segunda-feira, dezembro 12, 2011

Portugal vive num mundo de fantasia

Publico aqui um comentário desenvolvido, tal como apresentado pelo comentador Zephyrus, sobre o nosso ensino superior e o que o precede. Enquanto indivíduos do tipo Gago continuarem no Ensino isto só anda para trás. O ensino em Portugal é o maior logro de sempre. E suspeito que foi a "paixão pela Educação" que nos tramou mesmo a todos. É uma leve suspeita, mas com algum fundamento. A tentação da aldrabice e a troca de verdadeiros conceitos por ideias ocas deu no que deu: gagos a mais com discursos redondos.

"De facto devo dizer que ingressei em Medicina graças a explicações. E isso sucedeu porque na escola pública parte da matéria não foi leccionada. Antigamente tinham explicações os maus alunos, isto no tempo dos meus pais. Mas a escola pública está tão má que agora que até os bons alunos têm de gastar fortunas em explicadores.

Aproveito para dizer que há muito chico-espertismo no acesso a Medicina e a outros cursos de média elevada. Quem paga o colégio privado certo tem mais facilidade de acesso. Isto porquê? Nas últimas décadas começou-se a incluir na avaliação final a participação, a assiduidade, a pontualidade e o comportamento, além dos trabalhos e apresentações. Só os conhecimentos teóricos avaliados em exame teórico, oral ou prático não chegam. Cada professor escolhe a percentagem que atribui a cada item, e claro, avaliar de 1 a 20 a participação de um aluno é algo extremamente subjectivo. Há alunos mais tímidos, por exemplo, que têm notas excelentes no testes e exames, e que são prejudicados na nota final em 1 ou 2 valores por participarem pouco. E esse valor pode fazer a diferença entre entrar ou não no curso que se deseja.

Então alguns colégios privados resolveram inflaccionar notas internas. Enquanto que na escola pública, não raras vezes, um aluno com média de testes 18 pode ter um 16 porque não participou o suficiente ou porque a apresentação em Power Point não estava muito «cativante», nesses colégios sucede o contrário, e um 16 é facilmente inflacionado para... 20.

A matrafisga deixa às portas de Medicina centenas de alunos da escola pública, com média de exames superior, que não conseguem concorrer com as médias internas de 19 ou 20 de vários alunos de colégios privados. E não se pense que o Ensino neste colégios é muito melhor. O que sucede é simples, a maioria dos alunos têm pais com dinheiro para pagar explicadores: e preparar bem para os exames nacionais.

A Esquerda, sempre tão amiga dos pobres e desfavorecidos, defende há muito a abolição dos exames nacionais, e o acesso exclusivo ao Superior com médias de secundário.
É o caso do BE, do PCP, de uma qualquer associação de pais, malta do ISCTE e do PS.

Se fossem tão amigos do pobres, pelo contrário, defenderiam um acesso ao Superior feito apenas com exames, média calculada apenas com nota de exames de acesso, o fim do facilitismo na escola pública, e das avaliações com participações e comportamentos e trabalhos e tal que só beneficiam baldas e prejudicam os bons alunos.

O nosso Ensino Superior tem graves problemas, e não há coragem para mexer nas capelinhas e no chico-espertismo de muitos professores, direcções e «tradições» diletantes.

Portugal, refiro, não tem nenhuma universidade nas 100 melhores da Europa ou do mundo, e veja-se quantas tem Israel ou Espanha, a título de exemplo.

Um dos defeitos do nosso ensino é a formação de gente que o mercado de trabalho não precisa. Sou a favor de situações de ligeiro subemprego, mas não de desemprego maciço. Não faz sentido que se gaste tanto dinheiro em gente que depois não terá qualquer saída profissional. E o desemprego de licenciados, maciço, é típico do Sul da Europa, de países como Espanha, Grécia ou Portugal.

