terça-feira, dezembro 13, 2011

Horários escolares

Segundo notícias de hoje, ( jornal i) o Ministério da Educação prepara-se para rever o curriculo do 2º e 3º ciclos e do ensino secundário. Pelos vistos são "alterações cirúrgicas" que não contendem com o modelo jacobino que temos no ensino oficial.
A distribuição das disciplinas fica assim ordenada:

Em 1970-71-72, no antigo 4º e 5º anos, correspondentes aos oitavo e nono actuais, a distribuição das disciplinas e currículo respectivo estava assim ordenada:

Aulas, praticamente só de manhã. Poucas disciplinas. Quem frequentava este ensino ficava pelo menos preparado para saber o essencial de modo a entrar no ensino superior sem problema de maior. As "explicações" eram raras e apenas destinadas aos mais desleixados, para não dizer outra coisa.

Passados quarenta anos, o que temos como panorama de ensino básico e secundário? Uma frequência massificada e que quadruplicou o número de alunos, pelo menos. Disciplinas extravagantes que agora se pretendem "enquadrar", se não eliminar, do currículo. E em vez de se acompanhar a mudança quantitativa com esforço qualitativo correspondente, o laxismo e facilitismo prevaleceu. A incompetência ganhou. Tudo em nome de ideais fabulosos de democracia, igualdade, solidariedade e mais um par de botas. Novas e para fazer inveja às do Velho...
Só como nota de curiosidade: estes horários eram oferecidos pelas livrarias e papelarias, em troca dos livros, claro está. Que eram comparativamente mais baratos que hoje, em menos profusão e com maior rigor científico em certas matérias. No caso, os horários são da Livraria Bertrand.

17 comentários:

Wegie disse...

José,

Até as memo-fichas usadas pelos mais cábulas continham mais matéria que qualquer compêndio escolar da actualidade.

joserui disse...

Nunca tive horário ao Sábado... e sempre tive aulas à tarde...
José, anda aí uma petição em defesa do "Público"... parece que o pasquim está nas últimas... os jacobinos não compram jornais? -- JRF

zazie disse...

Maravilha estes testemunhos.

josé disse...

Tenho pena do Público e dos jornalistas, mas não vou chorar porque sei que foram eles quem cavou o buraco onde estão. E não têm emenda.

Julgam-se ainda nos tempos áureos do jornalismo de causas. Nos tempos prequianos ou coisa que o valha.

A directora Bárbara de onde vem? Onde se formou? Quem a ensinou?

Nunca vi cousa assim.

Wegie disse...

Onde é que está a petição para eu me rir um bocado?

joserui disse...

Anda por aqui: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N17936 -- JRF

Isménia disse...

Latim no 4º Ano? Só se for num seminário tipo Manhã Submersa. Num Liceu o Latim só existia no 6º e 7º anos.

josé disse...

Ligeiramente diferente do Manhã Submersa, mas essencialmente o mesmo.
Latim é apenas uma disciplina. As restantes podiam replicar-se no ensino público.

josé disse...

skeptikos:

O Godofredo confundiu as saladas: em vez de amêijoas optou por tomates...

Zephyrus disse...

Há muito que defendo horários produtivos no ensino português. Sem sucesso, obviamente. Mas sempre houve esta desorganização, este desperdício de tempo em quem elabora os horários? Não.

Cresci numa pequena (e antiquíssima, anterior ao Império Romano, um orgulho para os poucos que conhecem a sua História) vila portuguesa. Há doze anos ainda havia Ensino Básico Mediatizado. E a minha mãe decidiu que não iria para a C+S do concelho, fazer o quinte e o sexto ano. A «telescola» era leccionada na escola primária, o edifício ficava do outro lado da rua e havia, afinal, pessoas lá da terra nas Universidade de Coimbra, Lisboa e Porto que tinham passado pelos bancos da telescola.

E como funcionava a telescola? As aulas tinham início às 13h15 e terminavam às 18h30. Havia um ciclo de Humanidades, e outro de Ciências: cada um com uma professora distinta. No ciclo de Humanidades tínhamos Francês, Língua Portuguesa e História e Geografia de Portugal. No de Ciências, Matemática e Ciências da Natureza.

Os testes eram feitos pelo Ministério da Educação, e havia datas determinadas pelo Ministério para serem feitos. Portanto, os programas eram cumpridos. E os testes eram exigentes. Praticamente todos os períodos a escola recebia a visita de uma inspectora, que assistia a aulas, consultava o livro de ponto, e se algo estivesse mal, a professora levaria a devida reprimenda. E devo dizer que as docentes tinham um imenso respeito à inspectora, e um pavor enorme às suas visitas!

Zephyrus disse...

Os livros eram emitidos pelo Estado. Papel de má qualidade, imagens a preto e branco, muito baratos. Não havia bonequinhos, esquemas, tabelas. Algumas imagens, e texto. Mas os conteúdos, devo sublinhar, eram bons. E ainda hoje os guardo. Depois havia complementos, que os alunos mais abastados emprestavam nas aulas aos mais pobres. Levava o Larousse de Poche, o dicionário de verbos franceses, mais o dicionários de francês-português, português-francês e língua portuguesa. E ainda uma gramática francesa, antiga, que fora da minha mãe nos seus tempos de liceu. Ia tudo numa mochila com rodas, tal era o peso!

