A Sábado desta semana reincidiu na reescrita da nossa História para explicar o que foi o ano de 1970, "último ano em que Portugal deu lucro" ou seja que teve as contas equilibradas, sem défices " que não são para pagar" como dizia o fugitivo de Paris e até com "superavit", como diz a revista sem tirar as consequências da reflexão sobre os motivos concretos e reais de tal fenómeno.
Para reescrever o ambiente dessa época, a Sábado e jornalistas, entre os quais Vítor Matos que assina o artigo, foram ler alguns jornais e revistas de época, mais uns elementos estatísticos e afinfaram na revista com algumas imagens neo-realistas a preto e branco, com um único desiderato subjacente à escrita e explícito nas entrelinhas: o habitual retrato neo-realista da época que distorce a realidade para mostrar um país atrasado e "salazarento", em modo "instagram".
Lá aparece a miséria habitual, o analfabetismo do costume, como se hoje o saber ler e escrever fosse sinal suficiente de alfabetização, o que aliás se comprova com o próprio artigo... etc. etc.
Ficam duas páginas para dar o retrato daquilo que não se deve esperar deste jornalismo para sabermos como foi o nosso passado. Não conta a verdade toda, nem sequer a mais relevante, eventualmente porque a não conhecem e assim enganam os leitores e ajudam a dar uma imagem de um Portugal que existe apenas no seu imaginário: truncado, miserável e atrasado do resto do mundo civilizado, como se os anos setenta fossem na Europa ( por exemplo em Espanha) muito diferente do que por cá tínhamos, tirando o regime de ditadura soft. Culpa do Salazar, pois claro. É essa a única mensagem deste jornalismo que não se envergonha deste papel triste e milita sempre neste tonalidade a preto e branco. É o jornalismo tipo Panurgo, personagem mítica de Rabelais que conduziu um manada de carneiros a um precipício e bastou atirar um abaixo para os outros o seguirem.
É uma pecha, uma sarna, uma maldição nacional. É o pensamento único da esquerda que fez caminho desde os anos setenta até aqui, designadamente à redacção da Sábado. Não há o mínimo esforço para questionar as ideias feitas pela esquerda, investigar e informar devidamente e por isso perpetuam os mitos que já são ensinados nas escolas em manuais a condizer escritos pelos detentores do guião, sempre de esquerda.
Enquanto não formos capazes de questionar estes bonzos do desvio, da falsidade, não seremos capazes de nos reconhecermos enquanto povo, porque a maioria não se revê neste retrato triste de um passado que não existiu assim.
Como habitualmente, para ver melhor as imagens é preciso clicar, abrir outra janela e aí, ampliar a imagem.
E agora vamos a ver outra perspectiva do Portugal desse mesmo ano de 1970 através das mesmas revistas que o autor consultou.
Tirando o pormenor de o mesmo citar um economista ( Nuno Valério) que assegura que o esforço de guerra na altura "valia 20, 25% do orçamento", o que parece incorrecto porque sempre ouvi dizer que levava três quartos do orçamento), aparece um outro pormenor interessante para mostrar os costumes ( atrasados, como convém transmitir, porque é esse o discurso oficial da esquerda) da época. Diz-se que " os anúncios da Triumph atreviam-se a mostrar apenas as raparigas de corpete." Falso, como se pode ver pelos referidos anúncios:
Em 17.10.70 a revista Século Ilustrado mostrava este anúncio, de facto...
...mas em 6 de Junho desse mesmo ano já tinha mostrado este:
Sobre as barracas também se pode ver qualquer coisa de especial nessas mesmas revistas. Por exemplo, isto, na Flama de 8.5.1970:
...mas também isto na Flama de 14.8.70
E mais isto, no mesmo número dessa revista:
E isto ainda que mostra a Figueira da Foz em 21. 8. 70, na revista Flama
E já agora para que o neo-realismo dos anúncios não fique apenas pelo preto e branco daquela Sábado, aqui ficam dois anúncios de produtos de consumo desse ano, para as classes médias, se assim se poderiam chamar...
O primeiro é de um televisor para toda a gente que trabalhava, o que revela outra falsidade do artigo: o televisor não custava o dobro do que ganhava uma professora, como aí se escreve...e lembro-me bem deste tipo de tv porque o meu pai comprou um parecido. E não era dos ricos, como hoje se entendem. O anúncio é da Flama de 17.10.70 e obviamente havia televisores mais baratos.
O segundo é do "Mini". Um carro que qualquer alferes que vinha da tropa na altura podia comprar. Foi nessa altura que apareceram os Honda 600 japoneses dos quais ainda não vi um anúncio sequer...porque nem precisavam.
O anúncio é da Flama de 4.6.70.
E para o ambiente geral aqui fica um anúncio que muitos ainda se recordam...da Flama de 17.7.70
Para terminar fica uma página do suplemento de Sábado do Diário Popular, de 31 de Outubro de 1970, muito melhor do que a Sábado de hoje...cujo jornalismo envergonharia os jornalistas de então. Ah! E não eram licenciados...nem o apregoado analfabetismo impedia que o jornal que era mesmo popular publicasse artigos que hoje nem os tais "de referência" publicam. A "referência" de hoje em dia fica-se pelos critérios de altíssima qualidade de um Ricardo Costa ou um Nicolau Santos. Santo Deus!
E ainda falta falar nos suplementos de Artes e Letras do jornal Diário Popular de Quinta-Feira, com duas páginas centrais que fariam empalidecer os críticos que temos agora. De vergonha se a tivessem.