Porque é que se costuma dizer que se apanha mais depressa um mentiroso que um coxo?
Por causa dos pormenores. Um mentiroso, mesmo de génio como agora poderemos verificar, não domina todos os pormenores da efabulação, porque na maior parte das vezes tal é virtualmente impossível. É com isso, nesse interstício, que os investigadores de sempre fazem carreira e os autores de romances policiais prosperam se a trama for bem conseguida.
No Correio da Manhã de hoje aparece uma notícia, assinada por Eduardo Dâmaso/Tânia Laranjo, com factos e uma alusão interessante e reveladora. Primeiro os factos:
No dia 23 de Junho de 2009, Rui.Pedro.Soares, mostra-se eufórico ao telefone, garantindo que o negócio da TVI/PT, só seria anulado com "uma teoria de conspiração".
Em 24 de Junho, dia seguinte, Armando Vara é apanhado a dizer que José S. não deveria ter negado o conhecimento do negócio e que "isto vai correr mal". No mesmo dia, o PGR é informado sobre as escutas em que o PM fala com A.Vara.
No dia 25 de Junho, de tarde, José S. reune-se na sede do partido Socialista, com o mesmo Rui.Pedro.Soares.
Nesse mesmo dia à tardinha, cerca das 19.55, o mesmo Rui.Pedro.Soares, dá conta a Paulo Penedos da súbita ira do PM, por nada saber do que se estava a passar. E não só o PM nada saberia como também "O Henrique" e "o Zeinal". E ainda acrescenta que o PM estava todo "lixado" com ele, coitado, por não o ter avisado. De quê, já agora?
Este desconhecimento cai que nem sopa no mel para a defesa do PM em que publicamente afirmou, afirma e afirmará que nada sabia.
O problema são os pormenores: no dia 25 de Junho, os suspeitos do processo, incluindo A. Vara, mudaram de telemóvel. Todos, aparentemente, menos um: o arguido principal não mudou de aparelho. Mudou de cartão, apenas.
São estas pequenas coisas que estragam as efabulações. E é por estas pequenas coisas que a série televisiva de sucesso dos anos setenta, Columbo, merecia ser reposta.
São estes pormenores que o diabo gosta...porque é aí que se esconde.
Entretanto, mais outro pormenor de relevância extrema se anicha na notícia: a dado passo, os redactores referem-se ao "despacho parcelar do PGR, que a semana passada chegou por vias políticas a alguns órgãos de comunicação social".
Repare-se na expressão "vias políticas", para denunciar a fonte da notícia e da putativa violação de um segredo inexistente. O que significa, no contexto, tal coisa? Simplesmente que quem entregou cópia do despacho aos jornais, "por via de email anónimo", como também se refere no Sol de hoje, foram fontes "políticas", não judiciais.
Ora quem serão as fontes políticas que tiveram acesso ao despacho do PGR em causa, se o mesmo só indicou 5 ou 6 suspeitos e nenhum deles é "político"?
Aliás, quem terá passado a essas fontes políticas tal despacho que o PGR ciosamente guardava?
E que fontes políticas tinham interesse em divulgar que o PM era um inocente nesta coisa toda do negócio da TVI?
Mais uma vez, são os pormenores que estragam tudo. O diabo continua lá.
4 comentários:
O boy da PT disse ontem que não tinha "acesso político" ao PM. Não disse que não tinha acesso ao PM. Tudo isto são expressões estudadas e produzidas até ao mais ínfimo detalhe numa casa que não é a dele. Essa casa é outra, que cozinha com a mesma receita a anulação dos poderes do PR através do genro e o conhecimento do negócio por parte de Manuela Ferreira Leite. Não estamos perante um grupo de profissionais avulsos que trabalham uns para cada lado. Não, aqui há uma associação recreativa de células hiperactivas que parecem ter informação que nem os mais bem informados têm.
Pinto Monteiro: quem é amigo, quem é?
SE É VERDADE QUE MAIS DEPRESSA SE APANHA UM MENTIROSO QUE UM COXO AINDA É MAIS VERDADE QUE MAIS DEPRESSA SE APANHAM DOIS MENTIROSOS DO QUE DOIS QUADRAPLÉGICOS.
Excelente desmontagem! É preciso preparar toda esta papinha e enviá-la aos deputados da AR. Talvez saia alguma coisa decente daqueles cotovelos!
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