quinta-feira, julho 28, 2011

A corrupção endémica

Segundo o Público de hoje, a TIAC, um organismo associativo não governamental, presidido por Luís de Sousa que há anos a esta parte estudo fenómenos sociais de corrupção político-económica "vê com preocupação os sinais emitidos pelo novo governo no que toca ao combate à promiscuidade, ao tráfico de influências e à corrupção na gestão do Estado".

Esses sinais aparentemente são os da designação de Nogueira Leite, antigo secretário de Estado e dirigente do PSD, Nuno Fernandes Thomaz, antigo secretário de Estado e dirigente do CDS e de Pedro Rebelo de Sousa, advogado relacionado com interesses conflituantes, todos eles para ocuparem lugares muito bem remunerados na CGD. Coisa da ordem das centenas de milhar de euros por ano. Coisa aliás pouca para génios como um Pinho dos tamancos que tendo sido empregado de Ricardo Salgado achava pouco o que poderia ganhar na Caixa. O mérito de tal génio merecia bónus como os que se pagam em Wall Street, nas firmas de corretagem antes da crise do subprime...

Estes sinais que Luis Sousa aponta são apenas isso- sinais de que algo pode correr mal. E tal como na teoria das probabilidades, a sua concretização em corrupção depende de outros factores, tais como a ocasião, o carácter pessoal, as exigências e fidelizações partidárias e a ausência de vigilãncia dos órgãos de supervisão, entre outras.

Tudo o que critico a Luís de Sousa e a todos os que falam de corrupção nos media, é o modo vago, deletério, com que falam do assunto. Parece que se deixaram corromper pelas palavras e aquilo que os anima é tão só uma denúncia inconsequente da "corrupção" como um leit-motiv para continuarem a existir enquanto organismos ouvidos pelos media.
Contentam todos, aliás: o público que fica a saber que há pessoas que se importam com o fenomeno e até parece que o conhecem tão bem que dispensam dar o nome aos boys; contentam os visados porque não os nomeiam, sabendo-se perfeitamente que se o poder corrompe, os corrompidos serão fatalmente os que ocupam a sede do poder. Têm nomes e por isso é necessário apontá-los a dedo. O Campos é suspeito de corrupção? Se os factos o indiciarem suficientemente, como por exemplo a nomeação de um comparsa para dirigir os CTT, porque não se dá o nome ao boy? Por receio de um processo? Nem isso, porque o dever dos media é denunciar o que parece mal e pode estar mal. Se não estiver, melhor para todos. Finalmente, contentam-se a eles mesmos porque ficam contentinhos.

Por isso não me preocupam tanto os tais "sinais" apontados, como o facto também apontado no artigo do jornal que refere a eventual renegociação das parcerias público-privadas. Parece que seriam 20 na intenção do Governo, mas não se sabe bem quais serão. Se há necessidade de as renegociar é porque quem as negociou o fez mal. Tê-lo-á feito porcamente, também? Seria matéria para o DCIAP investigar mas isso acontecerá logo que as galinhas ganhem dentes, ou seja, logo que a actual directora e o PGR saiam dos respectivos lugares a breve trecho e, sublinho e, lá sejam colocadas pessoas que tenham outra visão da sociedade, do Estado e das instituições. É condição sine qua non para tal suceder.

Portanto, mesmo sem saber se as negociaram mal e porcamente, há um facto que me preocupa: um dos negociadores, por banda dos privados, foi Sérgio Monteiro, actual secretário de Estado das Obras Públicas ( conhecerá o famigerado Campos?) e que o jornal escreve ser bom conhecedor deste processo porque foi um dos técnico que estava na Caixa BI, "instituição que montou alguns dos contratos financeiros e esteve no grupo de trabalho de Oliveira Martins que foi incumbido por PS e PSD de os avaliar."

Antes de Carlos Moreno dizer alguma coisa sobre esta coisa não digo mais, a não ser isto: parece que vai correr mal esta reavaliação. E quem vai ficar a perder, mais uma vez, serão todos os portugueses, em proveito de alguns, meia dúzia se tanto.
Será isto a democracia de que tanto se fala?
A menção a Carlos Moreno poder dizer alguma coisa é mera retórica, porque estes jornais que agora vivem de expedientes de sobrevivência, com parcerias privadas em interesses públicos, são já um caso perdido. Nem o Público nem o i nem o Diário de Notícias nem o Expresso nem se calhar o Correio da Manhã irão pedir opinião a Carlos Moreno. Os respectivos directores têm um medo que se pelam da Verdade que os pode atirar par ao desemprego.
É simples de entender o jornalismo português actual: medo.

Questuber! Mais um escândalo!