O Provedor do Público, José Queirós, hoje deu em catar erros no jornal por mor das queixas dos leitores de lupa em riste.
Escreve que têm havido proliferação de erros na escrita do jornal e que por tal "manifesta um diagnóstico negativo. A quantidade de erros de redacção e revisão parece-me superior à tolerável num jornal de qualidade. Os leitores que têm dado a conhecer o seu descontentamento dispensar-me-ão de multiplicar aqui os exemplos. São erros de ortografia, erros gramaticais ( com destaque para as falhas de concordância, o desrespeito das regências verbais, as vírgulas a separar o sujeito do predicado). Alguns surgem com frequência patológica, e imitam o mau português que cada vez mais se ouve, por exemplo nas televisões ( o facto dos sindicatos terem apelado à greve...; tratam-se de novas condições colocadas na mesa da negociação...;o deputado interviu na discussão...;desde Madrid chega a informação...) sem falar já das tropelias clássicas com o verbo haver ou com a distinção entre "por que" e "porque".
José Queirós tem razão: a nossa literacia, melhor, a nossa alfabetização melhorou na junção das letras para se soletrar palavras. É coisa que se aprende logo nos dois primeiros anos de primária, como dantes se dizia e agora se diz "escola básica", porque primária soava demasiado a coisa ainda sem valor e importava mudar para trocar pela semântica valorativa do "socialismo democrático".
Pois foi apenas esse valor inicial que se incrementou. Só esse. Os seguintes ficaram já todos nas intenções de quem propagandeia o progresso do tal "socialismo democrático" na alfabetização, para o contrapor ao tempo da longa noite do "fachismo" em que o analfabetismo atingia uma população maciça. Agora, a alfabetização "é mato", como dantes se dizia. Está por todo o lado para onde nos viremos, particularmente nas televisões.
E é uma alfabetização tão completa e tão perfeita que nem lhes dá para fazer a necessária auto-crítica de arrepiar caminho e entender as razões do fracasso evidente. O qual se percebe melhor quando se lê, por exemplo, um exemplar do Comércio do Porto dos anos sessenta e uma edição do Público onde escreve o Provedor do Leitor.
PS. Acho verdadeiramente delicioso que este Provedor faça os reparos todos que fez , sobre verbos e vírgulas e escreva depois " "Alguns surgem com frequência patológica, e imitam o mau português que cada vez mais se ouve, por exemplo, nas televisões(...)" .
Aquela vírgula antes do "e" fica a matar para quem pretende o papel de matador de erros e gralhas, não fica?
Escreve que têm havido proliferação de erros na escrita do jornal e que por tal "manifesta um diagnóstico negativo. A quantidade de erros de redacção e revisão parece-me superior à tolerável num jornal de qualidade. Os leitores que têm dado a conhecer o seu descontentamento dispensar-me-ão de multiplicar aqui os exemplos. São erros de ortografia, erros gramaticais ( com destaque para as falhas de concordância, o desrespeito das regências verbais, as vírgulas a separar o sujeito do predicado). Alguns surgem com frequência patológica, e imitam o mau português que cada vez mais se ouve, por exemplo nas televisões ( o facto dos sindicatos terem apelado à greve...; tratam-se de novas condições colocadas na mesa da negociação...;o deputado interviu na discussão...;desde Madrid chega a informação...) sem falar já das tropelias clássicas com o verbo haver ou com a distinção entre "por que" e "porque".
José Queirós tem razão: a nossa literacia, melhor, a nossa alfabetização melhorou na junção das letras para se soletrar palavras. É coisa que se aprende logo nos dois primeiros anos de primária, como dantes se dizia e agora se diz "escola básica", porque primária soava demasiado a coisa ainda sem valor e importava mudar para trocar pela semântica valorativa do "socialismo democrático".
Pois foi apenas esse valor inicial que se incrementou. Só esse. Os seguintes ficaram já todos nas intenções de quem propagandeia o progresso do tal "socialismo democrático" na alfabetização, para o contrapor ao tempo da longa noite do "fachismo" em que o analfabetismo atingia uma população maciça. Agora, a alfabetização "é mato", como dantes se dizia. Está por todo o lado para onde nos viremos, particularmente nas televisões.
