PS e PSD estão tecnicamente empatados, com ligeira vantagem para os socialistas, revela a sondagem da Marktest para o Económico e TSF.
O PS e o PSD estão tecnicamente empatados a seis semanas das eleições legislativas de 5 de Junho mas, entre Março e Abril, os socialistas subiram 11 pontos percentuais para os 36% assumindo a liderança das intenções de voto, enquanto os social-democratas caíram 12 pontos para os 35%. A crise política e a dependência financeira de Portugal face ao exterior beneficiaram quem está no poder embora um outro dado mereça ser destacado: o número de indecisos aumentou.
Este lugar de ideias pouco comuns, versadas em comunicação política, aventa uma hipótese para este fenómeno: os erros de comunicação do PSD. E até aponta um motivo concreto para a débâcle:
"É uma pergunta: será que a ideia - comunicada com foco e insistência pela Esquerda Política, sobretudo o PS - de que foi a Direita Política (PSD, PP, PdR) quem "chamou" o FMI (o salvador para uns, mas o papão para outros) está a colher em grupos de eleitores, mesmo potenciais votantes do PSD e PP?
Quer dizer, no entender daquele lugar comum, a causa da perda de votos para o PSD reside essencialmente na ideia feita de que " a direita política" é responsável pela vinda do FMI, dos alemães e do dinamarquês que mandam agora em nós como carreteiros.
Será assim? Quem sabe? É uma hipótese porque em ciência política, a primeira coisa a questionar é precisamente a palavra "ciência", aproximando-a de outra com semelhanças gritantes e que é a "astrologia".
Para mim, astrólogo amador de sinais políticos avulsos inscritos no firmamento social e ambiental, diletante recalcitrante e que não se leva a sério nestas coisas, há outros factores e o mais importante é este:
A sociedade portuguesa actual depende muito do Estado. Da Administração. Diga-se do Governo. Os que votam e são ouvidos em sondagens emitem uma opinião consoante os sinais que apanham na comunicação política e social. Um dos veículos fundamentais e determinantes é a televisão. Sabemos como as tv´s se têm comportado estes últimos anos, meses e semanas: não esclarece; confundem; comunicam ruído misturado com música minimalista que não chega a todos.
Breve: o discurso político nas tv´s não tem sido suficientemente marcado no sentido de responsabilizar politicamente o governo que está e tem estado. E isso acontece porque os jornalistas de tv são funcionários de interesses políticos e ideológicos bem inscritos nos genes que lhes permitiram aceder ao posto de trabalho. Não são grandes jornalistas e podemos até dizer que estamos a assistir ao verdadeiro "triunfo dos porcos".
Mas isso não chega para explicar tudo, porque há outro factor: uma sondagem publicada ontem dizia que a maioria esmagadora dos inquiridos sabe que a responsabilidade política dos tempos que atravessamos é do primeiro-ministro que temos, o que é aparentemente contraditório com o resultado desta sondagem. Mas é só aparentemente.
O que distingue e determina a escolha dos portugueses que votam é a sua bolsa, as expectativas de ganharem ou perderem dinheiro de salário, regalias sociais e privilégios por mais relativos que sejam.
Não é o perfil moral, ético, até mesmo de competência técnica que determina a escolha de um primeiro-ministro ou de um presidente de câmara, como está absolutamente demonstrado pelos exemplos avulsos que conhecemos ( Isaltino, Fátima Felgueiras, Mesquita Machado e até o primeiro ministro Inenarrável que temos. O Freeport conta nada. O Face Oculta menos ainda.O que contaria seria mesmo a prisão, mas para evitar essas catástrofes estão lá topos das instituições, com os seus apaniguados e bastonários vários...) .
Portanto, isso tudo pode contar alguma coisa mas pouco, muito pouco. Os portugueses perderam- se é que alguma vez o tiveram, o que seriamente duvido- o sentimento ético da responsabilidade moral. Estão habituados ao desenrasque e esses exemplos são-lhes demasiado familiares para os vituperarem. Antes pelo contrário, por vezes até são isso mesmo: exemplos.
E isso associado a uma vaga ideia de justiça social que se revê melhor num partido socialista do que num partido social-democrata permanentemente associado à "direita".
O partido Socialista, ao longo dos anos, tem sabido passar a ideia básica e fundamental de que está ao lado dos trabalhadores e o partido social-democrata tem sabido ao longo dos anos, passar a ideia de que combate o PS sem mostrar que é o melhor partido para os trabalhadores apesar de igualmente ser um partido social-democrata.
O PSD compromete-se demasiado com forças sociais que se associam facilmente à "direita" seja isso o que for, normalmente um mito, mas é de mitos que se ganham eleições e poder.
O PSD ( e o CDS por supuesto) aceitam passivamente esse discurso assassino do PS. Nunca perceberam o logro e caem sempre nele.
Evidentemente que os líderes fazem diferença, mas não tanta que possam dispensar esse trabalho básico e fundamental: definir os interesses partidários em função dos objectivos de um bem nacional que inclua as classes mais desfavorecidas e que em Portugal são a maioria.
E é essa que ganha eleições. Isso e o medo de mudanças radicais. Foi por isso que não caímos no comunismo em 1975. Só por isso. E quem foi o partido que fez de charneira nessa altura? O mesmo que hoje: o PS.
O PSD não tem e nunca teve emenda, com os seus pachecos e as suas diatribes internas.