
Algumas das campanhas publicitárias da Benetton provocaram polémica e protestos variados pelo efeito pretendido pela empresa de chocar as pessoas.
Os publicitários italianos e os donos da firma não acharam melhor estratégia de marketing comercial do que publicar grandes pancartas publicitárias com imagens-choque sob a capa artística e com laivos de pretensa evolução artística revolucionária. O mau-gosto não importa, desde que sirva para vender o produto- é essa a lógica inexorável que os marxistas sempre entenderam e por isso vituperam o capitalismo.
Mas há marxismo e marxismo e a esquerda portuguesa tão bem exemplificada no artigo de São José de Almeida no Público de hoje, jacobino até mais não, encontrou outra bête-noire para malhar, para além daquele fenómeno que "agora não interessa nada": a Igreja Católica, cujo Papa lhes é hostil ao ponto de perderem as noções básicas da realidade mais comezinha e começarem a tergiversar em eloquências patéticas.
A última campanha-choque da Benetton encontrou novamente um motivo de escândalo de que tanto precisa para vender camisas de noite e roupas de dia: supostamente inspirada numa ideia de "paz e amor", com recendências hippies, entendeu hostilizar abertamente a Igreja Católica, ofendendo a sensibilidade à flor da pele da sua hierarquia mais elevada.
Sabiam que tal ia suceder, quiseram-no expressamente para aparecerem nas notícias de todo o mundo que compra roupa nas suas lojas e não recuaram senão após ameaças de procedimentos judiciais por ofensa à imagem do Papa. O efeito estava conseguido e por isso, cederam. Tudo nos conformes dos compêndios do marketing e da avidez do lucro.
Eis senão quando, aparecem estas abencerragens da esquerda florida hippie e serodeamente jacobina a protestar contra a Igreja Católica por ter sido "intolerante". E com argumentos de um peso intelectual de fazer vergar uma mula velha carregada de alfarrábios. A Igreja ( a que apodam de ICAR rebuscando o acrónimo) "demonstrou ignorância em relação às simbologias de poder e à história " ( sic) e "também porque passou para a opinião pública a imagem de que o que estava em causa na campanha seria a erotização da casta imagem de um líder religioso, resvalandoo aqui na mais opressora homofobia " ( sic again).
Esta ideia primária sobre a ignorância do Papa ou do Vaticano, além de estúpida é ignominiosa e reveladora mais de quem a profere do que de quem pretende atingir. E mesmo não descobrindo no comunicado do Vaticano qualquer laivo da imputação, o processo intencional já foi levantado e terminado com acusação à boa maneira inquisitorial ou mesmo estalinista.
E toca depois a tecer o panegírico mais uma vez de uma estupidez flagrante, à campanha publicitária de uma empresa multinacional cujo único desiderato é vender roupa. Mistura a "simbologia do poder" com a cultura europeia e procura explicar fenomenologicamente a ocorrência histórica de um beijo na boca dado por dois marmanjos do poder socialista do antigo bloco soviético, em nome de uma tradição e de um folclore que foi explorado iconicamente e até ridicularizado, mas cujo valor simbólico é agora recuperado em nome de uma lógica capitalista.
Maior estupidez pode existir, assim?
Só mesmo no jacobinismo...

E depois disto, ocorreu-me uma ideia: e se aparecesse por aí, em pancartas a publicitar, sei lá!, por exemplo a campanha da esquerda contra a "troika", uma imagem de Álvaro Cunhal nestes mesmos preparos com Honneker, o que aliás é muitíssimo plausível ter sucedido?