terça-feira, abril 12, 2011

O saber dos economistas

No jornal i de hoje vem uma entrevista com Chrysostomos Tabakis. Grego, como está bom de ler, 35 anos, economista e professor de Economia na Universidade Nova. Tem um doutoramento na área, pela Columbia University de Nova Iorque e nunca trabalhou no seu país.

Que nos diz este Chrysostomos? Que em Portugal vivemos uma situação muito semelhante à da terra dele: um sistema público gigante, falta de eficiência, muitas instituições inúteis, pouca competitividade e um mercado de trabalho muito rígido.

E em relação ao resgate económico diz que os gregos em geral achavam que iria ser coisa boa e o economista doutorado em Columbia também. Mas agora já não acha. Porque os "cortes salariais e o aumento de impostos lançaram o país numa recessão mais profunda que o esperado. As receitas fiscais e as contribuições sociais baixaram e é preciso pagar mais em benefícios para o desemprego. Isto criou mais pressão para conseguir mais dinheiro , o que leva a um novo aumento de impostos e mais recessão. É um círculo vicioso."

Solução? A reestruturação da dívida. O tal haircut que os anglo-saxónicos falam. E segundo o Chrysostomos, "abrir os mercados, reduzir a burocracia e a corrupção." Para Portugal, a medida exacta que propõe é "reduzir o sector público". Com este argumento: " Quando o sector público é grande é preciso taxar a economia para o financiar."

Em resumo, se nos fiarmos apenas nos economistas temos pela certa uma possibilidade avançada de erros em cascata. E nunca se dão por achados. Dizem sempre que mudaram de opinião porque sim e se antes era assado agora passa a ser assim, com a maior das naturalidades estatísticas.

Em resumo: não sabem. Palpitam coisas, sentem outras e ficam admirados pelo resultado imprevisto. Nem são aprendizes de feiticeiro, mas apenas ilusionistas. Não merecem crédito mas vivem dele.

Por mim, em vez de economistas a orientar palpites, seria melhor pedir pareceres a donas de casa e empresários honestos. Ainda há disso. E senso comum, costumava haver mas parece produto raro, hoje em dia.
O senso comum dir-nos-ia que seria uma catástrofe económica se gastássemos mais do que o que tínhamos de nosso. Pedir emprestado em catadupa gera dívidas, o que qualquer pessoa sabe. E as dívidas, em princípio, são para pagar aos credores, o que também qualquer ignorante conhece.

Quem é que em Portugal teve alguma vez esta percepção do senso comum? O "pai da democracia" socialista, republicana e laica, alguma vez o teve? Como dizem os brasileiros "só contaram p´ra você". Mas então... porque votaram no indivíduo anos e anos e ainda lhe deram coisas tipo fundação para se entreter na aposentação dourada? Por falta de senso. Básico e primordial que não carece de ensinamento.

Porque continuam os portugueses a acreditar e a votar em indivíduos que notoriamente os aldrabam e prejudicam seriamente na vida que podem levar? É um mistério que a sociologia não consegue explicar porque é precisamente uma disciplina a que falta muito senso comum. Veja-se o caso particular do professor Boaventura, um carente em último grau desse tipo de componente estruturante.

Antes de 25 de Abril de 74 havia muitos analfabetos por não saberem ler nem escrever. É um dos índices que esses sociólogos apontam como sinais de atraso civilizacional. Passados trinta e mais anos, o analfabetismo de juntar letras e fazer contas, em nível primário, desapareceu em grande parte.
Mas restou e possivelmente aumentou exponencialmente o analfabetismo mais sério e mais nocivo: o que impede a compreensão de fenómenos básicos, seja na economia, seja nas ciências de toda a ordem incluindo as matemáticas básicas.
Aumentou ainda, sem qualquer dúvida, o analfabetismo que afastou o valor de exemplo prático do antigo rifoneiro que tínhamos e compendiava a sabedoria popular que se seguia nos campos e "província". A televisão das judites de sousa e outras figuras de proa do mediatismo da ignorância ilustrada em cromos, substituiu o rifoneiro. A compreensão da realidade autêntica foi subsituida pelo espectáculo encenado de uma realidade virtual e paralela.

E essa é, quanto a mim, a razão fundamental para enquanto povo que vota insistirmos no erro e persistirmos na asneira.

