segunda-feira, julho 04, 2011

O jornal i e o jornalismo caseiro

O jornal i muda hoje de direcção. Em 674 números já leva três directores. O primeiro, Martim Avilez de Figueiredo conferiu um figurino ao jornal, eventualmente centrado em análises económicas que apesar disso não ajudaram muito o leitor a perceber o buraco em que o governo de então, liderado pelo Inenarrável José Sócrates, se aprestava a colocar o país, com a ajuda prestimosa do "pior ministro das Finanças da Europa". O jornal i falhou na sua inserção no público do Público. Actualmente venderá pouco mais de 8 mil exemplares o que é nada para os objectivos que se propôs.
Haverá muito analista que concluirá que o jornalismo caseiro tem falta de público porque há diversificação de informação com a televisão a assumir as despesas das notícias do dia e a deixar os restos para os jornais do dia seguinte. Outros dirão que a míngua de leitores se deve à crise económica, esquecendo as tiragens dos três desportivos. Outros ainda alvitrarão que as pessoas não se interessam por jornais de intelectuais, esquecendo a popularidade dos intelectuais que sabem comunicar, mesmo na tv.
O problema número um do jornalismo caseiro continua a ser a qualidade intrínseca do que produz. O i pretende ser um jornal de qualidade e "de categoria gourmet", nas palavras do seu director que cessa funções, Manuel Queiroz. Que estabelece a distinção entre esse jornalismo e o "muito popular", como sendo o prognóstico do futuro do jornalismo.
O conceito de "gourmet" no entanto, é equívoco porque a cozinha molecular não é do agrado de toda a gente que muitas vezes prefere os pratos tradicionais bem servidos e cuidados e com paladar característico. Pode por isso dizer-se que o "chef" do i ainda não acertou na receita.

Como exemplo de opção pelo "muito popular" podemos ver actualmente o Jornal de Notícias, assim assumido pelo director que entrou em funções há semanas e que em entrevista ao DN, ladeado pelo "amigo Joaquim" assim resumiu o papel do jornal que dirige actualmente. Popular significa dirigido à populaça. Supostamente a populaça assim designada gosta de sangue suor e lágrimas, na primeira página e o actual director, antigo esquerdista, não se faz rogado no populismo. Desde que assumiu funções, as primeiras páginas são de faca e alguidar com a liga à mostra, e nem sempre a do futebol. É esse o conceito de "popular" para o antigo comunista Manuel Tavares, porque o amigo Joaquim assim o pensará também.
Veremos onde chega o Jornal de Notícias com esta liderança tão popular.

Provavelmente o jornalista Manuel Tavares não conheceu o jornalista Hugo Rocha, antigo director do Comércio do Porto e que em 5.8.1984 dava uma entrevista extensa ao D.N. sobre jornalismo que devia ser lida e estudada nas escolas de jornalismo onde ensinam expoentes como a dona Judite de Sousa.
Hugo Rocha dizia assim na entrevista de três páginas em quase broadsheet: " O pior aspecto da Imprensa é a exploração daquilo que é condenável, execrável, e que são os crimes."
Vão dizer isso ao antigo jornalista do Diário ou ao actual director do Correio da Manhã. Para eles a máxima é a antiga "give the people what they want". Melhores que o ultraliberalismo de Sir Rupert? Nem um grama. E contudo preenchem páginas e páginas a denunciar o "ultra-liberalismo", em modo de notícias enviesadas e em campanhas por causas eleitorais que nem conseguem esconder.
Hugo Rocha diz ainda na página do suplemento do D.N.: " O jornalismo não se aprende, nasce com aquele que o quer cultivar."
Pois sim. Vão dizer isso às novas gerações de jornalistas que frequentaram cursos de novas oportunidades para o exercício da profissão.

Não por acaso, certamente, alguns dos principais jornais portugueses são dirigidos por antigos jornalistas desportivos. O resultado só pode ser um: prognósticos, só no fim do jogo.

15 comentários:

Zé Luís disse...

"Outros dirão que a míngua de leitores se deve à crise económica, esquecendo as tiragens dos três desportivos"

Se o josé quer relevar que os pasquins da bola estão bem, está enganado. O Rascord vende abaixo dos 60 mil, 58 mil e tal Jan-/Abr., números APCT. É muito, porventura? Talvez, mas há 10 anos, em 2001, vendia acima de 90 mil. E a tendência para acentuar o declínio é irreversível, com a expectativa de ver-se qual fecha primeiro.

josé disse...