Mas por cá continuam a cometer-se os erros do passado, e de sempre. Medicina caminha para o desemprego maciço, coisa que na área sucede apenas em Espanha, Grécia ou Itália. Há excesso de cursos e de vagas, tal como há também em Direito, Enfermagem, Medicina Dentária, entre outros. Mas isso não preocupa ninguém. Nem preocupa que haja 300 ou 400 vagas em cursos onde as instalações só têm condições para metade dos alunos. O que interessa é que as faculdades recebam dinheiro, e esse entra de acordo com número de alunos inscritos. Quantos mais houver, melhor.

Também não interessa que haja cursos com cadeiras com taxas de reprovação superiores a 50%, que acumulam perto de 1000 alunos ou mais. E que haja cursos onde o tempo médio para conclusão é de 6 anos, cursos de 3 anos, sublinhe-se. E tal sucede porque entra quem não está preparado, porque o Secundário é mau, os professores do Superior são incompetentes e os alunos, ao invés de estudarem, brincam nas praxes, festas académicas e afins.

Nos EUA, por exemplo, uma taxa de reprovação superior a 10% numa cadeira põe qualquer um com os cabelos em pé. E que chumba de ano no Superior arrisca... a expulsão. Isto num país onde a maior parte dos estudantes trabalha em part-time para pagar os estudos. Mas por lá não se brinca às praxes nem se perde tempo com outros diletantismos.

A qualidade dos noss professores deixa muito a desejar. Muitos nem fornecem uma bibliografia recomendada, e avaliam matérias que não foram abordadas nas aulas. Os alunos andam «às aranhas» sem saber por onde estudar, e como estudar. Bastaria fornecer algo tão simples como uma páginas ou duas com o nome dos livros, os capítulos a ver ou as páginas. Mas nada. E agora há outra praga, os diapositivos. Os alunos em Portugal memorizam frases de diapositivos! Há tempos um aluno italianos, de Erasmus, ficou surpreendido com a tradição, e referiu que em Itália tal seria impensável, pois por lá estuda-se... por livros. E cá há situações caricatas. Um aluno pode ter de esperar mais de um ano por uma equivalência a uma cadeira já concluída. Nesse ano poderia ocupar esse tempo a fazer uma cadeira do ano seguintes. Mas nós desconhecemos conceitos como produtividade e gestão do tempo. E estamos habituados a ter gente que se passeia uma década pelos corredores universitários. Veja-se o caso do actual Primeiro Ministro ou de tanta gente do Governo de José Sócrates.

Isto está tão desorganizado e medíocre que só uma Reforma ao estilo Marquês de Pombal para pôr a casa em ordem. E essa reforma implica um novo método de acesso ao Superior, com exames difíceis, encerramento de dezenas ou centenas de cursos, encerramento de faculdades, escolas superiores e até de uma ou duas universidades, novas regras para transição de ano, penalização dos «baldas» (alunos e professores), avaliação externa da qualidade de ensino, etc"

Aditamento às 23:55 de 12.12.2011:

No Prós e Contras que corre tempo na RTP1, o ministro da Educação, Nuno Crato, o banqueiro Fernando Ulrich, um responsável pela universidade Técnica e uma responsável pela Univ. Católica, estão a concluir que na Educação portuguesa do ensino superior é tudo Prós. O melhor dos mundos.
Fernando Ulrich acha que as universidades portuguesas estão muito bem e que o seu banco que emprega cerca de 7 mil pessoas cá em Portugal nunca teve dificuldade em recrutar bons profissionais universitários. De resto são todos muito bons.
Nuno Crato elogiou publicamente os seus antecessores, Gago, e os demais. Curiosamente prepara-se para alterar várias coisas que os antigos ministros fizeram...

Assim, com todos estes prós até me sinto mal com tantos contras.

Por fim, às 0:50 ocorreu-me o seguinte pensamento: com tanta excelência proclamada porque é que estamos na bancarrota?

Questuber! Mais um escândalo!