sábado, novembro 10, 2012

Cavaco Silva, o endireita da esquerda


Em Portugal, no início de 1984 ainda se vivia esta realidade mundial: a separação do mundo em dois blocos, com um partido comunista português a apoiar o bloco de Leste, seguindo à risca a cartilha marxista-leninista. Vital Moreira e muitos outros ainda não tinham descoberto que o socialismo do partido comunista era tudo menos democrático, porque era um sistema ditatorial e repressivo como os que existiam nesses países. Foi preciso mais uns anos para descobrirem tal fenómeno. A RDA ainda lhes parecia um modelo de país democrático...apesar de uma STASI que deixava a nossa PIDE a anos-luz da capacidade de repressão e opressão.
Em Fevereiro de 1984 morria Andropov, o líder que invadiu o Afeganistão, onde se cavou parte da sepultura da antiga URSS.
A seguir viria Chernenko e Gorbatchev e a glasnost e a perestroika e acabou assim a URSS para grande desgosto dos nossos comunistas que ainda hoje choram a perda dessa pátria ideológica.

NOTA: abrindo as imagens num separador novo, torna-se possível aumentá-las (clicando apenas nas mesmas pode não ser possível).

Por cá, obviamente que isto tinha ainda os seus reflexos. O PCP e o PS ainda não toleravam o nome de Salazar em nada que fosse sítio visível e muito menos numa Fundação destinada a acorrer aos mais necessitados de habitação.
Conforme se escrevia no Semanário de 18.2.1984 a Fundação Salazar foi constituída em 1969 por iniciativa do presidente Américo Tomás e numa altura em que Salazar já nem sabia a quantas andava. Alguns bancos privados deram um dois ou três milhar de contos, a fundação Gulbenkian deu outro tanto ou mais e várias entidades privadas  e cidadãos anónimos contribuíram para essa fundação que pouco tinha a ver com uma outra com o nome de Mário Soares. Esta tinha  um escopo social mesmo. Conta o jornal que "arrancou com meia dúzia de empregados, construindo em poucos anos um milhar e meio de fogos, em diversos bairros sociais."
Em 1978, no segundo governo constitucional,  um ministro chamado António Arnaut, um maçónico de Coimbra muito amigo dos pobrezinhos e do serviço nacional de saúde, decidiu extinguir tal fundação por causa... de nada, apenas do nome.
Em 1980 Bagão Félix, como secretário de Estado,  ainda tentou revogar o diploma de extinção, mas...nada feito porque a comissão liquidatária entretanto constituída para a extinção dera provas do que agora está à vista de todos com certas fundações que andam por aí: falta de seriedade.
Na altura em que se falava na extinção, a referida fundação teria 100 mil contos em dinheiro e o património de um milhão imobilizado em imóveis.
Que será feito desta Fundação Salazar?

 
Em França, o "pogresso" ditou o desenvolvimento deste magnífico automóvel para a classe média em ascensão social. Sucedendo à tradição das arrastadeiras, com tracção dianteira, apareceu o BX, por cá, também nesse ano de 1984, tal como se anunciava num Semanário de Fevereiro de 1984.


Um dos compradores da máquina muito na moda, pelas linhas modernas e qualidade técnica, foi...Cavaco Silva, vindo directamente de um governo da A.D., mas afastado pelos "do costume" no partido ( Rui Machete, Ângelo Correia, e tutti quanti que deveriam pagar a factura da divergência pouco tempo depois. Uma factura falsa, aliás, porque não demorou muito a alcandorarem-se ao poder político outra vez, com o cortejo de benefícios pessoais e económicos que tal costumava e costuma trazer).

Cavaco decidiu fazer a rodagem ao carro, indo de Lisboa, da Travessa do Possolo até à Figueira da Foz. Saiu de lá assim:




 Pouco tempo depois, em Outubro de 1985,  vieram eleições legislativas e o PSD arrancou uma maioria como nunca. O PS foi esmagado por um PRD em protesto e o resto é História.

