terça-feira, abril 14, 2009

Vade mecum

João Miguel Tavares, um perseguido dos jornais lusos, pelo poder que está, escreveu mais um epigrama. Esqueceu-se de alguns segmentos nas frases e que tomei a liberdade de acrescentar entre parêntesis rectos:

A justiça [O jornalismo em Portugal] parece-lhe confuso? Não faz ideia porque é que todos os processos [ todas as notícias] que envolvem pessoas importantes acabam sempre em regabofe [ em desinformação] ? Diga não à desorientação! Em apenas 20 passos, eis o guia ideal para entender todos os casos que em Portugal começam com a palavra "caso":

1) Os jornais publicam uma notícia sobre qualquer pessoa muito importante que alegadamente fez qualquer coisa muito má.

2) Essa pessoa muito importante considera-se vítima de perseguição por parte de forças ocultas.

3) Outras pessoas importantes vêm alertar para o vergonhoso desrespeito do segredo de justiça em Portugal, que possibilita a actuação de forças ocultas.


4) Inicia-se [nos jornais] o debate sobre o segredo de justiça em Portugal.

5) Toda a gente
[ com exclusão das que sabem alguma coisa do assunto] tem opiniões firmes sobre o que é preciso mudar na legislação portuguesa para que estas coisas não aconteçam. [e os jornalistas só ouvem quem pouco sabe e por isso escrevem asneiras]

6) Toda a gente [ mesmo as que sabem algo sobre isso] conclui que não se pode mudar a quente a legislação portuguesa.

7) A legislação portuguesa não chega a ser mudada para que estas coisas não aconteçam [
com a excepção do caso Casa Pia e nem tal é denunciado pelos jornais].

8) As coisas voltam a acontecer: os jornais publicam notícias sobre essa pessoa muito importante dizendo que ainda fez coisas piores do que as muito más.

9) Outras pessoas importantes vêm alertar para o vergonhoso jornalismo que se faz em Portugal, que nada investiga e se deixa manipular por forças ocultas
[ Só investiga e mesmo assim na redacção, o que lhe chega por portas travessas "independentes" , em modo "expresso" ou entregues por pigmeus afadigados].

10) Inicia-se o debate sobre o jornalismo português
[ um debate capado por falta de real liberdade de expressão dos jornalistas, acaparada de ignorância crassa sobre os assuntos ].

11) Toda a gente tem opiniões firmes sobre o que é preciso mudar no jornalismo português [
toda a gente é meia dúzia de opinantes sem interesse e um ou outro que escreve editoriais ressabiados].

12) Toda a gente conclui que estas mudanças só estão a ser debatidas porque quem alegadamente fez uma coisa muito má é uma pessoa muito importante [
e porque o assunto costuma ajudar a vender mais umas centenas de exemplares].

13) Nada muda no jornalismo português [
tudo muda e tudo tem ficado na mesma].

14) Enquanto o mecanismo se desenrola do ponto 1) ao ponto 13) a justiça [
o jornalismo caseiro] continua a investigar .

15) Após um período de investigação suficientemente longo para que já ninguém se lembre [ os jornais têm memória flash muito curta que dura da noite para o dia] do que se estava a investigar a justiça [
e o jornalismo caseiro ] finaliza as investigações e conclui [ quando lhes interessa publicar] que a pessoa muito importante:
a) Não fez nada de muito mau. b) Já prescreveu o que quer que tenha feito de muito mau. c) É possível que tenha feito algo de muito mau mas não se reuniram provas suficientes. d) Afinal o que fez não era assim tão mau.

16) Pessoas importantes que são amigas dessa pessoa muito importante concluem que ela foi vítima de perseguição por parte de forças ocultas
[ e o jornalismo caseiro dá-lhes o espaço todo, o microfone por inteiro e amplifica-lhes a voz].

17) Pessoas importantes que não são amigas dessa pessoa muito importante concluem que em Portugal nada acontece às pessoas muito importantes que fazem coisas alegadamente muito más
[ algumas tornam-se colunistas e outras passam a mandar em empresas de jornalismo caseiro ou em partidos políticos].

18) As pessoas citadas no ponto17) iniciam mais um debate sobre a justiça em Portugal
[ porque águarrás no cu dos outros é sempre refrescante para o jornalismo caseiro].

19) As pessoas citadas no ponto 16) iniciam mais um debate sobre o jornalismo em Portugal [
porque a justiça não tem o tempo sincronizado com o jornalismo caseiro].

