sábado, dezembro 10, 2011

O jornalismo do bacalhau com todos

O caso DSK, os seus desenvolvimentos e o modo como são noticiados pelos media portugueses, com destaque para a imprensa, pode servir de exemplo do modo como se faz jornalismo para quem é bacalhau basta ou, pior, bacalhau com todos os ingredientes da opinião, notícia, manipulação e orientação ideológico-politico-partidária.

Esta semana, uma tv francesa mostrou um video gravado na altura dos acontecimentos, comentando as imagens e atribuindo-lhes um sentido que está longe de se tornar consensual ou mesmo verdadeiro nos seus pressupostos. O mínimo que se esperaria de um jornal decente e que respeita os leitores seria algo que Ben Bradlee, director do Washington Post na altura do Watergate diz, no D.N. de hoje, sobre o jornalismo: "um interesse imenso na verdade".

Vejamos como é que três jornais nacionais relatam a notícia do video e a sua circunstância.

Em primeiro lugar, o Expresso. Em modo retórico mas ideologicamente bem demarcado pergunta se DSK não terá sido vítima...está-se mesmo a ver de quê e de quem: da "direita" e dos famigerados serviços secretos franceses conluidados sabe-se lá com quem e que só queriam apanhar o temível e inocente DSK, para o "tramar". Uma conspiração em forma de notícia.

O Público, esse, desde o início do caso nem esconde a preferência: as interrogações e as dúvidas, por mais pequenas que sejam e não tenham qualquer possibilidade de abafar o escândalo maior, o da "relação sexual consentida" e admitida apenas porque os indícios deixados no lugar não podem ser refutados, são sempre de vulto e de modo a desculpar e a inverter o caso, transformando em vítima quem nunca o foi, antes pelo contrário. Já vimos isso no caso Casa Pia e veremos sempre que a direcção do jornal continuar na senda do jacobinismo. Jornalismo deste é abaixo-de-cão, mas continua na fila, sem qualquer vergonha que se note.

O Correio da Manhã, fiel a um princípio de sensacionalismo, não explora o filão da vitimização de DSK, antes pelo contrário. E acaba por ser o mais isento de todos...

ADITAMENTO em 11.12.2011:

Em abono da verdade deve dizer-se que o Público de hoje dà à estampa um artigo de duas páginas, ( sem chamada de primeira página) sobre " a outra vida de Strauss-Khan revelada num caso de proxenetismo".
O artigo baseia-se num outro do semanário L´Éxpress desta semana e com citações do Libération ( o jornal modelo do actual Público). Um dos factos contados pela revista é que em Fevereiro de 2009, durante um almoço em Paris, no restaurante L´Aventure, após proferir discurso num fórum sobre a crise e as políticas macro-económicas, DSK "tentou fazer sexo na casa de banho com uma das mulheres, que o rechaçou. Ora esta mulher é Béa, ou Beatrice Legrain, companheira de Dodo Salmoura ( de ser verdadeiro nome Dominique Alderweireld) um proxeneta francês que tem uma dezena de casas de alterne e bordéis na Bélgica."

O Público dá conta ainda que havia "um rumor que há muito circulava pelas redacções" sobre a procura de prostitutas por DSK.
Este "rumor" no entanto, não deve ter chegado a nenhuma ou a nenhum dos jornalistas que mandam no Público. E se chegou, "isso agora não interessa nada". O que interessa é o proselitismo político-ideológico sempre no mesmo sentido: a esquerda dos amanhãs que riem para o malvado liberalismo.
É por isso que mal apareça qualquer facto que possa ser usado como arma de desinformação ou que por si mesmo, com o colorido ideológico emprestado, possa desmentir a verdade intuída ou insofismável, a notícia ardentemente desejada será sempre transformada como sendo genuinamente de homem a morder no cão.
No caso, perante as evidências de comportamento desviante dos padrões éticos socialmente aceites, DSK já passou a ser tratado mediaticamente como doente. E os franceses já são apresentados pela jornalista Clara Barata, que assina o artigo do Público, como tendo "nojo" do antigo patrão do FMI. Primeiro acreditam nas aparências que lhes convém ideológica ou afectivamente. O espírito crítico está ausente. A seguir, perante evidências que contradizem essas fézadas afectivas, descrêem e "desiludem-se". E passam ao campo oposto, porque neste jornalismo a objectividade, espírito crítico, distanciamento e entendimento da vida real é uma fantasia.
Portanto, as fases deste jornalismo que olha para os factos como potenciais inimigos das suas idiossincrasias, em relação a este caso, já passaram pelo seguinte: em primeiro lugar as notícias de estupefacção com factos crus e nus como as imagens de um DSK algemado, sempre mediáticas e funcionais. Depois, a referência às dúvidas e à conspiração baseadas em circunstâncias nunca escrutinadas ou revistas com espírito crítico e de jornalismo isento. A vítima escrutinada à porta de casa ( a RTP2 da Felgueirinhas arranjou dinheiro para ir ao local tocar à campainha e mostrar a patética reportagem de coisíssima nenhuma, com laivos de grande feito) e apresentada como indigna de qualquer confiança. A seguir a narrativa da acusação sempre acompanhada pela narrativa da defesa que se sobrepõe, igualmente sem espírito crítico e com títulos de enviesamento ideológico e afectivo que a razão não conhece. Por fim, o alívio com a libertação da "vítima" que afinal pode muito bem ter sido "tramada" e cuja hipótese se busca à outrance nos interstícios da defesa do imputado, com o relevo de uma indignação ideológica. Em continuação, perante a defesa do suspeito, os factos apresentados pelo mesmo como sendo o espelho da verdade e sem qualquer espírito crítico de contradita, de sopeso, de reflexão sobre os motivos e razões das contradições evidentes.

Este percurso é exactamente o mesmo que foi percorrido com o caso Paulo Pedroso, o que prova que esta gente jacobina não tem emenda, não aprende e só envergonha o jornalismo verdadeiro.

1 comentário:

hajapachorra disse...

o mais engraçado na prosa do púbico é referir-se ao tal grupo de Lille como grupo socialista e... maçónico!!! pode lá isso ser? aquilo do avental é consabidamente gente que cultiva a virtude, gostam é de coisas esquisitas com prostitutas e casapianos, para praticar a virtude.

O Público activista e relapso