Porque é que Cavaco ganhou? Está aqui explicadinho, tim tim por tim tim:

Primeiro foi o director do D.N. Mário Mesquita, ele mesmo socialista ( os jornais públicos nessa altura eram assim mesmo, com directores partidarizados) mas desavindo porque mais esquerdista do que o agora esquerdista Soares que então dizia que era preciso que as fábricas que não funcionavam falissem. Mesquita escreveu então o célebre editorial "Deus não dorme". Dirigido a ateus,  até que não esteve nada mal...
O PS de Soares levou um banho que o obrigou pouco tempo depois a assumir publicamente uma declaração de humildade, aliás muito estudada porque já teria decidido por essa altura candidatar-se o ano seguinte às presidenciais...

A Grande Reportagem de 24 Maio de 1984 já tinha escrito  o epitáfio e explicou o sucesso do novo arrivista ao poder político de maioria absoluta.



Nesta página explica porque é que Cavaco foi o vencedor, no congresso da Figueira e depois em eleições gerais: as pessoas ainda se lembravam de 1980 e dos "milagres" que tinha feito na economia. Isso apesar de em 1984 o FMI ter estado cá a negociar cartas de intenção de pagamento de empréstimos.


A seguir viria o "pogresso" a cavalgar em força a onda do futuro e do "homem novo" cavaquista.
Veremos como foi ...

5 comentários:

Floribundus disse...

estou vivo graças à tecnologia dum 'boca de sapo' que comprei em 2ª mão.

o 'sr. silva' sabe, como muitos de nós, o que é subir por conta própria com a oposição de todos os frustrados. nunca fui cavaquista embora lhe reconheça mérito

o boxexas é apenas filho de padre. raivoso, vaidoso, insolente, preguiçoso, ocioso.

fui militante 29 do ppd, com mais 5 instalámos a secção A de Lxa, a 1ª. saí como entrei. vi demasiados porcos dentro e fora do partido.

o GM do sns é um dos muitos que andam por aí a ver andar os outros. tal como o 'das polícias'

Machete , quando ministro, pôs na ordem o secretário de estado da saúde por este ter embirrado comigo em virtude de estar a ver unicamente o sector corporativo dos médicos.

o 2º marido de minha mãe, mais que meu pai, disse-me aos 8 anos 'nunca tenhas ilusões para não ser um desiludido'.

à beira do abismo há quem recomende 'um passo em frente'

Vivendi disse...

Cavaco Silva, o endireita da esquerda

Este título diz tudo.

Foi uma pena que o citroen do Cavaco não tenha quebrado o motor durante a rodagem à figueira da foz...

Com João Salgueiro teríamos ficado bem melhores.

Anónimo disse...

Será Vivendi? Salgueiro foi o sucessor de Cavaco em 81-83 e foi a desgraça que se viu: tivemos que chamar o FMI. Não conseguiu controlar o défice, a inflação voltou aos 30%, etc..
Cavaco Silva, não sendo eu cavaquista, no global, deixou o país melhor que encontrou. Eu sei que havia os fundos da CEE, mas de qualquer forma, houve em 10 anos um grande salto. De qualquer forma, as alternativas: Almeida Santos (sem comentários), o PRD que nem líder tinha (Eanes ainda era PR), e o PCP. O CDS tinha o interessante Lucas Pires, foi pena o Cavaco não ter chamado para o Governo em 85.

Anónimo disse...

Sobre o Mário Mesquita: ter aguentado 7 anos no DN, por entre governos PS, AD e PS-PSD é obra.

Quando escreveu esse editorial já estava demissionário, daí o tal 'Deus não dorme'.

Arnatron disse...

Essa é infelizmente uma grande verdade ... com João Salgueiro ... teria-mos ficado bem melhor ... mas temos que ir à bruxa ... só nos sai-em na rifa indígenas desse calibre ... que nos levaram ao caos ... pode ser que o Passos Coelho ... ganhe juízo ... e siga os conselhos que recebeu do Dr. Sá Carneiro ... antes de ser assassinado ... mas só se tiver coragem ... e começa a ser difícil ... de ver quem a tenha ... senão já não existiam greves nos portos ... que estão a acabar com um sector que era próspero ... mas o PCP mais o Electricista estão a fazer um bom trabalho de destruição ... e estão a deixá-los ... concluírem-no ... uma desgraça nunca vêm só ... Azar nosso ...

STA: quatro anos para isto!