20) Os jornais publicam uma outra notícia sobre uma outra pessoa muito importante que alegadamente terá feito outra coisa muito má. Repetem-se os passos 1) a 19) [
com os mesmos métodos e até as mesmas pessoas do jornalismo caseiro]. JOÃO MIGUEL TAVARES | DIÁRIO DE NOTÍCIAS | 14.04.2009

11 comentários:

Pedro disse...

E assim se faz uma carreira bonita no jornalismo. Só mesmo um anão se ofende com um tipo destes.

Waco disse...

ah ah ah

delicioso!

Isaac Baulot disse...

Não sei se o processo do José a João Miguel Tavares é mais ou menos judicioso que o do José S..
Se fosse comigo, não sei qual me incomodaria mais.

JC disse...

Não sei se já conhecem, mas recomendo o visionamento deste video com canção dos Xutos.

http://joshuaquim7.blogspot.com/2009/04/sem-eira-nem-beira.html

Ruvasa disse...

;-)

cfr disse...

O José tem toda a razão ( e o talento) na crítica que faz aos jornais e aos jornalistas mas houvesse gente do lado da justiça a escrever nos jornais como o João Miguel Tavares, sem medo e a chamar as coisas pelos nomes e este país andaria bem melhor.
É a primeira vez que comento embora leia e aprecie o José desde in illlo tempore e sempre lhe digo que tem aqui um blog do camandro!

josé disse...

cfr:

Concordo, mas é preciso equilibrar os pratos da balança. Ou seja, o da justiça e o do jornalismo, porque o problema não está apenas na justiça.

E cada um trata do seu eido.

Nem com isto pretendo fazer o processo ao tal João M. Tavares. Já tem quem o faça...

Rebel disse...

Há tempos, alguém me contou a génese do modus vivendi que impera neste pântano à beira-mar plantado.
Aquando da tomada de Lisboa por D. Afonso I, logo após a entrada na cidade e consumada que estava a operação, deu o nosso primeiro rei ordem para que o corneteiro tocasse para início de saque. Acontece que logo após este último ter cumprido a real ordem, alguém o abateu. De forma que continuam alguns ainda hoje à espera do toque de fim de saque para pararem as suas actividades.
Ora, parte dos jornalistas, sacarão como podem.
Acontece que o saque podia ser muito mais leal se se soubesse o que o inspira, isto é, se honestamente deixássemos de ser justos e todos independentes e confessássemos que somos sportinguistas ou portistas ou benfiquistas, deixávamos de manipular e passávamos a legítimos defensores e acusadores do que houvesse em causa. Concordo que os jornalistas, por si sós, não podem fazer tal coisa, subjugados que estão aos interesses de quem lhes paga. Mas podem fazer alguma coisa. Não têm de ser a voz do dono. Enquanto o forem, terão a dignidade que têm...

Tino disse...

Como em tudo na vida, convém distanciarmo-nos do que somos ou das funções que exercemos para conseguirmos analisar com imparcialidade e objectividade certos textos ou realidades.

Não me parece que o JMT pretenda visar os juízes, mas os responsáveis pelo sistema judicial que temos, desenhado por alguns delinquentes para desentalar alguns delinquentes.

Já chega ao JMT o processo (judicial) movido pelo chefe da banda e as consequências profissionais que acabará por sofrer. Do que ele precisa é de apoio de quem queira correr com os ratos da nossa humilde cazinha.

A música dos Xutos vem mesmo a calhar...

josé disse...

O JMT é um "bacano", mas isso não chega para entender os problemas.

O que escreve sobre Justiça está certo, por alto, mas o que o jornalismo tem feito é bem pior: desinformar e não dar o quadro todo.

Se tivéssemos um jornalismo a sério, com meia dúzia de repórteres como o Cerejo, isto não estava assim, porque as tríadas do poder actual não o detinham como detém, impregnando tudo quanto é sítio de poder.

Tino disse...

O JAC tem alguma coragem porque trabalha no Público e o patrão não tem medo do engenheiro e pode suportar um jornal permanentemente deficitário.

Os outros jornalistas têm filhos para criar e não comem de heroísmos.

Se o JMT não tiver os pais ricos, está ****** (usando o verbo da música dos Xutos). Só o Ti Belmiro lhe pode arranjar emprego.

O Público activista e relapso