O Público de hoje volta a insistir na história da História sobre o caso da família Silva Pais que se queixou criminalmente contra os autores de uma peça de teatro por ofensa à honra de pessoa falecida.
Tanta insistência revela uma coisa muito simples de que suspeito: a direcção do Público está comprometida neste caso, pretende influenciar o desenrolar das audiências e eventualmente a decisão dos tribunais. Sob pretexto de recentrar a discussão no aspecto histórico e no da liberdade de expressão, insiste demasiado nesse ponto olvidando os demais. E entre estes demais está o essencial: as pessoas falecidas, individualmente consideradas têm direito a um bom nome de base, digamos assim. Chamar a alguém assassino ou mandante de assassinos ou autor moral de um assassinato, sendo falso, é um crime e deve sê-lo como cada um dos jacobinos que agora peroram sabem muitissimo bem. Se a pessoa já morreu tanto pior porque não se pode defender, mas ficam os familiares e amigos que podem accionar os mecanismos de defesa da honra. Democráticos, ainda por cima.
Na edição de hoje (que também trata em modo desenvolvido o caso das agências de rating, duma perspectiva de esquerda e de confronto anti-capitalista revelador do lado do jornal), há uma página sobre o caso.
Citam-se vários historiadores típicos da situação ( Rui Ramos, Irene Flunser Pimentel e António Costa Pinto, os historiadores de regime que está) para estes dizerem algo extraordinário: "Os tribunais não fazem história. Ela é feita pelos historiadores."
Estes historiadores, com destaque para Rui Ramos o autor da tirada ( já entrou nas lojas, Rui Ramos?) esquecem de uma penada o tribunal de Nuremberga e principalmente a asserção de que a História não é feita pelos historiadores. A História é o que foi. A sua narrativa é que pode distorcer o que é.
Mas essa afirmação olvida ainda outra coisa que explico melhor com uns versos de Milton Nascimento , eu que não quero armar-me em historiador e sou um mero diletante destas coisas e outras:
"A história é um carro alegre cheia de um povo contente; que atropela, indiferente, todo aquele que a negue." Chega isto, para bom entendedor.
Quanto ao assunto da morte de Delgado torna-se interessante ler a opinião do articulista ( Tiago Bartolomeu Costa) no seio do pequeno artigo: " Mas a ausência de um documento que comprove o que muitos assumem como memória colectiva poderá dar razão à acusação?"
Esta pequena passagem revela todo o mundo do nosso jornalismo de causas: o caso está resolvido na "memória colectiva". Mas que memória colectiva, cum raio? A jacobina, implantada em memórias inventadas de revisionismo histórico? A do pensamento único sem margem para a dúvida metódica ou mesmo de senso comum, criada pela narrativa histórica dos arregimentados nos cargos e tachos?
Porque raio é que a memória colectiva assumiu que Silva Pais deve ser co-autor moral de um homicídio? Por conveniência política e porque era o director da PIDE, essa entidade maléfica que só por ter existido relega para a desmemória a KGB??
O comunismo em Portugal quanto tempo é que vai demorar a desaparecer de vez da memória colectiva? 50 anos mais? Não chega o que se passou no Leste, no Cambodja, em Cuba, na Coreia do Norte e noutros lados? Não chegam as purgas estalinistas, o Gulag, o genocídio, a miséria económica?
Até quando esta ideologia de desgraça colectiva continuará a influenciar decisivamente a "memória colectiva"? E os seus cultores os detentores da reserva moral de crítica ao devir histórico?
Até quando esta idiotice se apresentará como a suprema intelligentsia da pátria em jornais como o Público?
Para contraste e para se ver que há outras narrativas históricas que contrariam a "memória colectiva" aqui fica um pequeno artigo de Jaime Nogueira Pinto no Sol de 17.6.2011. Clicar para ler.
E historiadores daquele calibre do apontado, dispenso-os. Prefiro a realidade.
