No final de 1979, a AD de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles conquistou uma maioria absoluta de votos para o parlamento. Dir-se-ia que o povo português estava farto das experiências esquerdistas e de socialismo democrático tipo PS e quis dar uma oportunidade política a uma alternativa.
Em Dezembro de 1980, a morte de Sá Carneiro deitou por terra, literalmente as veleidades de mudança essencial que se poderiam esperar.
Tal foi o diagnóstico de vários comentadores da época, publicadas no Expresso de 3.1.1981.
Como é que o país político e social reagiu a tamanho descalabro de expectativas? Assim:
Reparem-se nas figuras que foram então preponderantes para a constituição de um governo pós Sá Carneiro e veja-se agora onde tais inteligências nos poderiam conduzir.
Os problemas mantinham-se os mesmos de sempre, porventura agravados pela crise política. Tal como se pode ler pelos extractos do jornal Expresso de 3 de Janeiro de 1981, a revisão constitucional estava na ordem do dia, mas conforme se pode ler o essencial da revisão atinha-se a aspectos de organização política do Estado por causa do empecilho Conselho da Revolução, com militares que tinham ganho o gosto pelo poder e não queriam largar o osso ( ou o pote, como agora se diz):
Por outro lado, na mesma altura ( Janeiro 1981) ao mesmo tempo que continuava e ainda por uma boa meia dúzia de anos, a indefinição na delimitação dos sectores público e privado, aqueles que tinham permanecido em Portugal, uma boa parte no Norte do país, a produzir bens segundo uma lógica contrária à que os comunistas pretendiam e fizeram finca-pé na Constituição, como desiderato programático, reuniam-se para lançar iniciativa económicas.
Assim, a luta política passava por indivíduos de segunda linha que com o tempo se tornaram os sombras do regime, tipo Proença de Carvalho, considerado por Sá Carneiro como o ministro da propaganda do governo de Mota Pinto e aproveitado pela nova encarnação da AD depois da morte de Sá Carneiro, para o mesmo papel: dirigir a central de propaganda política da RTP.
O indivíduo, aliás, durante um par de anos mostrou o que valia e por isso, em 25 de Abril de 1983, as eleições gerais deram a vitória ao PS, tangencial e que obrigou a uma coligação com o PSD de Mota Pinto. Foi o famigerado governo de bloco central que duraria muito pouco tempo por uma razão simples de enunciar e que o Expresso de 24 de Novembro de 1984 evidenciava, depois de já em 26 de Maio do mesmo ano o mesmo articulista ter escrito que a coligação governamental era "um projecto frustrado":
Por isso mesmo acabaram por surgir na liça política as figuras menores ou tidas como tal, aproveitadores da sombra. Repare-se nos nomes: Rui Machete, então ministro da Justiça; Ângelo Correia, Calvão da Silva (um professor de Direito de Coimbra que aproveitou bem o partidarismo, como outros, aliás, no mesmo patamar universitário) e, claro, o sempre presente Proença de Carvalho indicado para a pasta da...Agricultura. Dizia então o promotor da ideia, um "alto dirigente da CAP" que Proença reunia as qualidades necessárias por ser "de fora" do ministério, ser bom gestor e ainda "político hábil"- voilá como credenciais para se ser ministro e figura da sombra).
Perante o desempenho político destas luminárias que ao longo das décadas se transformaram em luzicus do nosso pequeno universo, sempre a pirilampar na política e negócios de alto coturno, umas vezes à direita, outras mais à esquerda, a ruína do país anunciava-se para breve e por isso o FMI já cá andava outra vez com cartas de intenções e negociações para reduzir a desvalorização do escudo etc. O jornal Semanário que tinha aparecido com o bloco central, em 1983, dirigido por Victor Cunha Rego e Marcelo Rebelo de Sousa) escrevia assim numa altura em que se falava de uma "Dona Branca":
O resultado da governação destes indivíduos que nunca ninguém arredou verdadeiramente dos reposteiros do poder e pelo contrário ainda conseguiram reforçar as amarras que os ataram ao centro das decisões políticas ao longo destas últimas décadas ( é ver por onde andou Machete e Proença e Ângelo...) , era a que se esperaria e como o então jornalista do Expresso José Manuel Fernandes escrevia, em 10 de Novembro de 1984: a crise tinha vindo para ficar e, tal como hoje, dizia-se que " os sacrifícios impostos à população terão sido ainda maiores do que os preconizados pelo FMI"...:
O resultado directo deste descalabro deu que pensar aos portugueses que se fartaram do PS. E como a AD não tinha feito melhor, apareceu então, já no ano de 1985 a figura de um salvador em figura de general: Eanes. E ainda havia outra: Maria de Lurdes Pintassilgo. Mas o verdadeiro, o genuíno, ainda estava para vir, tendo aparecido ao volante de um carro Citroën...
Como se escrevia dantes nas histórias aos quadradinhos publicadas nos jornais...( continua).
6 comentários:
a AD sem Sá Carneiro era um desastre anunciado (não era necessário ser Sibila) salema, capacho, horta seca, embalsemado, proença o novo, ângelo.
salvava-se Rui Machete.
na cap mandava o 'rural' Raul, hoje totalmente desiludido e outras coisas com igual terminação.
a D. Branca, depois D. Banca, trabalhava há muito no 'bisiniss'. proença também
estamos quase lá
estes gajos lembram-me o estudante de medicina que ensinava a utilizar os urinóis públicos do modo mais higiénico, a começar pela lavagem das mãos. agora temos os pilatos
a história do partido eanista é como o coelho do 'é bom, não foi' ou
'quem tem pouco, depressa o entorna'
Isto é uma maravilha de arquivos
A bicharada era a de costume. A única diferença é que naquele tempo usavam a cabeleira postiça.
Precisamos de um furacão mais forte, intenso e duradouro que o Sandy ... para nos libertarmos dos alucinados e notáveis do PSD e CDS ... e do PS por completo, a começar pelo Soares que não cala a matraca ... pois dessa banda só se pode esperar desastre e em larga escala ... com a malta dessa banda que se está a por em bicos dos pés para avançar com o apoio incondicional dos vampiros dos banqueiros ... que já sonham outra vez com um maná à Sócrates ... com o arrivista do Costa a conspirar para se chegar à frente estamos bem f... , pois esse indígena já conseguiu transformar a dívida de Lisboa ... maior e mais tóxica e peçonhenta que a da Madeira ... é obra ... e nem vale a pena falar dos menores ... dos tribunais políticos ... confederações ... ordens e outros que tais ... com o apoio da maçonaria ... que não perdem uma para abocanhar ... o resto do já escanzelado repasto ... adeptos incondicionais da democracia do gamanço desde a sua criação em 26 de Abril do ano da graça de 1974 ... uma maravilha de país ... Os do PC e BE são bem vindos ... como espectáculo de variedades ... pois sempre destrai-em a malta ... em momentos mais taciturnos ... de melancolia ... Valha-nos Deus! ...
Que caixa é aquela do Expresso em que «Marcelo Caetano sonhava aliar-se com Soares?»
Pois é, mas no ''rosto'' do eanismo não um único que se tenha agarrado à cadeira do poder, nem corrupto. E hoje o general Eanes e uma referência de honra, patriotismo, lealdade e coerência neste lodaçal em que Portugal se tornou.
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