A revista Pública de hoje retoma um tema usado em quadra já repetida: as canções de protesto. A propósito da "geração à rasca" e da manifestação de 12 de Março, com os Deolinda e um tal Jel em vozes de fundo, cita nomes antigos das canções de protesto portuguesas.
O artigo é todo ele escrito em revisionismo ideológico. São ouvidos os velhos cantores de "intervenção", mas não se dá o contexto em que intervieram e o modo como o fizeram. Fica tudo pela rama do protesto. E que linda rama!
José Barata-Moura, por exemplo, "um cantor de protesto durante muitos anos", diz que " a actualidade de algo que foi feito no passado depende da actualização que os outros fazem desse objecto". Em nenhuma parte do artigo se esclarece que Barata Moura foi e continua a ser, segundo consta, um comunista dos quatro costados e cujas letras das "canções de protesto" espelhavam ideologia por tudo quanto era verso.
Outro citado, Luís Cília, em modo suave, diz agora que " a situação hoje não é a mesma, nem política nem culturalmente, do tempo em que as músicas foram feitas". Pois não. Hoje em dia o artigo já nem cita o título " Contra a ideia de violência, a violência da ideia" e outras pérolas do esquerdismo soixante-huitard que medraram entre nós bem antes de 25 de Abril de 74.
A luta dos cançoneteiros de protesto era contra o "fassismo" mas isso não é dito nem escrito no artigo. A luta era uma espécie de guerra civil em palavras e música, com ambiente de guerra fria. Tal não é explicado no artigo e quem o ler fica a perceber que os bravos cançonetistas do antigamente nem tinham nada contra esse antigamente, senão conjuntural e culturalmente. E tinham. Tinham tudo porque pretendiam à força de canções reverter um regime político para um sistema de ditadura comunista.
Estes termos simples e compreensíveis por todos, não são descritos hoje em dia com toda a clareza que a ausência de censura permite, esses cantores e o ambiente da época, relativizando-se toda a comunicação sobre o assunto, tornando-os ideologicamente inócuos e a ponderar num vazio de intenções políticas.
Outro cantor-autor citado, Manuel Freire, porventura o mais subtil em modo ideológico , porque cantou poemas de António Gedeão cuja mensagem não era abertamente panfletária como a dos outros, mas porventura e por isso mesmo mais eficaz, também diz algo igualmente mistificador: " há pouca produção cultural porque há muita confusão". De facto, confusão haverá e são artigos como este que para ela contribuem.
José Jorge Letria, um arrependido do comunismo, também diz coisas. E o que dizia no tempo do PREC é impublicável hoje em dia, pela Pública que nem sequer o cita nesse contexto em que ele cantava aberta e sonoramente, "quem tem medo do comunismo?" , com uma resposta diferida para umas décadas depois e no sentido da confissão de ser ele o próprio o medroso.
Outro comunista ideologicamente empedernido é Fernando Tordo. O artigo da Pública cita-o com a Tourada, uma letra de 1973 da autoria de um outro comunista, Ary dos Santos, que escrevia por sinais de fumo semióticos e com imaginário taurino para representar o sentimento futuro de amanhãs a cantar. E o autor do artigo comenta como "incrível" que a Censura de 73 tenha deixado passar as seguintes frases: " Entram empresários moralistas; entram frustrações; entram antiquários e fadistas, e contradições. E entra muito dólar, muita gente que dá lucro aos milhões". Esta letra é entendida como absolutamente censurável, na época, numa acepção falsa e mistificadora da realidade de então e ainda assim não se dá o contexto ideológico dos seus autores e mensagens. Incrível é escrever assim nos dias de hoje, enganando leitores desprevenidos. E sem censura.
Por fim, aparece citado o decano dos cantores de protesto: José Mário Branco não desiste da luta ideológica. Arrumou as botas das canções de protesto contra os botas do antigamente, mas não desarma as cantigas de outrora. " eu tenho confiança ilimitada na humanidade: se houver um movimento de fundo, as vozes vão aparecer. O problema actual não é das vozes, é do movimento. A consistência das vozes, é do movimento."
Movimento. Massas. Ideologia agregadora das massas. Vanguardas ideológicas. Movimentos...
Descodificando o que o autor do artigo dissimula ou não topa: José Mário Branco sempre foi um esquerdista da velha cepa. Um anti-capitalista que vê nesse sistema o Mal absoluto para a humanidade. Por isso mesmo embarcou festivamente em cruzadas contra esse modo de produção de coisas e serviços para a humanidade. O modelo que defende, obviamente, é o comunismo, em modo aggiornato e com modo de lá chegar. Para José Mário Branco nunca foi problema de maior, tal modo: armas se necessário for. E nem sequer em modo retórico. FP 25, lembra alguma coisa a alguém? Devia lembrar e ser citado nestes artigos para não se mistificar de modo indecente e obsceno a realidade.
José Barata-Moura, por exemplo, "um cantor de protesto durante muitos anos", diz que " a actualidade de algo que foi feito no passado depende da actualização que os outros fazem desse objecto". Em nenhuma parte do artigo se esclarece que Barata Moura foi e continua a ser, segundo consta, um comunista dos quatro costados e cujas letras das "canções de protesto" espelhavam ideologia por tudo quanto era verso.