Tanta insistência revela uma coisa muito simples de que suspeito: a direcção do Público está comprometida neste caso, pretende influenciar o desenrolar das audiências e eventualmente a decisão dos tribunais. Sob pretexto de recentrar a discussão no aspecto histórico e no da liberdade de expressão, insiste demasiado nesse ponto olvidando os demais. E entre estes demais está o essencial: as pessoas falecidas, individualmente consideradas têm direito a um bom nome de base, digamos assim. Chamar a alguém assassino ou mandante de assassinos ou autor moral de um assassinato, sendo falso, é um crime e deve sê-lo como cada um dos jacobinos que agora peroram sabem muitissimo bem. Se a pessoa já morreu tanto pior porque não se pode defender, mas ficam os familiares e amigos que podem accionar os mecanismos de defesa da honra. Democráticos, ainda por cima.
Na edição de hoje (que também trata em modo desenvolvido o caso das agências de rating, duma perspectiva de esquerda e de confronto anti-capitalista revelador do lado do jornal), há uma página sobre o caso.
Citam-se vários historiadores típicos da situação ( Rui Ramos, Irene Flunser Pimentel e António Costa Pinto, os historiadores de regime que está) para estes dizerem algo extraordinário: "Os tribunais não fazem história. Ela é feita pelos historiadores."
Estes historiadores, com destaque para Rui Ramos o autor da tirada ( já entrou nas lojas, Rui Ramos?) esquecem de uma penada o tribunal de Nuremberga e principalmente a asserção de que a História não é feita pelos historiadores. A História é o que foi. A sua narrativa é que pode distorcer o que é.
Mas essa afirmação olvida ainda outra coisa que explico melhor com uns versos de Milton Nascimento , eu que não quero armar-me em historiador e sou um mero diletante destas coisas e outras:
"A história é um carro alegre cheia de um povo contente; que atropela, indiferente, todo aquele que a negue." Chega isto, para bom entendedor.
Quanto ao assunto da morte de Delgado torna-se interessante ler a opinião do articulista ( Tiago Bartolomeu Costa) no seio do pequeno artigo: " Mas a ausência de um documento que comprove o que muitos assumem como memória colectiva poderá dar razão à acusação?"
Esta pequena passagem revela todo o mundo do nosso jornalismo de causas: o caso está resolvido na "memória colectiva". Mas que memória colectiva, cum raio? A jacobina, implantada em memórias inventadas de revisionismo histórico? A do pensamento único sem margem para a dúvida metódica ou mesmo de senso comum, criada pela narrativa histórica dos arregimentados nos cargos e tachos?
Porque raio é que a memória colectiva assumiu que Silva Pais deve ser co-autor moral de um homicídio? Por conveniência política e porque era o director da PIDE, essa entidade maléfica que só por ter existido relega para a desmemória a KGB??
O comunismo em Portugal quanto tempo é que vai demorar a desaparecer de vez da memória colectiva? 50 anos mais? Não chega o que se passou no Leste, no Cambodja, em Cuba, na Coreia do Norte e noutros lados? Não chegam as purgas estalinistas, o Gulag, o genocídio, a miséria económica?
Até quando esta ideologia de desgraça colectiva continuará a influenciar decisivamente a "memória colectiva"? E os seus cultores os detentores da reserva moral de crítica ao devir histórico?
Até quando esta idiotice se apresentará como a suprema intelligentsia da pátria em jornais como o Público?
Para contraste e para se ver que há outras narrativas históricas que contrariam a "memória colectiva" aqui fica um pequeno artigo de Jaime Nogueira Pinto no Sol de 17.6.2011. Clicar para ler.
E historiadores daquele calibre do apontado, dispenso-os. Prefiro a realidade.
89 comentários:
A história é sempre uma reconstrução do (s) passado (s) e é efectuada pela memória colectiva cujos agentes são múltiplos e entre os quais se encontram os historiadores. Nunca é o que foi (isso não existe). Depois para cada Nuremberga existem muitos tribunais das relações que distorcem as realidades (cf. Paulos Pedrosos et al)e demonstram que são incompetentes como agentes dessa memória colectiva.
