A propósito da efeméride dos 50 anos, das cheias de Lisboa, o Público dá hoje para o peditório da ignomínia um artigo, desta vez de outra jornalista, Margarida David Cardoso, estagiária do Público até há uns meses e que promete na profissão: já escreve como os mais velhos e assimilou todas as ideias politicamente correctas sobre o tenebroso Estado Novo do terrível ditador, António de Oliveira Salazar. Este é o teste que todos os jornalistas estagiários devem passar a fim de integrarem o quadro redactorial do jornal patrocinado e subsidiado integralmente pela Sonae, do vetusto Belmiro de Azevedo que não tem vergonha disto.Ufa, que parágrafo longo e penoso!
Em primeiro lugar, a estagiária deste antifassismo militante descobriu que "foi a lama que pôs a descoberto a miséria que Salazar escondeu". Deve ter pensado com os botões da albarda ideológica que era um título e pêras, doces ainda por cima, para a redacção que a orienta e dirige, com o Dinis, Dinis, alguém assim quis.
A ideia que perpassa por todo o artigo é arrimar o salazarismo e o Estado Novo numa vala comum de ignomínias, expelidas para o gravador pro alguns entrevistados a dedo.
Em primeiro e último lugar a escritora de contos infantis Alice Vieira, que foi casada com Mário Castrim, cronista de TV do Diário de Lisboa, no tempo do fassismo e um comunista que a falecida Vera Lagoa catalogou num livro da época chamado "revolucionários que eu conheci". Alice Vieira, em 1967 ainda não conhecia o Castrim, mas lembra-se desse passado tenebroso que escondia catástrofes naturais como quem esconde agora relatórios inconvenientes da Protecção Civil.
Não obstante as provas gráficas e impressas que atestam a gravidade da aleivosia, continua a campanha, agora a cargo de estagiárias do jornalismo que temos, aprendido nas madrassas do costume.
Um dos clérigos dessas seitas é o jornalista João Paulo Guerra, um dos que teve a chave do 25 de Abril e abriu as portas à nova era em que andamos e que aparece citado no artigo.
O mote é este: Salazar escondeu a tragédia porque não deixou, quer dizer, a Censura que havia não deixou, contar os mortos e dizer quantos eram. Quando chegaram aos 400 e tal, parou a contagem, segundo conta a estagiária. Já era demais e o povo leitor de jornais não precisava de saber tanto! Hoje, sabe-se tudo, menos os nomes dos mortos porque tal não se pode dizer uma vez que ofende a memória da vítimas. Não é censura, por isso, mas outra coisa mais democrática que a antiga ministra do MAI, em ténis, sabe bolar.
E quanto a fotografias, alto lá e cuidado!, porque se fossem chocantes para o regime não se publicavam! Tal como hoje, aliás, mas por motivos mais democráticos, como seja o ar do tempo ou o "espírito da época" que agora não deixa...
Podem consultar-se, no entanto, os jornais da época e confirmar tudo para saber se era assim. E o problema é que não era mesmo. Portanto, o jornalismo nacional actual, de estagiário ou de macaco velho, é pobre e podre. Miserável, numa palavra!
Mas demos a palavra à estagiária que nem escreve muito mal a redacção que lhe incumbiram de fazer e que ás tantas ainda vai ganhar um prémio pelo esforço:
Qual o jornal consultado para o efeito pela redactora estagiária? O Diário de Lisboa, voilà! Onde vicejavam as mentes da oposição comunista ao regime, incluindo o tal Castrim. O Ruella Ramos que mandava na chafarica, aliás bem montada graficamente, pouco tempo antes de 25 de Abril de 1974 repristinou outro pasquim de antanho, Sempre Fixe, que se tornou logo a seguir um órgão oficioso do PREC e da tragédia que se evitou in extremis.
O Diário de Lisboa era apenas um dos jornais da capital. Havia ainda, em 1967, outros, como o Diário Popular, mostrado no postal abaixo, com várias edições sobre a tragédia, o República, do socialista maçónico Raul Rego, e evidentemente os que o regime apaparicava, como O Século e a Época. Isso para além das revistas, como o Século Ilustrado e a Flama.
A estagiária, porém, só se interessou verdadeiramente pelo Diário de Lisboa, então um farol de objectividade, isenção e imparcialidade jornalística relativamente ao regime do Estado Novo e de Salazar. E também menciona en passant, o Diário de Notícias, o oficioso que contava o número dos mortos e que eram reduzidos segundo os contadores oficiosos, um certo Joaquim Letria ( outro comunista feito e desfeito a seguir, ao contrário do irmão José Jorge que sempre se sentiu refeito) e um certo Fernando Assis Pacheco que detestava Salazar como os maometanos o toucinho por motivos que o mesmo explicava em crónicas bem escritas, aliás.
Estes contadores de mortos oficiosos, feitos como aquela empresária de Pedrógão que contava mais de 100 mortos através do método clássico da impressão que sim, calculavam em 700 o número incerto quando as estatísticas oficiais indicavam para aí 500. O resto, segundo a escritora-mulher do Castrim foi censurado pelo Salazar que não queria aumentar o número de mortos para mais 200. Era demais, segundo a tal que cita autores consagrados da história do fassismo como sejam um tal Miguel Cardina e um tal Francisco da Silva e Costa, num livro escrito a preceito.
A escritora de infantilidades, mulher do Castrim só "queria gritar às pessoas: vejam lá o que está a acontecer às portas de Lisboa!", mas a Censura não deixava como mostram as imagens das páginas do Diário Popular que aqui publiquei.
Foi nessa altura que a tal escritora descobriu a miséria das pessoas que viviam nos bairros clandestinos. Até então nem se tinha dado conta e a culpa, a culpa era toda, todinha do Salazar. Em Pedrógão, não, não foi do Governo, porque a culpa não é democrática .
Ela, escritora imaginativa percebeu então, em 1967, quando tinha 24 anos e se preparava para apaixonar por um Castrim 23 anos mais velho que havia miséria no mundo salazarista. E mais: " a ditadura não permitia que fosse conhecida", essa é que é essa! Maldito estado novo do velho Salazar!
Como isto é demais e já fede tanta miséria jornalística, fico por aqui. Esta gente não aprende nunca e prefere viver de mitos e lendas. Desde que lhe alimentem o ordenado e vidinha.
A verdade que se lixe!