Outro citado, Luís Cília, em modo suave, diz agora que " a situação hoje não é a mesma, nem política nem culturalmente, do tempo em que as músicas foram feitas". Pois não. Hoje em dia o artigo já nem cita o título " Contra a ideia de violência, a violência da ideia" e outras pérolas do esquerdismo soixante-huitard que medraram entre nós bem antes de 25 de Abril de 74.
A luta dos cançoneteiros de protesto era contra o "fassismo" mas isso não é dito nem escrito no artigo. A luta era uma espécie de guerra civil em palavras e música, com ambiente de guerra fria. Tal não é explicado no artigo e quem o ler fica a perceber que os bravos cançonetistas do antigamente nem tinham nada contra esse antigamente, senão conjuntural e culturalmente. E tinham. Tinham tudo porque pretendiam à força de canções reverter um regime político para um sistema de ditadura comunista.
Estes termos simples e compreensíveis por todos, não são descritos hoje em dia com toda a clareza que a ausência de censura permite, esses cantores e o ambiente da época, relativizando-se toda a comunicação sobre o assunto, tornando-os ideologicamente inócuos e a ponderar num vazio de intenções políticas.
Outro cantor-autor citado, Manuel Freire, porventura o mais subtil em modo ideológico , porque cantou poemas de António Gedeão cuja mensagem não era abertamente panfletária como a dos outros, mas porventura e por isso mesmo mais eficaz, também diz algo igualmente mistificador: " há pouca produção cultural porque há muita confusão". De facto, confusão haverá e são artigos como este que para ela contribuem.
José Jorge Letria, um arrependido do comunismo, também diz coisas. E o que dizia no tempo do PREC é impublicável hoje em dia, pela Pública que nem sequer o cita nesse contexto em que ele cantava aberta e sonoramente, "quem tem medo do comunismo?" , com uma resposta diferida para umas décadas depois e no sentido da confissão de ser ele o próprio o medroso.
Outro comunista ideologicamente empedernido é Fernando Tordo. O artigo da Pública cita-o com a Tourada, uma letra de 1973 da autoria de um outro comunista, Ary dos Santos, que escrevia por sinais de fumo semióticos e com imaginário taurino para representar o sentimento futuro de amanhãs a cantar. E o autor do artigo comenta como "incrível" que a Censura de 73 tenha deixado passar as seguintes frases: " Entram empresários moralistas; entram frustrações; entram antiquários e fadistas, e contradições. E entra muito dólar, muita gente que dá lucro aos milhões". Esta letra é entendida como absolutamente censurável, na época, numa acepção falsa e mistificadora da realidade de então e ainda assim não se dá o contexto ideológico dos seus autores e mensagens. Incrível é escrever assim nos dias de hoje, enganando leitores desprevenidos. E sem censura.
Por fim, aparece citado o decano dos cantores de protesto: José Mário Branco não desiste da luta ideológica. Arrumou as botas das canções de protesto contra os botas do antigamente, mas não desarma as cantigas de outrora. " eu tenho confiança ilimitada na humanidade: se houver um movimento de fundo, as vozes vão aparecer. O problema actual não é das vozes, é do movimento. A consistência das vozes, é do movimento."
Movimento. Massas. Ideologia agregadora das massas. Vanguardas ideológicas. Movimentos...
Descodificando o que o autor do artigo dissimula ou não topa: José Mário Branco sempre foi um esquerdista da velha cepa. Um anti-capitalista que vê nesse sistema o Mal absoluto para a humanidade. Por isso mesmo embarcou festivamente em cruzadas contra esse modo de produção de coisas e serviços para a humanidade. O modelo que defende, obviamente, é o comunismo, em modo aggiornato e com modo de lá chegar. Para José Mário Branco nunca foi problema de maior, tal modo: armas se necessário for. E nem sequer em modo retórico. FP 25, lembra alguma coisa a alguém? Devia lembrar e ser citado nestes artigos para não se mistificar de modo indecente e obsceno a realidade.
Então é assim:
Nova incursão aos baús do vinyl, na busca da banda sonora perfeita para a data que hoje se comemora. Mais uma pérola / preciosidade da arqueologia sonora do PREC.
O Poder Aos Operários E Camponeses / O Povo Em Armas
GAC – Vozes na Luta (com José Mário Branco)
Ouve-se no refrão:
“Mulheres e homens, na fábrica e no campo
Povo que sua, luta e trabalha
Pega em armas! Ergue bandeiras vermelhas
Cerra fileiras ombro a ombro na batalha!”
Está percebido, ó Luís Francisco? Para a próxima deixe de tomar os outros por parvos e escreva qualquer coisa com mais jeito. E há outra coisa que é preciso ficar esclarecido: Bob Dylan, foi um cantor de protesto, sem dúvida. Mas nunca foi comunista. Quem foi comunista foi outro: Phil Ochs.
Está percebido, ó Luís Francisco? Para a próxima deixe de tomar os outros por parvos e escreva qualquer coisa com mais jeito. E há outra coisa que é preciso ficar esclarecido: Bob Dylan, foi um cantor de protesto, sem dúvida. Mas nunca foi comunista. Quem foi comunista foi outro: Phil Ochs.