Dificilmente considero o Rui Ramos um historiador situacionista ao invés dos outros dois.
Mas remeto para a sentença do caso onde se considera que Fernando da Silva Pais, Agostinho Barbieri Cardoso e Álvaro Pereira de Carvalho, respectivamente director, subdirector e chefe dos serviços de Informação da PIDE «definiram, em data não averiguada - seguramente localizada no ano de 1962», o objectivo central de reduzir Humberto Delgado «à não actuação, quaisquer que fossem os meios necessários para tanto».
Note-se que os mesmos indivíduos «ordenaram, fraudulentamente, a instrução do processo n.º 2638/65 de averiguações, por morte do general Humberto Delgado, fazendo recair a suspeita de comparticipação, na forma de encobrimento, sobre o Dr. Jaime Vilhena de Andrade, advogado do foro portuense, e ainda sobre o arquitecto Artur Andrade, conhecido dirigente da Oposição ao regime político».
'gordas' da página 1 de um jornal francês de 1917
«hoje,
por ser domingo,
não houve revolução em Portugal»
A rapaziada que nunca gostou da PIDE(que prestou muitos serviços ao povo Português) se calhar esperava que esta fosse como o KGB em que meia dúzia assassinaram a elite polaca às dezenas de milhar.Se a PIDE tivesse feito isso por cá onde haveria anti-fassistas?
Recomendo a entrevista de Medina Carreira ao i ;)
"A história é sempre uma reconstrução do (s) passado (s) e é efectuada pela memória colectiva cujos agentes são múltiplos e entre os quais se encontram os historiadores."
Um processo também é isso mesmo, só que a memória nesse caso nem é a colectiva mas as dos seus intervenientes directos. Os magistrados e advogados são os historiadores dos processos.
Para mim, a História é o que foi. Ou seja, ou é História do que foi ou é simples ficção.
A maior parte dos historiadores nos quais incluo agora Rui Ramos de há uns tempos para cá são ficcionistas. Com a agravante de alguns escreverem mal e pior do que os romancistas.
No outro dia ouvi ao vivo Rui Ramos e é penoso ouvi-lo porque não tem facilidade de expressão e repete-se. Nem desenvoltura na comunicação.
José,
És um positivista. Se eu fosse o João Carlos Espada aconselhava-te a leitura de "A Miséria do Historicismo" do Popper. Mas como não gosto nem de um nem do outro, fico-me por aqui.
O Rui Ramos não é grande peça mas se leres o volume da HP dir. Mattoso escrito por ele sobre a República podes concluir que de acordo com a tua tabela classificativa é claramente um anti-jacobino.
É verdade. É anti-jacobino qb nessa história.
Mas não me satisfaz intelectualmente. Deixa-me sempre a desejar algo mais que nem consigo explicar bem.
A História de um passado remoto pode ficar-se por essa narrativa em que se faz falar as fontes.
Mas não é preciso ser-se positivista para se perceber que a História recente não precisa de ser uma ficção, pois existem fontes próximas.
O Rui Ramos faz demasiada literatura.
Ou seja- a História deve procurar ser o que foi.
As monografias são isso, por exemplo. Nós é que temos uma tradição demasiado pomposa de influência francesa onde se trocam os factos por teorias e literatura.
Eu acho que ele faz demasiada sociologia. E depois mistura coisas inconcebíveis e sai sempre tudo muito romanceado e com pitada de filosofia.
Também não gosto desse género. E é demasiado ideológico. Tende sempre a fazer passar uma mensagem.
O positivismo é uma doença jacobina. Vamos lá ver se alguém consegue negar esta afirmação.
O estruturalismo também o pode ser.
Porque é que para ti se a História não for demasiado literatura e sociologia tem de ser positivista?
