domingo, abril 27, 2014

A foto rolante

Se não fosse o facto de se tratar de Jorge Calado nem ligava. Assim, ligo. A última edição da Atual do Expresso traz um texto de Jorge Calado, o professor do Técnico que é um barra em Químicas ( ao ponto de ser autor de livros de referência)  e que costuma escrever sobre músicas e eventos culturais no mesmo jornal.

Desta vez o texto é sobre fotografias do tempo da Revolução que Jorge Calado também celebra como um happening da Liberdade. Enfim, adiante.
Há uma imagem que Calado diz ter sido publicada na revista "Rolling Stone de Novembro de 1975". Não é verdade.
A imagem é esta, a maior e a cores:


Ora a autora da imagem, Elizabeth Lennard  fotografou realmente Lisboa para a revista Rolling Stone, tendo sido publicadas fotos na edição de 20 de Novembro de 1975 ( em Novembro houve outra edição, em 6 de Novembro porque saia todos os quinze dias e não mensalmente), nos EUA e havia ainda uma edição inglesa, cópia daquela excepto nos anúncios.

O que a edição original da revista publicou foi isto que mostro. Foi nessa mesma altura que comecei a comprar a revista, precisamente dois números antes, na edição de 23 de Outubro. 



Há duas páginas de fotos e texto mas não aparece aquela foto que nos mostra, se não estou enganado,  um lampejo das escadinhas do Duque, que começam por trás do muro, onde estão alguns dos melhores alfarrabistas de Lisboa de literatura "popular".


Provavelmente aquela foto apareceu em alguma exposição posterior ( em 2011 segundo o artigo) mas não na edição original da revista e creio que também não apareceu na edição inglesa.
Enfim, uma minhoquice que me apraz registar.

10 comentários:

zazie disse...

Memória de elefante

eheh

José disse...

Acho que vi as fotos todas que foram então publicadas sobre o assunto. Quando surge uma que não me lembro de ver, vou verificar e...lá está: não foi publicada.

José disse...

Acho que tenho uma memória tão vívida desses anos que até me arrepia. Não sei porquê, mas acompanhei tudo. E nem ligava muito, só lia os jornais.

E lembro-me muito bem de todos os anos, com particular destaque para os dos setenta. 1977 e 1978 tenho lembranças mês a mês, por motivos pessoais fantásticos. Uma das melhores épocas da minha vida.

No início dos oitenta desliguei um pouco, por motivos pessoais, mas em meados da década voltei a ligar outra vez a memória que registou tudo.
E coleccionei os jornais e revistas que me permitem relembrar. Até hoje.

José disse...

A minha maior surpresa? Saber, há pouco tempo pela minha mãe, que o meu pai, pessoa que sempre admirei, votou sempre...PS.

Apesar da minha doutrinação em meados dos oitenta...ahahaha.

Tempo perdido. Por isso é que digo que há razões que a razão desconhece, para estas coisas.

José disse...

Eu costumava discutir tudo com o meu pai que tinha uma instrução à antiga e sabia coisas antigas que me apetecia sempre ouvir. Aprendi muito.

Mas de todas as vezes que surgia política e os meus argumentos se sobrepunham rematava sempre a conversa assim: "pois, sabes isso porque eu pago". E era verdade...mas ainda argumentava: paga, mas não é por isso que sei.

zazie disse...

ahahahahah

Que engraçado. E ele nunca lhe disse?

Mas a memória é um fenómeno.

José disse...

Nunca me disse. E eu fartei-me de lhe gabar os méritos do Cavaco, em 85...ahahah. Depois em 95 gabei-lhe os méritos do Guterres...

Mas com o meu pai as conversas eram sobre o passado.

Antes de morrer, uns dias, perguntou-me: Zé, o que é que achas que vai ser isto, no futuro? Achas que vai melhorar?
E eu: claro, as coisas melhoram sempre. Veja por si. E lá falávamos das experiências de anos.

Tenho muitas saudades do meu pai.

José disse...

Às vezes dou por mim a tentar lembrar-me de uma coisa e a pensar que já não tenho quem me ajude a lembrar com precisão os factos.

Ocorre-me muitas vezes.

Floribundus disse...

do meu Prof do Liceu Mouzinho da Silveira

« "Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; »

meu pai morreu quando fiz 5 meses

Floribundus disse...


A minha Dor, vesti-a de brocado,
Fi-la cantar um choro em melopeia,
Ergui-lhe um trono de oiro imaculado,
Ajoelhei de mãos postas e adorei-a.

Por longo tempo, assim fiquei prostrado,
Moendo os joelhos sobre lodo e areia.
E as multidões desceram do povoado,
Que a minha dor cantava de sereia...

Depois, ruflaram alto asas de agoiro!
Um silêncio gelou em derredor...
E eu levantei a face, a tremer todo:

Jesus! ruíra em cinza o trono de oiro!
E, misérrima e nua, a minha Dor
Ajoelhara a meu lado sobre o lodo.

José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'

O Público activista e relapso