Pois tem razão. Mas compare com a tiragem do Público, por exemplo. Nem chega a 40 mil, porventura.

Zé Luís disse...

Mas o Público raramente vendeu isso. E está a falar em tiragens, eu falo em vendas com números auditados (APCT). Se formos a tiragens, o Rascor anuncia 110 mil por esta altura. Mas perde metade em devoluções.

Já agora, sabia que o Rascord, no tempo do "jornalista desportivo Marcelino", vendia 110 mil no Verão aí por 96, 97 e 98? E havia crise.

Para mim, é uma questão de qualidade. E de o consumidor saber já distinguir gato de lebre. Enfim, nem todos, mas muitos vão-se apercebendo.

FMS disse...

E pior, veja quem são os subdirectores.

josé disse...

Acho que a razão é mesmo essa: falta de qualidade dos jornais.

Lêem-se e não se tira sumo. As notícias sabem-se por outros meios. As opiniões são sempre as dos mesmos jacobinos e não dão espaço a opinião diversa, ou muito raramente a dão.

No Público há o Pedro Lomba que alterna com o Rui Tavares, mas é um combate desigual porque o jornal tomba todo para o lado do Tavares.

No i havia o Nogueira Pinto. Agora nem isso.

josé disse...

A informação judiciária do Público é muito lacunosa e revela carência de formação nessa área. Há jornalistas esforçados mas que não entendem determinados assuntos e como dizia o João César Monteiro- se não sabem... por que perguntam?

É esse o problema básico: falta de qualidade. Não se aprende nada com os jornais.
Os suplementos culturais são uma lástima e não sei quem consegue ler aquilo.

Wegie disse...

Compare-se o tratamento noticioso que a imprensa deu a dois homens falecidos na semana passada:

Angélico Vieira - Um almost famous.

Salvador Caetano - Um dos portugueses mais notáveis dos últimos 100 anos.

O problema é que a populaça semi-analfabeta gosta de consumir lixo. A imprensa segue a tendência.

josé disse...

E ainda outra coisa: a populaça semi-analfabeta não compra jornais.

Então para quem são os jornais que falam para essa populaça?

Zé Luís disse...

Compra os desportivos. Que se babam por divulgarem terem uma franja de um estrato sócio-económico chique, assim tipo segmento C, D ou +

Wegie disse...

José,

As clientes das revistas côr-de-rosa que se vendem muito são populaça semi-analfabeta.

josé disse...

Mas a questão principal permanece: se a populaça não compra jornais porque raio escrevem jornais para a populaça? Por quererem que os compre? Mas como se não compram na mesma?

Wegie disse...

Isto é um bocado como o ovo e a galinha. Insuperável. Claro que se pode argumentar que já fomos mais analfabetos e tivemos melhor imprensa, o que é verdade. Talvez a teoria dos rendimentos decrescentes do Ricardo explique isto.

josé disse...

A imprensa era melhor quando não havia outros media.
Agora que existem, a imprensa fica com menos território para explorar.
Paradoxalmente quanto maiores as possibilidades da informação, ela tende a ser pior.E no entanto poderia ainda ser melhor.

Mas acho que este problema é mais visível por cá, em Portugal.

Costumava e costumo de vez em quando comprar o Nouvel Observateur.
Verifico que ao longo dos anos não perdeu a qualidade que tinha há mais de trinta anos.
Por cá nunca houve nada que se assemelhasse pelo que o fenómeno não tem comparação.

O que de melhor se fez em imprensa foi a Vida Mundial nos anos sessenta e o Observador, em 71, mas ainda assim a deixar muito a desejar.

Depois de 25 de Abril houve coisas bem feitas como os suplementos do Independente.
Mas em jornalismo corrente e de jornal diário, apareceu o Público que era um jornal bem feito mas com conteúdo a deixar muito a desejar.
A Grande Reportagem dos anos oitenta era bem feita mas não era o Nouvel Obs ou o L´Express. Nem sequer o Le POint. Ou a Time.

Portanto o meu problema com a imprensa portuguesa é um problema com os jornalistas que a fazem. Falta de qualidade é o que verifico.

josé disse...

Actualmente a revista Única do Expresso é muito bem feita. Não sei quem a faz, mas recomendo.

hajapachorra disse...

Meus caros, não canseis as meninges: os jornais são maus porque são feitos por... jornalistas.

A obscenidade do jornalismo televisivo