terça-feira, dezembro 27, 2011

Dizer mal

Na sua cronica de hoje, no Público, Pedro Lomba escreve que os portugueses se caracterizam por "falar mal" de tudo e de todos. E que levamos uma vida "que funciona como uma espécie de sabotagem"; Que nos "esmeramos em sabotar tudo o que fazemos; retiramos às coisas o seu significado e seriedade; fazemos revoluções, duelos mortíferos, grandes proclamações de princípio, mas depois acaba sempre tudo como dantes. Não se avança nem se recua. Fica-se como se estava."

Na sua crónica de dentro, duas páginas antes, MEC escreve que "a Internet" ( ou seja, os blogs) "é um parasita multiforme da imprensa" e que sem ela, "parando o anfitreão jornalístico, fez dieta", como aconteceu nestes dois dias de Natal. "A Internet é um crava que sai caro".

MEC , portanto, comporta-se segundo o paradigma de Lomba. Diz mal da "internet" ( dos blogs, naturalmente) porque se alimenta essencialmente da imprensa, e para dizer mal, segundo Pedro Lomba.

Por mim falo. Mal. O que me suscita curiosidade nas notícias, comentários ou opiniões alheias publicadas na imprensa ou noticiadas nos media em geral, são os fenómenos que representam.
Se esses fenómenos não são positivos no sentido de se conformarem com o modo como vemos e sentimos o mundo, as coisas e as pessoas, o que fazer? Ignorar? Nada dizer, para não dizer mal? Filosofar em modo relativista e fenomenologicamente puro e tergiversar sobre o conhecimento e o objecto do mesmo?
Não. Tal exercício é deletério, serve para nada e a reflexão crítica sobre os fenómenos que nos acontecem colectivamente merecem atenção individual dos destinatários, tanto mais se forem negativos para a vida em comum.
Tal como no jornalismo o que é notícia nos postais é quase sempre o inverso da normalidade, o homem que morde no cão.
Relativamente ao vampirismo ( melhor seria dizer parasitismo) da internet ( os blogs) para com a imprensa é evidente também que ninguém dá "pontapés em cães mortos", só para continuar a analogia. Se a imprensa é fonte de motivo de opinião é porque o papel da mesma é mesmo esse: dar as notícias. E se às mesmas juntam comentários, assimilam os dois campos e muitas vezes em modo sintomático porque é sinal que essa imprensa vive de causas. E esse fenómeno reflecte um outro para além do mero papel da imprensa como veículo de notícias: o do jornalismo empenhado. Tipo "canção de protesto"...e portanto nesse caso, "la boucle est bouclée", legitimando o parasitismo saudável, aquele que pretende curar males, tal como as sanguessugas são utilizadas para chupar sangue infecto.
A internet ( os blogs) podem e devem parasitar organismos avariados se tal ainda servir para alguma coisa, mormente para de algum modo os regenerar. É essa a função da crítica e do "dizer mal", a meu ver. Uma função higiénica e reparadora, acima de tudo. Positiva, portanto.

6 comentários:

Dr. Assur disse...

Felizmente para contrastar a crónica do Pedro Lomba é a dizer bem... :)

Anónimo disse...

Muito do que se escreve em blogs é jornalismo, só que é sem trela. Até há trabalhos jornalísticos de investigação que têm de ser publicados em livro, porque a matéria é tanta e tão grave que não cabe nos orçamentos dos jornais, das rádios e das televisões. Até há documentos que desapaparecem em direcção ao arquivo morto. E isso não é jornalismo, é putedo. Puro e simples putedo económico.

lusitânea disse...

Sou um dos "cravas" mais notórios dos jornais.Copy e past e depois o veneno...
A vida dos comentadores e jornalistas "amigos" está cada vez mais difícil...os blogs são as antigas máquinas de duplicar clandestinas e o papel de bíblia...
Pá se num ou noutro ponto não se acerta também no antigamente os democratas antifassistas o faziam.E ninguém lhes foi pedir responsabilidade, depois...
A Coreia do Norte fica longe e não deixamos fazer aqui outro paraíso igual...

Miguel disse...

Este post do blasfémias é ilustrativo do que se acaba de dizer...http://blasfemias.net/2011/12/27/duas-formas-similares-de-abuso/

Floribundus disse...

num país civilizado os factos merecem apoio ou critica.
assim se forma a opinião pública.

caso contrário parece o que me disse uma mulherzinha da minha aldeia
'a sua prima acordou morta'

Gallagher disse...

Poucos, mas ainda vão saindo excelentes artigos em jornais, como este:

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/duarte-lima-fixe-bem-esta-palavra---oitiva

O Público activista e relapso