quarta-feira, abril 09, 2014

Uma explicação prática sobre o domínio da Esquerda portuguesa que nos desgraçou

O livro de Pedro Jorge Castro, O ataque aos milionários que ando a ler furiosamente em todos os pequenos intervalos de fazer outras coisas, parece-me notável num aspecto que não esperava: explica o que se passou em 74-75, com a real ascenção ao poder político da Esquerda comunista e socialista, como um fenómeno de massas.
Explico: o autor, que nasceu precisamente nessa altura, 1975, não atribui a esta ou aquela personagem do panorama político de então, a virtualidade do domínio dos factos, imputando-lhe tal responsabilidade. Mesmo contando com os episódios pitorescos em que aparece aquele "herói por conta própria", o bravo tenente Rosário Dias , sempre a sobraçar a maleta com a pistola lá dentro, atribuindo-lhe a responsabilidade pessoal de algumas detenções de ilustres da banca e indústria nacional da época, das tais famílias que a Esquerda sempre entendeu que eram "donas de Portugal", a verdade que sobressai dos relatos é mais subtil e complexa do que isso.

Dá a impressão, ao ler o livro, que há um conjunto de personagens-chave dessa época, entre militares do MFA e políticos do PCP e do PS e da Esquerda genérica, que tomaram conta "disto" porque tal  lhes foi permitido, não encontrando resistência digna desse nome e assimilando num verdadeiro movimento de Esquerda e de massas,  toda a actividade que conduziu àqueles actos mais gravosos para o país, como foram as nacionalizações ocorridas após o 11 de Março de 1975.
Não obstante, são identificados os autores materiais de certos actos, como os do celeradoo Rosário Dias ou os que materializaram as aludidas nacionalizações, através de lei do Governo e actos políticos do Conselho da Revolução.

Ao ler o livro percebe-se de que lado estão as pessoas concretas enunciadas, mas entende-se também o peso significativo de grupos ligados embrionariamente a uma Esquerda, como os sindicatos, comissões de trabalhadores ou líderes informais de grupos profissionais que se opôem a esses "donos de Portugal", mas igualmente outros grupos como os media in totum ou certos responsáveis políticos e jornalistas que se lhes juntam numa identidade de desígnios inconfessáveis.

É esse o caso de algumas personagens já por aqui mencionadas e que merecem novamente destaque.

Os primeiros são Jacinto Nunes, Silva Lopes e Medina Carreira. Jacinto Nunes era então o vice-governador do Banco de Portugal e decano dos economistas, tendo sido, segundo se conta no livro, um potencial ministro da Economia, com convite de Salazar, aliás recusado. Jacinto Nunes conhecia uma boa parte dos membros da Junta de Salvação Nacional, logo formada no dia 25 de Abril de 1974 porque tinha trabalhado com alguns deles, para os "donos de Portugal", como por exemplo na Siderurgia de Champallimaud.
Portanto, há um pequeno grupo de gente que se conhece e que acabou de tomar as rédeas do poder em Portugal e esse grupo, que incluía Spínola, Costa Gomes, Rosa Coutinho e Pinheiro de Azevedo pede-lhe que seja o responsável pelas novas Finanças do país. O mesmo Jacinto recusa novamente mas acaba por desempenhar na prática tal papel, durante alguns dias até chegar a outro nome incontornável nestas andanças: Vasco Vieira de Almeida que sendo advogado e  gestor bancário de alguns dos "donos de Portugal" ( BPA de Cupertino de Miranda e CPP de Manuel Bulhosa e Jorge de Brito) acaba por ser o ministro que Jacinto Nunes não quis ser. No livro escreve-se mesmo que " é Jacinto Nunes quem lhe ensina o bê-a-ba da administração pública".

Vieira de Almeida esteve no primeiro Governo Provisório, mas em finais de Julho de 1974, com a demissão do primeiro-ministro Palma Carlos ( amigo e colega de Marcello Caetano , a quem escreveu cartas durante esse tempo e que o livro mostra), sai ( esteve a seguir como embaixador em Paris e também no Governo de Angola e agora é um dos titulares de uma das maiores firmas de advocacia do país e certamente um dos actuais "donos de Portugal), tal como saiu Sá Carneiro, apesar de o PPD permanecer no governo que se segue, o II, com Vasco Gonçalves a Primeiro.

Portanto, em 11 de Março de 1975, dia da tomada de poder de facto económico e político, pela Esquerda, o que sucedeu após uma série de peripécies nos meses anteriores que conduziriam logicamente a esse resultado, as coisas ter-se-ão passado assim, entre Jacinto Nunes, já governador do BdP, Silva Lopes, ministro das Finanças e Medina Carreira futuro subsecretário de Estado do VI Governo de Pinheiro de Azevedo e futuro  ministro da mesma pasta, já em período pós eleições ( para a Constituinte e depois com outras que o PS ganhou) e  já com um Mário Soares a pilotar a primeira bancarrota do país em mais de cinquenta anos ( viriam mais duas em menos tempo ainda, protagonizadas pelos mesmos e pelas mesmas ideias):



Esta dinâmica revolucionária aparentemente não tem paternidade determinada. Apesar de os autores materiais das nacionalizações serem aqueles citados, particularmente Medina Carreira que redigiu a lei, ou alguns artigos da mesma, a verdade é que a paternidade da ideia não é deles. Eles são apenas executores fiéis de uma ideia de Esquerda, comunista e socialistas que perfilharam naquele momento, sabendo muito bem o que estavam a fazer.

Porque o fizeram? É perguntar-lhes.

Tal como se deve perguntar a este figurão sempre-em-pé, como é que justifica este editorial no Expresso de 14 de Dezembro de 1974 que define uma pessoa ideologicamente. No meio de um turbilhão de acontecimentos graves que determinariam o futuro do nosso país durante anos ou décadas ( ainda sofremos os efeitos de tais opções políticas), Marcelo Rebelo de Sousa escrevia assim, sobre o "roubo", este autêntico que fizeram aos "donos de Portugal".


O editorial transcrito no livro é este e julgo ser motivo suficiente para o autor meter a cara num saco. Percebe-se bem, com estas e outras, o papel de certas personagens que se mantiveram sempre na crista da onda mediática ao longo dos anos. Por outro lado, nas páginas transcritas conta-se igualmente uma façanha de outra personagem da Esquerda portuguesa maçónica: Vera Jardim e uma anedota que lhe assenta muito bem.

A ideia geral com que se fica ao ler isto é que estas pessoas se adaptariam sempre a qualquer mudança social que sobreviesse e se lhes impusesse, mesmo o comunismo tipo PCP. Não são capazes de mudar seja o que for porque não têm categoria de estadistas seja de quem for. Não é um drama. É apenas assim.
E quem nunca pecou neste aspecto que lhes atire a primeira pedra...porque foi essa a nossa tragédia: a ausência de resistentes e de pessoas clarividentes e capazes de inverter esta loucura que foram aqueles meses de PREC.  O mal que isto fez ao país é incalculável e não tivemos quem se lhe opusesse, como tivemos em 1385. É a conclusão triste que tiro disto tudo.