quarta-feira, abril 06, 2011

O Sombra


Ontem, na tv, Bagão Félix, novel conselheiro de Estado, disse de caras, porque em grande plano que José S. é Mentiroso. O primeiro-ministro, perguntado na tv se a reunião do Conselho de Estado abordou o assunto concreto do pedido de ajuda externa, através de um empréstimo intercalar, disse que não. "Não foi discutido". E mais e ainda mais relevante: "Não conheço isso". Segundo Bagão Félix, isto é uma rematada mentira e portanto o seu autor um Mentiroso.
Nada que outros não dissessem antes, com igual poder de argumentação: factos que não se desmentem. Pois, apesar disso, logo apareceu outro conselheiro, Carlos César a secundar a mentirola com argumentos do costume: fumaram mas não inalaram. Falaram mas não discutiram. Não se falou no empréstimo mas falou-se na ajuda externa.

O problema ficaria por aqui, pelo inédito facto de um conselheiro de Estado apodar outro de Mentiroso, não se dera o facto de aparecer na liça, o Sombra.

Explico: Almeida Santos, presidente do PS saiu mais uma vez da penumbra em que se acrisola há décadas, para vituperar o novel conselheiro de Estado. Que "não há memória de um conselheiro de Estado dizer isto de outro" e que o Mentiroso falou verdade.

Este Sombra da política portuguesa, desde que foi rotundamente derrotado nas eleições legislativas de 1984 em que pedia maioria absoluta para o seu partido, cujo governo em tandem, estava a braços com o FMI, reduziu-se à condição de preceptor ( tinha escrito perceptor, por mor da consonância semiótica entre quem percebe e precede).

Neste momento precepta o Mentiroso que para ele fala sempre a Verdade. E por isso foi por ele brindado com o equívoco epíteto de "príncipe da Democracia". Talvez seja mesmo O Príncipe, tornado Sombra.


Esta personagem dos comics nacionais, primeiro surgiu como autor de malfeitorias legislativas e jacobinas. Depos foi educada no Oriente e com os orientais aprendeu a usar o intelecto para confundir adversários. E tem sido proficiente nessa tarefa de sempre. Quando a democracia sui generis e os seus acólitos oficiosos estão em risco, porque os maus se aprestam a tomá-la, salta o Sombra.


Foi assim em diversas ocasiões e em episódios marcantes: quando se descobriu a marosca das viagens-fantasma dos deputados, o Sombra lá estava a pedir contenção e razão, convencendo meio mundo que aquilo era nada e apenas uma leviandade. Quando surgiu o Casa Pia, o Sombra lá apareceu a dizer à turba-multa dos media que "as testemunhas podem mentir". Quando o TGV se aprestava a mudar de poiso, lá surgiu o Sombra das trevas da Ota a garantir que era um perigo porque com o terrorismo " as pontes podem cair". E assim continuadamente.


Agora que a democracia sui generis que o Sombra protege está de novo em risco por causa dos seus protegidos, lá aparece a capa escura da fantasia para ludibriar mais uma vez os votantes. O Sombra vive da luz oculta, como é natural. É apenas uma projecção da sua própria emanação, mas prepara-se mais uma vez para estender o manto. Tomem cuidado.

Questuber! Mais um escândalo!