O positivismo era a crença de que tudo tinha de se reduzir a ciência. A História não é uma ciência no sentido da física ou biologia. Mas isso não implica que tenha de ser uma ficção literária e subjectiva.
Onde vale tudo. Eu sei que a Escola dos Annales teve uma interpretação demasiado literária e ideológica por cá.
E é por isso que depois desaparecem os factos. Temos teorias aplicadas como grelhas para tudo.
E literatura. Demasiada literatura.
Essa história factual, minuciosa com trabalhos de uma vida, desapareceu porque hoje em dia toda a gente quer publicar teses e "interpretações" com assinatura demasiado visível.
Aqui há tempos até me citaste o Paul Veyne a esse propósito. E nem é isso que ele defende.
Ele fez teoria por causa da querela pleonástica das "ciências sociais e humanas".
Zazie,
A Escola dos Annales transformou-se em Portugal em história anal. Não sei porque perdes tempo com uma epistemologia da coisa. Em Portugal tudo isso (estruturalismo, et al) fica reduzido a estrume. A coisa é genética. Nunca reparaste no ar bovino das personagens dos Paineis de Nuno Gonçalves?
ehehehe
Por acaso têm ar bovino.
ahahahahahahahaha
Nunca me lembraria de o dizer
":O)))))))))))
O rabino então, não te digo nada.
ahahahahahaha
Parecem personagens de um filme de Manoel de Oliveira.
ahhahahaha
Que anormalidade.
Agora o José, deixem-me que diga tem uma técnica de argumentação curiosa:
Falem-lhe de PIDE reage pavloviamente com a KGB. Falem-lhe do CEJ e é logo cona, broche, meio mundo! Tenho que ir assistir a uma sessão de tribunal em que ele intervenha...
O José tem ouvido musical é por isso que apanha mais facilmente que as outras pessoas o tom de fundo.
E é verdade. O tom de fundo deste caso nem deixa margens para dúvida.
E é tal e qual como ele diz. Em nome da tal "memória colectiva" nem são precisos factos.
E essa memória colectiva é a "das vítimas" do fascismo.
O José não exagerou. Foram eles próprios que assim arrumaram a questão.
E sim. Fala-se da PIDE e vem o quê nessa "memória colectiva"?
Os que lutaram contra ela. Os mesmos do romance e da peça de teatro- "a filha rebelde".
Em tom romântico a que filha que vai viver a revolução cubana é uma rebelde. A tal ponto que inventaram diálogos contra o pai "reaccionário".
Se tivesses ido ao facebook e lido as anormalidades que eu li, percebias.
É literalmente isto- o agente da PIDE é criminoso e o resto é ficção romântica, excepto no ajustar de contas com o criminoso.
Eles chegavam a dizer que isto era uma afronta e uma tentativa de branquear a PIDE e o fascismo.
Existe a tal "memória colectiva" mas por deturpação factual. Essa sim, é ficção intocável.
Sobre essa questão da peça de teatro que não vi nem vou ver já me pronunciei aqui. Existe sempre alguém a construir mitos, como a heróica Catarina Eufémia, coitada, que se limitou a levar com um balásio, deve ter sido a coisa mais revolucionária que fez. Mas é inevitável.
Sim. Mas fizeram do direito de dos descendentes levarem a tribunal um caso histórico. Uma afronta contra a tal de "memória colectiva de um povo".
Os grandes "antifassistas", cá do burgo, gordos e luzidios, com as mordomias, do "antifassismo",não têm um passado assim tão "lutador".
Patricia Pinheiro, no livro, "Misérias do Exilio", conheceu a maior parte, destes "camaradas" em Argel, e, a mim me parece, que não foi bem assim, a "memória colectiva".
Em vez da visão marxista e oportunista da história, bastaria ser imparcial.
Wegie:
Eu nao sou positivista. Sou católico. E a minha visão da História contemporânea pouco tem a ver com o positivismo e mais com a realidade vivida.