Volta, senso comum! Afasta do pódio esta gente que nos desgraçou.

12 comentários:

Carlos disse...

José,

Permita-me a provocação:

"Afasta do pódio esta gente que nos desgraçou!"

Não quer p.f. dar nome aos bois?

Temos a 5 de Junho, um acto importantíssimo de decisão. O que sugere como alternativa para a regeneração da nossa democracia?

O Medina Carreira, na minha opinião, também tinha um diagnóstico verdadeiro. Não estava era completo. E isso, pode querer esconder/dizer muita coisa.

josé disse...

A alternativa é tudo menos estes que estão.

Chega de poder. Chega porque o poder corrompe. Troquem-nos por outros. Claro que estes outros serão aqueles que aceitam as regras do jogo que temos: capitalismo e social-democracia. Por isso tanto faz o PSD como o CDS como outros que apareçam e por mim deveriam aparecer. Já escrevi muitas vezes que gostava que isto fosse como na Itália em que os partidos maiores e dinossáuricos desapareceram.

Para mim, logo que esses outros tomarem o poder estarei aqui para fazer o mesmo: apontar criticamente o que me parece mal.

E não quero que estejam lá muito tempo.

josé disse...

Eu não alinho em clubismos acéfalos. Se me parece bem, apoio. Se não, rejeito.

O PS é um partido de jacobinos pelo que como isto me parece mal, digo mal. Quase sempre. Mas há coisas que podem estar certas e com Guterres parecia que haveria uma volta à razão.
Foi o que se viu. Portanto não tenho ilusões.

josé disse...

Em tempos fiz aqui a minha declaração de interesses, colocando em linha aquilo em que acredito.

O meu credo

Carlos disse...

"A alternativa é tudo menos estes que estão."

clap! clap! clap!...

Afinal as nossas posições, ás vezes, também convergem "perigosamente" (agora, é a vez da comunada dizer: os extremos tocam-se).

De uma forma simplificada e tendo como cenário o actual quadro político, e é este que vamos votar e não outro, tenho defendido:

Votem nos extremos. Quem tendencialmente se considerar à direita - vote CDS, quem se considerarà esquerda - vote BE (lá vem o Carmo e a Trindade). Os mesmos, É QUE NÃO!

Fui claro?

zazie disse...

"Aumentou ainda, sem qualquer dúvida, o analfabetismo que afastou o valor de exemplo prático do antigo rifoneiro que tínhamos e compendiava a sabedoria popular que se seguia nos campos e "província"

Exacto!

zazie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joao Bispo disse...

"Porque continuam os portugueses a acreditar e a votar em indivíduos que notoriamente os aldrabam e prejudicam seriamente na vida que podem levar? É um mistério que a sociologia não consegue explicar"

Não é a sociologia que tem que explicar isso, mas as neuro-ciências em conjunto com a psicologia. E estas provavelmente já o explicam.

Em princípio faz sentido apelar ao senso-comum, uma vez que parece haver tanta falta dele, mas é preciso ter cuidado: nunca dispensa outras formas de validação. Já muitas vezes nos enganámos quando seguimos apenas o "senso comum" (é o senso-comum que nos diz que o Sol anda à volta da Terra).

Até porque desconfio que os disparates do professor Boaventura vieram todos do senso-comum dele =)

josé disse...

"o senso comum" do professor Boaventura foi-lhe implantado por excesso de delírio igualitário. Leituras a mais de poetas mortos do lirismo marxista.

Os implantes ficaram e enraizaram como fungos.

Jose Silva disse...

Caro José, eu também sou economista e olhe o que escrevi em 2008:

O FMI "já cá está"

http://norteamos.blogspot.com/2008/11/o-fmi-j-c-est-o-norte-salvou-se.html

josé disse...

José Silva: fui ler e pergunto.. porque razão o senso comum não fez escola pública?

Porque andamos e anos a patinar neste engano permanente?

O Teixeira dos Santos é professor de Economia, mas nessa altura diziam lá fora ( o F.T. salvo o erro) que era o pior ministro das Finanças da Europa.

Que raio sucedeu ao tipo? Virou burro, assim sem mais nem menos?

Jose Silva disse...

Caro José,

se quiser acreditar em mim eu tenho 3 respostas simples para explicar as crises:

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