E é uma alfabetização tão completa e tão perfeita que nem lhes dá para fazer a necessária auto-crítica de arrepiar caminho e entender as razões do fracasso evidente. O qual se percebe melhor quando se lê, por exemplo, um exemplar do Comércio do Porto dos anos sessenta e uma edição do Público onde escreve o Provedor do Leitor.
PS. Acho verdadeiramente delicioso que este Provedor faça os reparos todos que fez , sobre verbos e vírgulas e escreva depois " "Alguns surgem com frequência patológica, e imitam o mau português que cada vez mais se ouve, por exemplo, nas televisões(...)" .
Aquela vírgula antes do "e" fica a matar para quem pretende o papel de matador de erros e gralhas, não fica?
41 comentários:
Ficou linda
":O))))))
Fazia era falta um post sobre os 9.1% de défice.
Quem disse que os "engenheiros" da UNI não sabiam fazer contas ?
"Têm havdo"? Foi gralha certamente. Penso que será um erro mimético. Aborrecido.
E é bisneto no Eça!
tem havido
ai o Vírgulas. Negativa, no ponto.
"Têm havido", de facto não soa muito bem.
Têm havido o quê? Proliferação de erros. De quem? Deles...
Tem havido proliferação de erros soa melhor, porque a proliferação é singular. Mas os erros são no plural. E a concordância deve fazer-se com quê? Com a expressão completa- proliferação de erros- ou apenas com o substantivo singular, proliferação?
Seja como for, admito o erro que será de palmatória se não for gralha.
Mas...é gralha ou erro? Até eu nem sei bem.
Acontece que escrevo e muitas vezes uma frase sai com um sentido ligeiramente diferente do pensado. E quando corrijo na hora, algumas coisas ficam de fora porque a escrita em computador come tempo e parece-me sempre que devo ser rápido porque senão o programa não responde.
Será uma estupidez minha, apenas?
É claro que o erro ou gralha decorre da leitura do texto do Provedor que logo no início escreve " têm razão os leitores"; "outras falhas de revisão e edição que têm vindo a afectar"...
Tudo isso para me justificar numa situação em que fui à lã e saí tosquiado...mas que não tenho a pretensão do Provedor lá isso podem ter a certeza que não.
O José leu o texto do Marinho Pinto, no JN, sobre o Manuel Antonio Pina?
jbp:
Li e recortei. Mas é Páscoa e não dá para tudo.
Mas amanhã se Deus quiser tem comentário às aleivosias do bastonário misturadas com insultos soezes ad hominem.
Só gostaria de ler a crónica do Pina que motivou o dislate do Marinho.
"Li e recortei. Mas é Páscoa e não dá para tudo."
Hehe. Uma boa Páscoa, ou já estou atrasado para isso? Bom, o MAP respondeu a esse carroceirozito dos advogados:
http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1837081&opiniao=Manuel%20Ant%F3nio%20Pina
(Também usa "," depois do "e", que agora usa-se muito.)
O que deu origem a mais esta bastoneirice:
http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1832818&opiniao=Manuel%20Ant%F3nio%20Pina
Os advogados não devem parar de eleger o homem. Nunca. Grande nível. -- JRF
Eu acho que a concordância se faz com um sujeito abstracto: "ele" tem havido.
A proliferação de erros é complemento directo.
O verbo haver é impessoal.
Boa Páscoa para v.s
Ups! já é 25 de Abril...
":O?
JRF-
As vírgulas dele estão correctas. Ele colocou para intercalar:
«e, de cabeça baixa, desembestou desenfreadamente contra o que aqui foi dito sobre a sua patética ânsia de protagonismo
Se tivesse escrito «e, desembestou» é que estava errado.
Mas está mal redigido. Não precisava de tanta vírgula se tivesse escrito de forma mais escorreita.
Eu escrevo com os pés mas sei como é.
eheheheheh
Pois eu agora tenho essa dúvida. Se é uma lista de vírgulas e um "e" no fim não há dúvida. Essas intercalares metem-me confusão.
