Chega o Natal e já é sabido: todos os que vivem da criação intelectual em obras artísticas tentam vender o seu produto acabado. Os músicos portugueses fazem-no há dezenas de anos. É já uma mentalidade estabelecida e este ano foi a vez de alguns dinossáurios da mpp: primeiro Sérgio Godinho com um disco que devia ter ficado a aguardar mais tempo de maturação. Depois, Fausto, com um disco duplo que comprei e tem algo de frustrante: praticamente é a mesma canção em toada do princípio ao fim. Quem gosta, ouve os primeiros cinco minutos e fica tudo ouvido.
Agora, por último, os antigos Trovante nas pessoas de João Gil e Luís Represas, lançaram um novo disco em dueto.
Tenho um disco dos Trovante que acho fabuloso, o Terra Firme de 1987. De 125 azul a Perdidamente todas as canções são de qualidade auditiva elevada. Obra-prima, claro.
Entretanto, os media portugueses não se fazem rogados e depois de passarem tempo e espaço com Sérgio Godinho e Fausto ( mais aquele que este) dão-no agora aos antigos Trovante. Do que ouvi parece-me bem, mas não suficientemente para fazer esquecer o Terra Firme.
Por outro lado, os antigos Trovante, além da música sempre tiveram ideias avulsas sobre política. De esquerda, como convém. Tipo Público. Por isso dizem assim:
Olhando para um Portugal que tanto mudou ao longo do tempo, os músicos dizem que o país precisa de aprender a promover-se. Gil e Represas defendem um novo 25 de abril, mas, desta vez, ao nível das mentalidades.
“O país caminha a dois tempos. Se por um lado caminha no tempo na inovação, continuas a outro passo lento, o da mentalidade, que continua provinciana, traidora. Precisamos de correr a uma só velocidade”, defende represas.
Gil por seu turno considera que é necessário limpar urgentemente "as cunhas e o demérito”, ou seja, com os vícios que inquinam a evolução de um país que ainda está a aprender a lidar com a sua jovem democracia.
Apesar de tudo, Represas é peremptório ao afirmar que o Portugal de hoje é bem melhor que o dos cartazes nos anos 60 que mostravam uma senhora vestida de preto e um burro em frente a uma casa caiada, com o slogan “Visite Portugal. Visite o Algarve”.
Os antigos Trovante são uns nostálgicos do PREC, é o que é...
7 comentários:
agora temos os 'burros' a entregar a casa por não a poderem pagar
A continuar assim nem dinheiro vai haver para caiar a casa... vai ficar cheia de verdete...
Quem anda para aí a pedir um novo 25A, fica logo dimensionado... o próximo é que vai ser... este saiu um bocadinho ao lado... é como diz o José "não esquecem nada, nem aprendem nada" -- JRF
Essa avaliação do disco do Fausto (o maior génio da música popular portuguesa vivo, e ao qual apenas se pode comparar o josé afonso) é obscena.
Pois é uma opinião. A minha é a que fica e é a de quem conhece todos, mas mesmo todos os discos do Fausto.
E até tenho o single Ó Pastor que choras!
Fausto neste último disco repete-se do princípio ao fim. É uma toada, o disco todo.
E mais: foi por causa de uma canção do Fausto, Rosalinda, que um dia em 1980 ou por aí encontrei José Afonso do combóio de que vinha de Vigo para o Porto e entabulei conversa com ele, dizendo-lhe que em Espanha, a Rádio Popular de Vigo passava nessa altura mais música portuguesa do que o rádio de cá, então todas nacionalizadas. E falei no Rosalinda que de facto era uma música muito passada.
Na boa josé ;) se calhar recomendo que ouças mais um par de vezes - mas é verdade que me parece estar uns furos abaixo do por este rio acima (melhor disco português de sempre?) e do crónicas da terra ardente.
Partilho da opinião do José, sobre o novo disco do Fausto.
Sobre a música dos autores aqui tratados e outros com relevância da mesma época, entendo que é fundamental associar, na maior parte dos casos, os temas à vivência dos tempos. Os outros, a excepção, serão cada vez mais os clássicos: Cantigas de Maio, Venham Mais Cinco, Por Este Rio Acima, Margem de Certa Maneira, etc., etc..
P.S.: A viagem que o José refere de Vigo ao Porto, traz-me à memória o primeiro disco do Sérgio "...vindo desde Vigo ao Porto, sem mala nem passaporte, o comboio era tão velho, que o fumo cheirava a morte, Porto, Porto..."
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