Entre os dois ciclos havia quinze ou vinte minutos de intervalo. Dava para lanchar e dar uns toques na bola.

A Educação Moral e Religiosa Católica era desprezada em prol das disciplinas centrais, com a complacência da inspectora. A minha mãe não se importava, pois frequentava a catequese, e segundo entendia, bastava. A Educação Física, Musical, Visual e Tecnológica também eram desprezadas. Frequentava aulas de natação e aulas de música fora da telescola, portanto, dizia a minha mãe, não havia problema algum.

Mas o ensino das disciplinas centrais era excelente. Aprendi mais francês em dois anos de telescola do que posteriormente do sétimo ao nono ano. Pelo contrário. O meu nível de francês, posteriormente, regrediu. Na C+S, por exemplo, nunca usei o Larousse de Poche nem a Gramática Francesa!

Zephyrus disse...

Em Língua Portuguesa era fornecida uma selecta, com uma colectânea de textos seleccionados. Sem imagens, bonecos e infatilidades. Só textos. Lemos Aquilino, Sophia, mitologia grega. E em História e Geografia decorámos datas, os nomes dos rios e afluentes, cordilheiras montanhosas da Península, espécies endémicas de Portugal. Fomos além do que era exigido pelo programa. E recordo, no teste do Ministério, saiu uma vez uma série de mapas com a distribuição exacta de várias árvores endémicas de Portugal. E quase toda a turma acertou. Pergunto se muita gente com o 12.º ano, actualmente, acertaria.

Não havia disciplina nenhuma de área projecto. Mas todos os meses eram entregues à professora as nossas recolhas de contos, provérbios, lendas, versos populares. E ainda houve tempo para fazer um caderno de História local. Até lemos o foral da terra e consultámos documentos antigos, alguns medievais!

Havia na turma classe média-alta, classe média, adolescentes que viviam em casas quase sem telhado, outros do bairro social. Havia muito ricos e muito pobres. Os extremos. Mas havia algo que hoje se perdeu... um espírito de convivência saudável, sem os exibicionismos das roupas de marca ou dos iphones, nem o ódio aos «ricos» dos mais desfavorecidos. Entre nós, naquela turma, quase não havia classes. E assim, a escola pública, dava uma formação humana e era uma bela lição de convivência.

Isto foi há cerca de 12 anos. O que mudou então? O que se perdeu? Onde e como começou a indisciplina? O «divórcio» de classes? A fuga do ensino público por parte de quem tem dinheiro para pagar o privado? A queda do público nos «rankings»?

Mas voltemos à telescola. O modelo tinha muitas virtudes. Era exigente. E proporcionava uma instrução com muita qualidade nas discplinas fundamentais. Não se perdia tempo com o que não interessava, ou com o menos importante. E deu uma formação a tanta gente desfavorecida que de outra forma nunca teria.

Quando se fala em Reforma disto e daquilo, olhe-se para o que foi a telescola, e depois que se faça a reflexão necessária. Era barato, eficaz e permitia aos jovens que estudassem nas suas vilas e cidades, perto da família.

Quando mudámos para o sétimo ano, para a C+S pública, foi o descalabro. A professora de francês deu pouco mais de 30 aulas, nesse ano. Faltava. Nada aprendemos. A de História nem leccionou metade do programa, ficou na Grécia Antiga. Faltava. O de Matemática era uma facilitista atroz, agora, sei, faz exames nacionais. A Português nada evoluímos. A de Geografia faltava que se fartava. E a indisciplina era tal que a turma da minha vila, a minha turma, foi dispensada das aulas no última semana, para prevenir mais violência. A minha mãe entretanto tratou da morada falsa. Não havia outra alternativa para escolher uma escola decente, já que na zona, num raio de 60 km, não havia a alternativa privada...

Zephyrus disse...

Acrescento que da minha turma de telescola, nunca ninguém reprovou até à conclusão do 12.º ano. Sem contar com uma ou outra alma, de famílias muito desfavorecidas, que desistiram antes do Secundário, mas aí a história era outra. Tive melhor instrução do que se tivesse frequentado qualquer C+S da zona. Disso não duvido!

Zephyrus disse...

Mas agora fala-se tanto em avaliação dos professores, preços dos livros, poupança na educação, facilitismo, por que raios ninguém fala da telescola? Por que motivo nunca ninguém se lembrou de estudar este modelo? Aliás, por que foi extinto?

josé disse...

Zephyrus:

As minhas irmãs frequentaram a telescola e sei muito bem do que fala/escreve.
Por isso vou colocar outra vez em postal porque está certo o que diz e que muitos esqueceram.

Aliás, a Telescola durou para além do 25 de Abril. Até aos anos oitenta, pelo menos.

Zephyrus disse...

Obrigado pela publicação. Eu ainda frequentei mesmo no final dos anos 90!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

A obscenidade do jornalismo televisivo