sexta-feira, maio 01, 2020

Os abusos do poder confinado no MºPº

De todos os pequenos abusos cometidos pelas autoridades durante o tempo de emergência que agora termina, nenhum me suscitou tanta repulsa como um grande abuso de poder cometido por autoridades judiciárias neste caso, já aqui comentado:


A gravidade deste abuso é de tal ordem que só me espanta a absoluta inacção de autoridades e responsáveis, mesmo do Ministério Público, em investigar o que se passou. Mais depressa investigam quem denuncia, parece-me...o que diz muito do sistema que temos e das pessoas que compõem neste momento o CSMP e do jacobinismo que campeia.
Espanta-me ainda que não tenha havido uma única pessoa singular a comentar o facto, nem sequer os habituais cronistas de jornal como o presidente da ASJP, Manuel Soares ou o habitual Francisco Teixeira da Mota, sempre pronto a denunciar outros supostos abusos.
Terá existido alguém que se indignou com este abuso, nos recônditos recantos dos facebooks? Ignoro porque não frequento.
Incrível!

Hoje no Expresso há uma novidade do mesmo teor, mas com uma nuance: o material exposto, do mesmo género daquele que foi apreendido à "mulher" que anunciara uma venda de espólio documental na internet, já foi analisado por quem se mostrou interessado e agora dá conta do resultado.

O artigo de quatro páginas, mais duas de fotos é assinado por Margarida Magalhães Ramalho e dá conta do aparecimento, também num espólio particular de documentos, de fichas de transcrição de escutas telefónicas realizadas pela polícia política do antigo regime, a mesma temível e terrível "PIDE/DGS", capaz de ressuscitar os fantasmas de quem os tem por empréstimo ideológico e bacoco.

O assunto é assim explicado:
"Recentemente, uma amiga coleccionadora de espólios antigos ofereceu-me um pequeno dossier que tinha em sua posse há vários anos e que encontrara no meio de outra documentação. Dentro estavam cerca de 130 transcrições originais de escutas telefónicas também da delegação do Porto da PIDE/DGA."

Perante esta novidade espero que em coerência e se consideram ter agido na estrita legalidade a PJ ( e o MºPº que autorizou...se foi esse o caso) vá a correr à casa da autora do artigo apreender tal material que ao abrigo de uma lei de 1991 poderia estar sob alçada administrativa da Torre do Tombo.
Espero ter notícia em conferência de imprensa, do director da PJ, atenta a importância do facto, semelhante a uma apreensão de cocaína aos quilos ou armas de guerra aos molhos.

Nem sequer a promessa de que tal espólio "irá agora ser entregue ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo" deveria fazer recuar as autoridades em tal propósito, atento o periculum in mora relativo ao crime jacente que entenderam naquele caso existir...e só por isso actuaram porque de outro modo nunca seria legalmente admissível.



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