que presenciou ou sequer ouvido a propósito do assunto.
Então qual a natureza da notícia opinativa do i? Só uma: um serviço objectivo ao actual PGR.

Assim, vejamos melhor o assunto para sustentar a tese em causa: o caso Duarte Lima arrasta-se no DCIAP há vários anos e esteve por lá a marinar nas diligências policiais e judiciárias durante esse tempo que se acelerou inopinadamente com a acusação do suspeito, por homicídio. A pergunta óbvia, ululante, é esta: porque não se fizeram estas diligências há uns anos atrás, se os factos são conhecidos há muito e têm todos a ver com potencial branqueamento de capitais ( o que duvido muito que tenha acontecido) porque os restantes factos são incipientes para um tal aparato processual?
Qual é o sumo do assunto Duarte Lima? Um caso de empréstimo bancário, aparentemente com poucas garantias em atenção ao montante, para comprar terrenos cujo valor caiu por terra, deixando o comprador descalço nas garantias de rentabilidade. Crime, isto? Duvido, porque então teríamos a banca cheia de criminosos de delito comum.
Um caso transformado criminalmente em assunto de burla agravada, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Os factos permitem-no. Os indícios parece que sim. Veremos se no final, na altura de um eventual julgamento, com a lei que temos e que é o que é, tal se comprova. Tenho muitas, mas mesmo muitas dúvidas, só pelo que conheço dos jornais.
Afinal, o que deu o Furacão, um caso muito mais grave que este? Nada. Apenas receitas fiscais que o DCIAP aplaude sem se dar conta do desprestígio que tal representa para a investigação criminal
Isto lembra o caso Berardo e a operação mágica com o BCP, com intervenção da CGD e dos seus administradores de topo que passaram depois para o outro lado, não lembra? Lembra, claro que lembra. Só que o caso Berardo ainda é mais grave e indiciário de comportamentos dolosos para com um banco privado porque envolve figuras políticas de relevo e um banco quase público ( a CGD).
Alguém se lembrou, no DCIAP, de processar incertos por estes empréstimos com garantias abaixo de cão?
Não, no DCIAP, o que está a dar é o caso Duarte Lima. Que ou me engano muito ou vai dar em águas de bacalhau, porque é disso que o jornalismo gosta: para quem é, basta.

5 comentários:

JC disse...

Concordo com a fragilidade da imputação de crime ao "presumível homicida" pelo que tenho vindo a ler.

E espanta-me o decretamento da prisão preventiva pelo juiz.

JC disse...

Não me refiro ao crime de homicidio mas aso crimes economicos pelos quais foi detido.

Floribundus disse...

o faquiú continua blindado e apreciado.
pretende-se atingir a credibilidade do PR, sempre posta em causa

Carlos disse...

Puritanismos, ou "putanices"

JC, aso?

Perdoai-lhes Senhor!

Streetwarrior disse...

Penso que a ideia, é tal como o Floribundos disse, atingir o PR e talvez...talvez, conseguir então, correr com o PGR que ao que parece, tem o "apoio e mantem-se " suportado pelo PR

O Público activista e relapso