sábado, abril 02, 2011

A previsão de tsunamis educativos


Este indivíduo, o coordenador do programa PISA da OCDE, é teutónico. Não nos entende. A entrevista que dá ao Expresso de hoje ( clicar para ler) é reveladora dos equívocos e problemas de comunicação que temos a nível oficial e de cultura. Em variados domínios.

Schleicher fala uma linguagem que só pode ser descodificada por exemplos, por parábolas e por anedotas. O pobre Andreas disse que "Portugal tem conseguido diminui o número de alunos com competências muito baixas e garantir mais equidade no sistema." Não nos percebe, está bom de ver. E se calar acredita mesmo naquilo que disse.
Então seria melhor para pobre Schleicher partir de um pressuposto: somos um povo de aldrabões natos e de simuladores de competências. Somos um povo semi-analfabeto que elege governantes salafrários que nenhuma país da Europa civilizada toleraria, com excepção da Itália que nem precisa de governantes para nada. Mas nós precisamos.

Para nos perceber bastar-lhe-ia conhecer melhor a professora Lurdes Rodrigues. O seu percurso profissional e as suas "competências". Já daria para ver melhor o panorama. Saber como adquiriu ( a crédito da CGD, enquanto ainda governava) o seu andar na Av. de Roma e essas coisas que interessam a quem quer perceber um povo e as suas idiossincrasias.

Para entender melhor quem somos e o que somos, poderia ler o pequeno texto publicado na página seguinte do Expresso, assinado pelo antigo extremista de esquerda, Nuno Crato. Dá dois exemplos de sistemas de ensino onde a excelência pode não ser uma palavra vã e um logro para papalvo ver.
Conta que em 2004 quando um tsunami varreu as costas do Índico, uma pequena de 10 anos, turista vinda de Oxshott, nos arredores de Londres, estava numa praia da Tailândia e apercebeu-se do mar a esvaziar estranhamente e os barcos a agitarem-se ainda mais estranhamente nas águas. Percebeu, porque aprendeu na escola que esses eram sinais inequívocos de tsunami e avisou os pais. Salvou-os porventura.
Em 2009, no Pacífico, outra pequena de 10 anos, Abby Wutzler, moradora em Wellington, Nov a Zelândia ( nossos antípodas) topou os mesmos sinais de perigo numa praia da Samoa. Avisou os pais e provavelmente salvou-os mais a umas tantas pessoas.
O antigo esquerdista Nuno Crato conta isto como um exemplo do saber aparentemente inútil que salva vidas. Poderia até contar no escrito que há quarenta anos os portugueses da escola primária eram obrigados a saber as linhas de caminho de ferro de Angola e Moçambique. E todos os relevos orográficos do país...
E cita o pai da perversão. Um tal Spencer, falecido em 1903 que dizia que o conhecimento interessa pouco; o que vale é a acção.
A minha professora primária educada no Estado Novo, dizia muitas vezes que "o saber não ocupa lugar".

Ao lado do artigo de Nuno Crato aparece uma publicidade a um curso- "The 6 days´mini-MBA- curso intensivo de gestão" ( sic). Já vai na 17ª edição e por isso deve ser muito procurado por quem ande à cata de currículos recheados destas coisas avulsas. "Mini-MBA´s " deve ser assim uma coisa a modos de mini-croissants. Buchas para entreter a "fome de conhecimento". E de acção, está bom de ver. Dois em um, portanto, em formato mini. Com eventual mini-preço também.

Em 6 dias, citados em "inglês técnico", melhor, em 48 horas, os pagantes inscritos aprendem a nível de "mini-MBA", mini noções de : "Contabilidade da Empresa; fiscalidade; Finanças da Empresa; Marketing e Marketing internaciona; Gestão estratégica e Gestão do Conhecimento; Gestão de Operações e Logística; Comportamento Organizacional, Cultura Empresarial, Gestão de Mudança e Liderança".
Está visto: somos peritos em tretas. E aldrabices. É isso que o professor Schleicher tem de entender melhor...

Se fosse em Portugal e o tsunami ocorresse junto ao ISCTE, numa altura de sossego e sem ninguém lá dentro, acho que ninguém avisaria ninguém. Mas o estrago seria nulo. Todos ficaríamos a ganhar.

Questuber! Mais um escândalo!