quarta-feira, novembro 07, 2012

Uma crónica de catedrático

José Faria Costa, alguém conhece? Quem andou em Coimbra a estudar Direito sabe quem é: um professor de cátedra de Direito Penal, em Coimbra.

Escreve uma crónica no i de hoje, aqui publicada, sobre a anomia, um conceito que em sociologia significa a ausência , na sociedade, de padrões normativos de conduta e de crença, dificultando ao indivíduo a orientação perante as contraditórias exigências dessas normas.
(...)
Paremos, um minuto que seja, a olhar, com olhos de ver, a realidade e de imediato nos damos conta de que a "anomia à portuguesa" não se afirma de ruptura na igualdade, de corte na igualdade relativamente aos grandes valores. Não. Nada disso. É uma ruptura mole que, às vezes, se mostra mesmo pastosa. Não, não é de plástico, porquanto este, por mais manipulável que seja, ainda apresenta alguma dureza, e o que é pastoso outra coisa não pode ser senão "coisa" pastosa. Nas formas clássicas e normais de "anomia" as percentagens de homicídios, de ofensas corporais graves ou de outros crimes violentos crescem exponencialmente, porquanto se entende, os membros dessa comunidade entendem, que os valores não são para respeitar e que as regras morais deixaram de ter qualquer serventia. Ora, se nesse cenário as coisas se passam desse jeito é evidente que a inexistência de interditos conduz, necessariamente, ao desaguar torrencial de condutas desviantes ou mesmo criminosas. Porém, entre nós, há quem diga que felizmente, tudo se passa de maneira mais cândida, ainda mais intercomunicante. Vejamo-lo: "Tu estás a fazer-me mal e tu sabes que o estás a fazer mas eu, porque já não sei o que é o bem ou o mal, na dúvida, fico quieto e talvez te venha a fazer mal quando tu o deixares de fazer a mim, porque só, nessa altura, saberei onde está o bem e o mal." Eis o juízo metafísico do português. Isto é: está-se perante uma anomia que verdadeiramente o não é, porquanto, apesar de tudo, nela se valora, se julga, se espera. Em suma e em linha de máxima: a "anomia à portuguesa" é, indubitavelmente, uma anomia de esperar para ver, de desconfiança perante aquilo que se acredita mas que não queremos exprimir corajosamente, de radical conformismo. Porém, sendo o nosso estado normal o conformismo, isso faz com que a "anomia à portuguesa" pouco se distinga da normalidade. O que a torna, também precisamente por isso, uma raridade.
José Faria Costa, Professora da Universidade de Coimbra | ionline | 07-11-2012

Ao ler isto ocorrem-me logo meia dúzia de nomes da nossa política recente. E outros que não sendo políticos fizeram objectivamente o seu jogo: aqueles que tendo responsabilidades em lidar com a Justiça, particularmente na investigação criminal afirmaram repetidamente que em Portugal e corrupção era uma espécie de mito. Sabem quem são, não sabem? 
O almoço de homenagem, na despedida do dito cujo, patrocinado também pela O.A. contou a presença de mais de duzentas pessoas...entre as quais destacadas figuras do PS, a saber, Almeida Santos e Alberto Martins.
Suspeito no entanto que não são nenhuns destes nomes que ocorreram ao ilustre catedrático ao escrever a crónica...mas deviam. Deviam mesmo.



Questuber! Mais um escândalo!