Quando ocorreu o 25 de Abril em Portugal, a Espanha estava ainda sob o regime franquista, com Franco no poder. Em Dezembro de 1973, Carrero Blanco, presidente do Governo, tinha saltado tão alto que os comunistas queriam sorte igual para Franco, mas tiveram azar porque só em 1976, com a morte deste, o regime mudou.
Em 1974 a curiosidade dos espanhóis, quanto ao que por cá acontecia era grande e os franceses faziam comparações. Como esta, na L´Express de 20 de Maio de 1974, em que se menciona o contágio português, já com o prec em andamento. No entanto, como escreve a revista, o "jogo democrático" já era uma possibilidade mesmo antes da revolução portuguesa.
Um fenómeno muito curioso é a linguagem espanhola. Não mudou, com a transição para o "jogo democrático". E não mudou por razões que se podem especular, mas não andarão muito longe disto:
Em Espanha não havia guerra no Ultramar; havia guerrilha terrorista e separatista da ETA. Não havia "monopólios" ou "condicionalismo industrial", ou seja proteccionismo como por cá e do mesmo modo; mas havia uma grande industrialização precisamente no país basco e na Catalunha que faziam a diferença no pib. Havia uma burguesia que por cá era incipiente. E havia outra coisa que a revista L´Express de 6 de Outubro de 1975 mostra com muita clareza. Basta ver com olhos de ler...
Portanto, a palavra "fascismo" não se declinou como por cá sucedeu e a esquerda comunista não impôs linguagem alguma de substituição. E no entanto, as razões para tal eram bem mais evidentes que por cá, como as imagens mostram. Salazar nunca se encontrou com Hitler ou Mussolini, mas era "fascista". Franco que fez amizade e colaborou com ambos era apenas "franquista". Curioso.
No artigo de Jean-François Revel dá-se conta de um aspecto também curioso. Santiago Carrillo, secretário-geral do PCE achava que Cunhal tinha vistas curtas e ao contrário deste, dizia abertamente que a Espanha precisava dos capitais e tecnologia americanos. Por cá, o PCP desprezou o investimento de 120 milhões de contos proposto, não pelos americanos, mas por capitalistas portugueses, em Agosto de 1974, portanto nessa mesma altura.
Esta diferença abissal entre dois mundos, o do comunismo estlinista português e o do euro-comunismo espanhol que Carrillho partilhava com o PCI italiano, fizeram toda a diferença no caso do nosso PREC e no desenvolvimento e transição política espanhola.
A loucura dos comunistas portugueses conduziu o país a uma primeira bancarrota e a uma segunda, dez anos depois, em consequência da primeira. Os espanhóis não tiveram desses problemas e transitaram pacifica e prosperamente para a democracia.
Quem diz que por cá não poderia ter sido igual? Pachecos, Rosas e Semedos...para além dos fósseis comunistas que ainda não sairam da estação de 1975 e estão á espera de outro combóio revolucionário, como o Jerónimo já o disse e o Arménio está á espera para mudar a agulha, com a Avoila a vender bilhetes.
E há o outro aspecto também político e de massas. Este que acima e abaixo se mostra, com um manifestante integrando um grupo de 300 mil "franquistas". Por cá, salazaristas, em 1974...nem vê-los e cabiam quase todos num jornal ( a Rua que saiu dali a algum tempo e era considerado de "extrema-direita fascista").
É essa a outra diferença de vulto que permitiu ao PCP e extrema-esquerda tomarem as rédeas do poder quase total, o que só se evitou in extremis. A Espanha nunca correu esse risco. E teve em Outubro de 1975, 300 mil braços levantados em saudação "fassista" que por cá dava direito a prisão em Caxias, só por isso.
É essa a diferença que houve entre nós e eles.
Apesar disso e como conta Mário Soares no i de hoje, parece que Franco, mesmo assim, não autorizou os americanos a fazerem da Espanha uma base para atacar Portugal, em 1975, para evitar que o país se tornasse mais um satélite da URSS, o que evidentemente nunca seria tolerado e daria uma guerra civil.
Por cá em 1975 seria impossível verem-se estes trajos de luces, como em Espanha: camisas azuis da antiga Divisão Azul e cruzes de ferro alemãs...e que ainda hoje causam calafrios aos rosas, pereiras e semedos.
Resultado: em Espanha a esquerda comunista marcou sempre passo; passou a social-democrata e há um maior equilíbrio de opiniões políticas. Por cá, é o que se vê...com a esquerda que temos e uma direita que não existe.