domingo, novembro 04, 2012

Portugal, anos 80: viró disco...

No final de 1979, a AD de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Teles conquistou uma maioria absoluta de votos para o parlamento. Dir-se-ia que o povo português estava farto das experiências esquerdistas e de socialismo democrático tipo PS e quis dar uma oportunidade política a uma alternativa.

Em Dezembro de 1980, a morte de Sá Carneiro deitou por terra, literalmente as veleidades de mudança essencial que se poderiam esperar.
Tal foi o diagnóstico de vários comentadores da época, publicadas no Expresso de 3.1.1981.

Como é que o país político e social reagiu a tamanho descalabro de expectativas? Assim:

Reparem-se nas figuras que foram então preponderantes para a constituição de um governo pós Sá Carneiro e veja-se agora onde tais inteligências nos poderiam conduzir.
Os problemas mantinham-se os mesmos de sempre, porventura agravados pela crise política. Tal como se pode ler pelos extractos do jornal Expresso de 3 de Janeiro de 1981, a revisão constitucional estava na ordem do dia, mas conforme se pode ler o essencial da revisão atinha-se a aspectos de organização política do Estado por causa do empecilho Conselho da Revolução, com militares que tinham ganho o gosto pelo poder e não queriam largar o osso ( ou o pote, como agora se diz):


Por outro lado, na mesma altura ( Janeiro 1981) ao mesmo tempo que continuava e ainda por uma boa meia dúzia de anos, a indefinição na delimitação dos sectores público e privado, aqueles que tinham permanecido em Portugal, uma boa parte no Norte do país, a produzir bens segundo uma lógica contrária à que os comunistas pretendiam e fizeram finca-pé na Constituição, como desiderato programático, reuniam-se para lançar iniciativa económicas.


Assim, a luta política passava por indivíduos de segunda linha que com o tempo se tornaram os sombras do regime, tipo Proença de Carvalho, considerado por Sá Carneiro como o ministro da propaganda do governo de Mota Pinto e aproveitado pela nova encarnação da AD depois da morte de Sá Carneiro, para o mesmo papel: dirigir a central de propaganda política da RTP.


O indivíduo, aliás, durante um par de anos mostrou o que valia e por isso, em 25 de Abril de 1983, as eleições gerais deram a vitória ao PS, tangencial e que obrigou a uma coligação com o PSD de Mota Pinto. Foi o famigerado governo de bloco central que duraria muito pouco tempo por uma razão simples de enunciar e que o Expresso de 24 de Novembro de 1984 evidenciava, depois de já em 26 de Maio do mesmo ano o mesmo articulista ter escrito que a coligação governamental era "um projecto frustrado":

Por isso mesmo acabaram por surgir na liça política as figuras menores ou tidas como tal, aproveitadores da sombra. Repare-se nos nomes: Rui Machete, então ministro da Justiça;  Ângelo Correia, Calvão da Silva (um professor de Direito de Coimbra que aproveitou bem o partidarismo, como outros, aliás, no mesmo patamar universitário) e, claro, o sempre presente Proença de Carvalho indicado para a pasta da...Agricultura. Dizia então o promotor da ideia, um "alto dirigente da CAP" que Proença reunia as qualidades necessárias por ser "de fora" do ministério, ser bom gestor e ainda "político hábil"- voilá como credenciais para se ser ministro e figura da sombra).


Perante o desempenho político destas luminárias que ao longo das décadas se transformaram em luzicus do nosso pequeno universo, sempre a pirilampar na política e negócios de alto coturno, umas vezes à direita, outras mais à esquerda,  a ruína do país anunciava-se para breve e por isso o FMI já cá andava outra vez com cartas de intenções e negociações para reduzir a desvalorização do escudo etc. O jornal Semanário que tinha aparecido com o bloco central, em 1983, dirigido por Victor Cunha Rego e Marcelo Rebelo de Sousa)  escrevia assim numa altura em que se falava de uma "Dona Branca":

O resultado da governação destes indivíduos que nunca ninguém arredou verdadeiramente dos reposteiros do poder e pelo contrário ainda conseguiram reforçar as amarras que os ataram ao centro das decisões políticas ao longo destas últimas décadas ( é ver por onde andou Machete e Proença e Ângelo...) , era a que se esperaria e como o então jornalista do Expresso José Manuel Fernandes escrevia, em 10 de Novembro de 1984: a crise tinha vindo para ficar e, tal como hoje, dizia-se que " os sacrifícios impostos à população terão sido ainda maiores do que os preconizados pelo FMI"...:


O resultado directo deste descalabro deu que pensar aos portugueses que se fartaram do PS. E como a AD não tinha feito melhor, apareceu então, já no ano de 1985  a figura de um salvador em figura de general: Eanes. E ainda havia outra: Maria de Lurdes Pintassilgo. Mas o verdadeiro, o genuíno, ainda estava para vir, tendo aparecido ao volante de um carro Citroën...

Como se escrevia dantes nas histórias aos quadradinhos publicadas nos jornais...( continua).

Questuber! Mais um escândalo!