quinta-feira, dezembro 22, 2011

Cenas de um tribunal

Decorreu ontem no tribunal a 12ª audiência de julgamento do processo Face Oculta. O Correio da Manhã, constituido assistente nos autos, requereu a audição pública de conversas gravadas entre Armando Vara e Rui Pedro Soares, por ocasião dos factos mais relevantes para os magistrados e investigadores considerarem que se estava perante um crime de atentado ao Estado de Direito. No centro de toda a estratégia para tomar de assalto vários órgãos de comunicação social estava o primeiro-ministro José Sócrates e é isso que as escutas revelam. Escutas que foram mandadas destruir pelo presidente do STJ, por serem irrelevantes, com parecer prévio nesse sentido do PGR.
As conversas de Vara com aquele ""boy" socialista que logrou condenar o semanário Sol a uma pesada indemnização, precisamente por causa destas escutas, são suficientemente eloquentes para se saber quem era o "chefe" desta conspiração contra o Estado de Direito. Os mais altos representantes do poder judicial entenderam de modo diverso, desvalorizaram, desqualificaram os argumentos de outros magistrados também empenhados em aplicar a lei e o direito e tudo ficou para já, em águas de bacalhau, tal como a maior parte do jornalismo que guia a opinião pública.
Isto que sucedeu em Portugal, no Verão de 2009 é intolerável numa democracia. É um escândalo sem precedentes. Se a opinião pública fosse mais exigente e menos anómica isto não ficava assim. Em qualquer país europeu, uma coisa destas era motivo de levantamento de rancho. Aqui, o jornalismo caseiro e afeito ao dono, ideológico ou do cacau que lhes mantém o emprego, calou e consentiu.

Tivesse a lei e o direito seguido o seu curso, como deveria porque todos são iguais perante a lei e possivelmente não haveria os famigerados PEC´s ou talvez a troika não viesse tão cedo e os subsídios não fossem cortados tão depressa.
Os que o provocaram directamente estão agora no bem-bom, sentem-se confortavelmente descansados porque sabem que continuam a gozar da protecção habitual. Ninguém lhes pediu contas oficialmente e as eleições branquearam tudo.

"Temos de controlar os gajos que escrevem", disse Vara despudoradamente. "Temos"...e já se sabe muito bem quem eram os que tinham de o fazer, tentaram e de algum modo conseguiram.
Este crime passou impune na actual sociedade portuguesa e o prevaricador-mor ainda anda por aí a dizer baboseiras, impante e seguro da impunidade.

Como elemento algo anedótico pode ler-se que o advogado de Armando Vara não queria que fossem ouvidas as conversas entre o seu cliente e o tal "boy". Mas quer que sejam ouvidas as conversas alegadamente destruídas...ahahahah! É um pândego, este advogado.
As imagens são do Correio da Manhã de hoje.

Questuber! Mais um escândalo!