Estas duas formas de noticiar comungam do mesmo propósito: mostrar o "mundo das ideias" como substituto da realidade mostrada.
Público de hoje:
CM de hoje:
Qual a realidade vivida e contada pelos moradores ouvidos e cujo testemunho "filtrado" aparece nestas notícias?
É um mundo dos "palops", onde a polícia normalmente "não entra" e passará "uma vez por dia " para verificar o "novo normal". Está sempre tudo normal quando se vê à distância segura de um carro a passar.
Este jornalismo do novo normal com laivos platónicos começa pelo choradinho do costume: a Pulquéria levanta-se às 5 da manhã para ir apanhar os transportes e fazer limpezas na grande Lisboa e arredores. Tem 62 anos e os autocarros que utiliza estão sempre "lotados" e isto é preciso porque afinal " como é que se pagam as contas?" A Pulquéria não é subsidiada todos os meses e anos pela SONAE para escrever em tom platónico...
Pulquéria é nome que ninguém põe agora aos filhos. Só por isso a natural de São Tomé já merece toda a minha simpatia por causa de uma realidade totalmente esquecida.
No dia 1, 2 e 3 de Maio quando toda a gente em Lisboa e no país estava obrigada a confinamento e a uma proibição estrita de organizar festas ou festarolas, com excepção da realizada na Alameda pela Intersindical do PCP, os moradores do Jamaica foram festejar à Aroeira, em grupo e em massa. Polícia? Estavam a controlar rotundas, para impedir deslocações entre concelhos, de carro. Não viram nada, de nada souberam.
Aos fins de semana as festas estão garantidas, no bairro. Em massa, sem máscaras ou medias avulsas de protecção. É um estado de excepção que a autarquia, comunista, não conhece. Ao contrário de Ovar, o Seixal é um lugar estranho vindo de algures. De um Espectro, exactamente.
Passadas as semanas de incubação surgiu o surto de bichos à solta entre a população residente que continua a deslocar-se todos os dias em autocarros lotados e para casas de outras pessoas onde "fazem limpezas" porque "é preciso pagar as contas" e nem toda a gente saber rappear, mesmo no Jamaica.
Portanto, a realidade nua e crua é a que fica devidamente exposta nas reportagens noticiosas. Toda a gente a vê. Ninguém consegue ver mais além do que essas sombras fugazes de ideias feitas.
A directora-geral de Saúde, a simpática Graça, barata-tonta de serviço todos os dias, diz que é uma "situação complexa".
Olá se é! E com este jornalismo platónico ainda se complica mais porque a realidade que se vê e evidencia um sítio de excepções continuadas a qualquer lei vigente que não interesse cumprir fica mesmo assim: completamente impune.
Seja a obrigação de confinamento ou a proibição de festas e sardinhadas, organizadas todos os fins de semana, com o desrespeito completo de normas de "distanciamento social" e a total ausência de autoridade para impôr cumprimentos da lei que se tornam visíveis nos meios urbanos de outros lugares e publicitados com garbo de máscaras e viseiras e operações-stop a preceito do "fachabor, os seus documentos".
Esta realidade mostrada como sombra nas reportagems expostas é contextualizada por este jornalismo platónico com as ideias adequadas e politicamente correctas.
Se aparece um Ventura a dizer claramente que esta realidade é chocante e inadmissível, aqui d´el rei que é fasssista e nazi, para além de racista, evidentemente.
É esta a realidade que temos nos media: sombras de sombras de um fantasma que se chama Espectro que é a sombra do Público e quejanda ideologia.
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