segunda-feira, abril 27, 2009

Sensatez, procura-se


A professora catedrática de Direito Penal, Fernanda Palma, escreveu no Correio da Manhã de ontem, mais um artigo que só pode causar, pelo menos, indignação.

Vejamos o escrito para perceber melhor o sentido que tem, obviamente relacionado com notícias recentes daquele mesmo jornal no sentido de as listas inglesas de pedófilos reconhecidos como tal, estarem em estado reservoso, por motivos que mal se entendem.
Fernanda Palma, mais uma vez e em auxílio teórico de guardiães de algo indefinível, mas objectivamente a favor do lado escuro das ruas, vem perorar por escrito, nestes termos:

"Não faz parte da tradição portuguesa afixar cartazes com as fotografias dos criminosos procurados, mesmo que evadidos e até, porventura, perigosos. Essa prática, que todos observámos em inúmeros filmes de cowboys, não tem sido seguida por nós.

Nos anos oitenta, recordo-me de ter visto nas estações de correio alemãs retratos de suspeitos de terrorismo – do grupo "Baader-Meinhoff" –, com a promessa de uma recompensa generosa pela captura. Esses anúncios não deixaram de me chocar.
A ideia de denúncia e activismo do cidadão anónimo na colaboração com a Justiça também não é intrinsecamente portuguesa. Havia, claro está, boas e más razões, próximas e remotas, para algum distanciamento dos cidadãos das actividades policiais.
Entre as boas razões destaco a repulsa pelo passado inquisitório e pela acção da polícia política. Nas razões más incluo uma identificação congénita com os infractores e o pouco valor da autoridade do Estado, para quem sentia não participar na decisão social. "

Ora bem. E serão boas as razões para se sentir e declarar “chocada” ao ver os retratos de suspeitos de terrorismo do Baader- Meinhoff, nas estações de correio alemãs ( poster na imagem acima) ?

Poderão estar entre as boas, o famigerado Humanismo que aflora sempre nestes escritos, em favor de criminosos e delinquentes, com uma ou outra excepção, como seja a de sancionar teoricamente uma ordem de autoridades, para matar sequestradores, quando se sabe que essa autoridade, dependurando o casaco do poder, entrava em casa?

O grupo Baader-Meinhoff foi dos grupos terroristas mais sangrentos e aterrorizadores do último meio século do século que passou, na Alemanha.
À sua conta, em explosões com vítimas aleatórias, execuções programadas e atentados cirúrgicos, amealhou na carteira de sangue, mais de 30 pessoas mortas e mais de uma dúzia de feridos. Isso em meia dúzia de anos, no início dos anos setenta. Meia dúzia de polícias e as restantes, vítimas do acaso e também da selecção.

Cada uma dessas 30 pessoas, tinha família que chorou a sua morte para sempre. Uma morte em nome do terrorismo de esquerda, para uma “sociedade mais fraterna e mais justa” certamente. Mais humanista, portanto. De palavra em palavra e de conceito em conceito, a justificação da “luta “não ficará muito longe.

Cada uma dessas 30 pessoas, aparentemente, contam pouco ou nada para o choque de Fernanda Palma. O que conta para o choque, são aquelas caras expostas em mugshot, de facínoras civilizados e arrevezados na aventura de matar indiscriminadamente em nome de ideiais políticos de Esquerda, neste caso.

Nem sequer é um cartaz de ignomínia pessoal aos assassinos. É apenas um cartaz de apelo a transeunte, para obter a informação que permitisse a captura e parasse a mortandade rompante.
A Alemanha em 1977, passou por uma crise terrorista grave. Durante mês e meio, sucederam-se os raptos, assassínios, sequestros etc. Tudo dos piores crimes que se possa imaginar.
O cartaz acima mostrado é de 1972 e nessa altura já havia vários mortos.

Nada disso, nem os anos passados, aparentemente, serviu para atenuar o choque da sensibilidade específica de Fernanda Palma.
E se tivesse visto no mesmo local estes dois posters, das acções desse grupo de humanistas do terrorismo com causas de esquerda?


















Isto faz lembrar uma cena do filme turco IOL, de há uns anos. Um preso vira-se para outro, ao ver a sua foto em retrato de prisão, comentando, também chocado, que ali naquela imagem, parece um criminoso. O outro pergunta-lhe porque está preso. Ora, porque matei a minha mulher, responde-lhe candidamente o assassino.

Questuber! Mais um escândalo!