terça-feira, abril 29, 2014

O azar de uma tal Raquel...com "um homem de sorte".

Tomei agora conhecimento de uma história que envolve uma tal Raquel Varela ( é tal porque uma historiadora do séc. XXI que não aprendeu as lições da História do séc. XX e se diz comunista só pode ser tal) e uma pequena falsificação de um fait-divers histórico. Quem falseia o pequeno, inventa o grande...

O caso tem a ver com uma foto que se disse, no livro da tal, como sendo tirada no dia 25 de Abril de 1974, para mostrar o "povo" em sintonia com o "couraçado Potemkin". Uma palermice que se revela  bem reveladora de um espírito revisionista com pincelada estalinista ( o velho hábito de falsificar fotos antes de haver programas informáticos de tratamento de imagem).

A foto do livro em causa tem legenda errónea. E porquê? O filme do Potemkine só estreou em 2 de Maio de 1974, como o autor do blog já explicou...citando outros


Não obstante, nada melhor para demonstrar o erro do que mostrar os cartazes de cinema desses dias, publicados nos jornais da época.

Por exemplo, no dia 25 de Abril os filmes em exibição eram mostrados no Diário de Notícias, assim:


O filme exibido no Império nesse dia 25 de Abril de 1974 era...Um Homem de Sorte. Nada de Potemkines. Azar da Varela.

Aliás, nem no dia 30 de Abril do mesmo ano tal filme se encontrava em exibição ou era anunciado. Como refere o Diário de Lisboa desse dia, o filme no Império continuava a ser Um Homem de sorte e para azar da Varela estava anunciado para o mesmo local um recital de piano de Gésa Anda ( terá tocado o concerto para piano e orquestra nº 21 em Dó maior, de Mozart?) e à noite em sessão clássica o Ricardo III de Lawrence Olivier. Portanto, ainda nada de Potemkines.


Quando é que aparece a primeira menção ao filme de Eisenstein? Na revista Cinéfilo de 4 de Maio de 1974, dedicada ao tema da Censura, antes de 25 de Abril, o  articulista ( António-Pedro Vasconcelos?) informava que o filme estreara na "quinta-feira, à noite", ou seja, no dia 2 de Maio de 1974. E ainda informava que era uma das obras "máximas do cinema mundial e revolucionário" ou seja,  comunista. Estava à espera que o regime anterior autorizasse...


E na verdade lá constava da tabela dos filmes dessa semana...classificado como se fosse "para adultos" ( 18 anos) talvez por respeitar ao jogo comunista. O filme, Eusébio, o pantera negra, sobre futebol, por exemplo era para todos ( maiores de 6 anos)...


E com data de 17 de Maio de 1974, o crítico de cinema da Flama, Pedro Pyrrait ( também criticava músicas no Expresso, depois disso) explicava o que se tinha passado com o filme maldito: tinha sido proibido pela Censura do regime que durava há tanto tempo quando o filme:  48 anos!