Eu, que não sou propriamente o Saramago (hehe), tendo a não utilizar tanta vírgula quanto tenho "e" à disposição. Aproveitando-o para uma pequena pausa na leitura, como se fosse uma vírgula. -- JRF
As vírgulas intercalares percebem-se porque delimitam um complemento circunstancial qualquer. Um à parte
Neste caso e (ele) desembestou desenfreadamente... blá, blá. Como? "de cabeça baixa".
De cabeça baixa é o modo como também fez isso. Portanto, o "e" separa este modo do verbo.
Eu aprendi estas coisas com teatro. Tínhamos de representar a acção da oração.
Mas este período é um exagero. Devia ter feito ponto final muito antes. Vários, até.
«O bastonário Pinto saltou ontem as barreiras (todas, incluindo as do JN, onde, que me lembre, foi a primeira vez que, nos 40 anos que levo de casa, se deu guarida à castiça arte do insulto) e, de cabeça baixa, desembestou desenfreadamente contra o que aqui foi dito sobre a sua patética ânsia de protagonismo com argumentos como "cretino", "refinado cretino", "medíocre", "cretino" outra vez, outra , mais outra, ainda outra, "megalómano", de novo "cretino" (o vocabulário desta espécie de Capitão Haddock, ou Ad Hoc, é escasso), "desonesto", "ocioso", "parolo", "mesquinho", e depois, na secção zoológica, "canino", "mastim" e "caniche" e, na secção psicanalítica," desesperado existencial" (o que quer que isso signifique), "frustrado" e "cruelmente dilacerado". »
Mais um estilo, desta vez Pacheco Pereira, a vírgula antes do "e":
"(...) história dos problemas, pura e simples memória, e muita asneira e erro grosseiro circulam sem verificação." -- JRF
Esses pequenos grandes erros denotam uma deficiente aprendizagem do português.
Não estou isento do tal pecha porque aqui há uns anos costumava separar alguns sujeitos dos predicados por mor de um exercício de estilo forçado.
Reconheço que para escrever sem regras muito fixas é preciso ser muito bom escritor. É preciso dominar a língua escrita para ultrapassar certas regras e uma vez ou outra tentei fazer isso, mas como se costumava dizer na minha terra, queria dizer tatá mas não me chegava a língua.
Por isso reduzi-me ao meu estatuto de diletante e não me preocupo muito com estilos. Escrevo a correr e por isso às vezes sai asneira. E quando corrijo a seguir, asneira pode sair.
Cada um é para o que nasce e não nasci para brilhar nas letras. Aliás, em nada, como já disse muitas vezes.
Dou um monsieur touche à tout e como dizem os ingleses master of all trades, master of none.
O Pacheco Pereira exagera. Esse não sabe redigir. E está melhor. Quando abriu o blogue nem se acreditava, tal eram os erros.
Eu tenho grande dificuldade em redigir; um vocabulário fraquíssimo e nem gosto de escrever. Apenas escrevo por ter coisas para contar ou por gosto de raciocínio.
Mas tive uma excelente aprendizagem liceal, com uma senhora chamada Glória Nobre de Gusmão- esposa do Historiador.
Dificuldade será exagero. Não tenho nenhuma pois escrevo como falo e não tenho dificuldade em falar.
ehehe
Quero dizer que não tenho a menor tendência literária. Visualizo tudo.
Parece-me óbvio que é na escola,na primeira meia dúzia de anos que se aprende tudo sobre a língua.
Por cá não tem sido assim, mas dantes era.
É esse o nosso problema.
O que se aprende depois já sofre o estigma do autodidatismo. E por isso com lacunas que se notam de vez em quando.
Sim e quanto mais cedo, melhor. Mas há quem tenha dificuldade por variantes de dislexia. Eu devo ter alguma, tal como o maradona. Ainda hoje confundo os 5 com os 7.
E com a escrita é o mesmo. Dou erros que sei que são erros. E sei ver o que está bem escrito. Sei corrigir para os outros.
Esse será o único dote que tenho- deitar abaixo o trabalho dos outros.
ahahahahhaha
Esse e jardinagem.
Inté que vou sulfatar um limoeiro e mais umas solanas.
";O)
"queria dizer tatá mas não me chegava a língua"
Hehe. Acontece-me muito. Também sou um monsieur touche à tout, na versão monsieur coisas demais.
Mas lá vou escrevendo algo que se entenda... aprendi pela cartilha João de Deus.
