Riina, um mafioso à antiga, era uma lenda viva e andou fugido à justiça durante anos e anos. Foi apanhado em 15 de Janeiro de 1993 quando circulava num carro utilitário, numa rotunda em Palermo, onde vivia incógnito.
Na altura comprei os jornais italianos que fizeram a reportagem e lembro-me como se fosse a semana passada:
Quando foi apanhado, negou a identidade e declarou-se um simples camponês ( contadino).
Para a mulher e filhos ( dois deles presos por delitos ligados à Mafia) Riina era um santo...
Como é que Riina foi apanhado? Por denúncia de arrependidos...
E porque demorou tanto tempo? Uma das razões prende-se com a corrupção da justiça italiana que não admitia sequer a existência de uma organização mafiosa. Foi por isso, por aceitar e acreditar nas denúncias feitas pelo primeiro arrependido- Tommaso Buscetta , na foto abaixo- que o juiz Falcone morreu, às ordens de Riina.
No entanto, no tribunal da Relação, havia um juiz-presidente, Corrado Carnevale, a quem chamavam o "ammazzasentenze", ou seja o arrebenta sentenças. Tinha por hábito anular os julgamentos de mafiosos na primeira instância devido a problemas processuais que catava nos processos. Tudo na mais perfeita legalidade...
Também chegou a vez dele com as denúncias dos arrependidos...
E também por outro motivo: a mítica Mafia que se confundia com a paisagem siciliana, como era a vilazita de Corleone, de onde Riina era natural. "Um siciliano pode negar a existência da sua mãe e convencê-la disso mesmo", dizia Giovanni Falcone que sabia porque era da terra. Mentirosos natos e dissimuladores por essência.
Qual a maior armas dos mafiosos? A omertà. O silêncio de inocentes e culpados, completo e inviolável. Durante anos e anos funcionou. A partir das primeiras brechas nos anos oitenta, com o aludido Buscetta, tudo se desmoronou.
Na altura da captura de Riina que vivia nesta quinta no centro de Palermo ( era mesmo um camponês...), ainda havia outros mafiosos importantes, a monte e que foram presos alguns anos depois, como o mítico Provenzano de quem se conhecia apenas a imagem abaixo mostrada cuja captura em 2006 foi outro feito da polícia italiana.
Esta imagem final é da revista L´Express, francesa, de 4.12.1992. Mostra um cadáver de alguém assassinado, em Palermo e é icónica desse tempo da Mafia italiana de Totò Riina.
Durante o tempo em que esteve preso, Riina foi alvo de atenção mediática uma vez que havia muitas pessoas que lhe escreviam a pedir favores, mesmo estando preso...
A luta da magistratura e Estado italianos contra a Mafia siciliana que acabou por matar ainda o juiz Paolo Borselino, durou anos e anos.
Como conta a Epoca de 9.7.1995, ainda andavam a monte vários capi mafiosos, sendo o mais importante o tal mítico Bernardo Provenzano. Um outro, Leoluca Bagarella foi preso nessa altura.
Outro, Pietro Aglieri, em Junho de 1997.
Tudo isso se tornou possível após a colaboração premiada do antigo mafioso Tommaso Buscetta, como contava o La Repubblica de 17.11.1992.