quinta-feira, abril 14, 2011

Marinho e Pinto e a falta de ar de tinta suja

Marinho e Pinto falou mais uma vez aos jornais. Já estava há dias sem falar e provavelmente já andava com síndrome de falta de ar de tinta suja.

Foi ao Diário de Notícias, conforme aqui se relata, para dar conta da sua ideia peregrina de que a Instrução em processo penal deve acabar. E porquê, afinal? Nâo pelas razões certas, claro está, mas apenas pelos motivos obscuros do costume: por causa da "promiscuidade" entre os juizes de instrução e o ministério público.

E no fim, para falar sobre promiscuidades entre estes, as polícias e o jornalismo, aponta um exemplo da escola primária do seu entendimento destas coisas:

Exemplificando com o caso da prisão de Bernard Madoff nos EUA, acusado de fraudes milionárias, referiu que a investigação demorou dois anos e que o suspeito foi detido "na maior discrição, sigilo e eficácia".

O bastonário argumentou que em Portugal não teria sido possível fazer as coisas assim porque "mal os polícias encontrassem alguma coisa de relevante, era logo manchete no dia seguinte", afirmou. Essa promiscuidade "deu cabo do segredo de justiça em Portugal", apontou. "

Ora, o que aconteceu no caso Madoff que Marinho e Pinto aponta como exemplo de manutenção de segredo de justiça de investigação? Marinho não teve tempo de ler o artigo do Expresso e completá-lo com outras leituras sobre o assunto e por isso escapou-lhe isto:


It's unclear at this point the level of knowledge that his wife had into his affairs, or whether or not she was instructed by Bernie Madoff to make certain transactions on his behalf. What is known is that Ruth Madoff withdrew $15 Million in two separate transactions in the days leading up to her husband's arrest on charges of running the largest fraud and ponzi scheme in U.S. history. She withdrew $5.5 Million on November 25th and another $10 Million on December 10.



Pois foi. A mulher adivinhou o que ia acontecer ao marido e retirou da conta milhões e milhões. O último levantamento no dia anterior. Curiosamente no mesmo dia em que os filhos confessaram às autoridades ( eventualmente o District Attorney) que o pai andava no esquema Dona Branca há anos e anos.


Madoff foi preso em 11 de Dezembro de 2009, na sequência de investigações administrativas ( e não apenas policiais, como Marinho parece querer dar a entender) pela Securities and Exchange Comission. Foi essa entidade que apresentou queixa e após alguns colaboradores e os próprios filhos de Madoff terem admitido que o mesmo funcionava na base do esquema da d. Branca ou Ponzi.

Quanto à manutenção de sigilo que Marinho aponta como exemplo, no caso, estamos entendidos. Sobre o espectáculo mediático da prisão, também, apenas com uma foto que vale mil palavras:






É certo que esta imagem não é a da prisão de 11 de Dezembro de 2008, a tal que Marinho diz que ocorreu sem alarme mediático, para provar o seu ponto. Mas é do dia 11 Março de 2009 quando se apresentou em tribunal já com um acordo de confissão preparado e que permitiu quase um julgamento sumário dali a dois meses.


De resto Marinho anda muito esquecido porque durante o ano de 2009 tem um exemplo bem melhor do que é guardar segredo de justiça em inquéritos criminais, por juízes, ministério público e polícias. Foi precisamente no caso Face Oculta, cujo segredo de justiça durou até ao dia 24 de Junho de 2009.


Durou é um modo de dizer porque continuou a existir um pleno segredo rigorosamente guardado por todos, depois dessa data em relação à opinião pública e aos media. Infelizmente, porém, os suspeitos do processo, depois desse dia, ficaram a conhecer o caso e o perigo que representava para eles certas conversas escutadas ao telefone e que os polícias calaram e reservaram segredo. E por isso nesse dia ficaram a saber que era melhor mudar o tom do paleio e passarem a falar de outras coisas menos perigosas que a TVI e a PT.


Marinho e Pinto nunca se refere a este caso, nas suas entrevistas avulsas e semanalmente repetidas para lhe alimentar o vício de tinta suja. E se por acaso soube de alguma coisa antes dos media...

1 comentário:

Luis disse...

Este marinho Pinto é um "exmo cretino".
Ele que confesse o assunto que foi tratado na famosa reunião/cimeira seguida de almoço no Gambrinos (a pagar pela OA)em que estiveram presentes todos os "maiorais" do sistema de justiça. Depois desta data "alguém" terá ficado muito mais aliviado.

A obscenidade do jornalismo televisivo