"O Pacheco Pereira exagera. Esse não sabe redigir."
Já sabia que o meu exemplo ia ser um sucesso! Hehe. -- JRF
Hoje estou mais contemplativo na jardinagem... estive a apanhar folhas e dedico-me a fotografar. Já apanhei uma joaninha a devorar um pulgão. O que não é todos os dias. Hehe. São necessários uns anos sem químicos para elas aparecerem em massa. -- JRF
Reflectindo nas duas últimas intervenções do José, permitam-me que lhes diga; (o ; estará bem?)- continuando - lembro com saudade o meu Velho Prof. Andrade, e já lá vão 65, 66 anos, sempre disse que a seguir a "e" não havia "," para ninguém.
Hoje, sempre que a dúvida me assalta recordo o dizer do MESTRE. Claro que isto foi no tempo em que as Licenciaturas começavam e acabavam nas Escolas Primárias.
Não. As regras não são gratuitas. Têm de ter uma lógica. O E é uma ligação que pode ser substituída por uma vírgula. Aquela frase podia não ter vírgula se tivesse travessão ou entre parêntesis.
Não existem leis por decreto. A gramática é lógica. A mais antiga, até.
Quem aprendeu latim percebe mais facilmente tudo isto.
Pois é, JRF, eu também gostava que as joaninhas me matassem as lagartas mineiras e a ferrugem.
Ehehehe
Se não sulfatar fica tudo espatifado e lá se vai o meu quintalzinho.
Quanto ao ponto e vírgula, se é nas frases do provedor, está correcto.
Também se percebe por lógica. É uma paragem mais demorada que a vírgula., sem chegar a ser ponto final. Por acaso até uso bastante.
Eu tive excelente professora, precisamente por ensinar com lógica. Teatralizávamos as frases para aprendermos. De outro modo, a empinar nunca aprenderia nada.
Quer ver como podia ser, mas nunca de seguida, depois do "e":
«e desembestou, de cabeça baixa, desenfreadamente contra o que aqui foi dito sobre a sua patética ânsia de protagonismo com argumentos como "cretino",
Também aprendi assim — depois de "e" não há "vírgula". Mas para quem percebia apenas os rudimentos e estava a aprender, era uma forma de errar menos. Ou seja, mais valia nunca colocar a vírgula.
Zazie! Se for sulfatar, como o nome indica, com sulfato (de cobre) e cal, ou seja, calda bordalesa. Ok. Está aprovado na jardinagem biológica, não afecta insectos. Se for vulgo sulfatar — pulverizar uma mixórdia da indústria química —, acaba com os maus e com os bons. E ao contrário do que eu próprio pensava, mais de 90% dos insectos no jardim são auxiliares e não pragas.
Por acaso comprei um livreto recentemente, muito interessante: "Amigos desconhecidos do agricultor: Insectos, ácaros e aranhas" de Laura Torres. Com fotos, para sabermos. -- JRF
Não sei quem disse que depois do "e" não há vírgula. Se houver ligação a dois sujeitos distintos tem de levar.
As regras gramaticais não são para se empinar. E só podem ser absolutamente certas se seguirem lógica. Razão pela qual se desculpam pequenos nadas.
Ah, ok. Foi com sulfato de cobre.
Mas é impossível tratar plantas atacadas por ferrugem ou por lagarta mineira sem ser com químicos.
É que aquela treta depois contamina tudo. Os citrinos são lixados. E tenho um arbusto de campânulas- as "anáguas de vénus" que passam o tempo com a mineira.
Quando o "e" faz parte de sindética adversativa tem de levar vírgula. Basta trocar por mas para se saber.
Neste caso não é nada disso. Foi um parêntesis ou uma estruturação da frase que podia ter sido diferente. Mas está correcto. Se não tivesse é que não fazia sentido.
Ora aqui está ZAZIE,
"Se não tivesse, é que fazia sentido".
A tal pausa que realça...
Pois é. Mas eu estou a teclar a 200 à hora. Nem reparo como sai. Isto são janelas de comentários, não é primeira página de nada.
Um cartoon a este propósito e não só (é da New Yorker): http://syjabudu.tumblr.com/post/4933028148/via-the-new-yorker
-- JRF
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