Sendo assim lanço a questão que pode definir o que estamos a falar:
Onde estavas no 25 de Abril? Quer dizer o que foi para ti o 25 de Abril?
Historicamente quero dizer. Se tivesses que contar a um estrangeiro dos nossos costumes o que foi o nosso 35 de Abril como é que lho contavas?
Bora lá a isso que quero ver se és jacobino.
Estive a ler o artigo. É uma entrevista e apenas tem umas passagens como citações.
E não me pareceu nada. Eles dizem que não se sabe e que não vai ser com o julgamento que se fica a saber mais.
Têm razão. Apenas entra a tal passagem da "responsabilidade moral" e a tal memória colectiva que o Ramos diz que deve ser confrontada com "outro tipo de documentação e indícios" (whatever)
José,
Que raio de pergunta...Eu estava na Via Latina, por ali. E tu? Se calhar também estavas. Depois estava um calor sufocante. Nesse ano o Verão chegou mais cedo. E depois na véspera tinha estado redigir e policopiar um comunicado da CPRAC e a últimar a primeira tradução do 18 de Brumário para as Edições Centelha. Estás a ver como não sou Jacobino?
ahahahaha
Sem o Napoleão não havia jacobinismo
Pois eu estava ainda no liceu, no sétimo ano. Nessa altura ligava mais ao Pilote, à Rock & Folk e dava atenção à Time, à Newsweek e às francesas Le Nouvel Observateur e L´Express.
Mas tinha a consciência do que era o regime e do tempo que passávamos em termos económico-políticos.
Se tivesse de explicar a um estrangeiro dos nossos costumes, o que era esse tempo e como surgiu o 25 de Abril falaria num regime de autoridade em que não havia liberdade de ler tudo o que poderia ser lido, mas quase tudo. Não se podia ler a Playboy, por exemplo, mas podia ver-se nos escaparates revistas alemãs com seios de mulheres ( boas) à mostra. O máximo que era permitido pelos bons costumes era a Plateia e o Diário Popular com imagens apelativas, mas sem nudez. Até era mais interessante...
Explicava que a televisão era a preto e branco e havia uma pose de regime com os locutores de fato e gravata e com voz colocada para não dar qualquer notícia.
Toda a gente sabia que certas notícias não tinham lugar na tv. Como agora, aliás.
Havia uma presença da religião católica nos media e na sociedade muito maior que hoje e as pessoas nas aldeias iam quase todas à missa de Domingo.
A política tinha uma relevância muito menor que hoje porque o regime parecia estável e com apoio das pessoas.
Eu nem conhecia ninguém que fosse abertamente comunista ou até da oposição democrática abertamente.
Não havia grande liberdade de discussão política do marxismo e do comunismo para além da visão que o regime tinha dessa ideologia e que era expressa nos media da época.
Apesar disso, em vários jornais populares como A Capital, o Diário Popular e até o Expresso, a liberdade de expressão não sendo muito lata permitia que se entendesse o que se passava no mundo e no país.
A polícia política do regime que então se chamava DGS era sentida como eficaz e infundia medo nas pessoas.
E depois havia a guerra no Ultramar. De toda a gente que conhecia, de todos os que foram para a guerra nem uma só pessoa estava contra a guerra de um ponto de vista político.
Mas todos gostariam que a guerra terminasse ou de não ir para lá. Mas quando eram mobilizados entendiam o facto como um dever a cumprir. Era assim que eu via a guerra no Ultramar.
Quando aconteceu o Movimento do 35 de Abril de 74 a seguir ao levangtamento das Caldas, foi uma alegria para a maioria das pessoas que conhecia e para mim igualmente.
Alguns mais conservadores ( um padre que conheci e terrivelmente anti-comunista dizia-me dias depois que o a sociedade estava muito oprimida e precisava desse acontecimento) aceitaram a mudança de regime e não sentiram saudades do passado.
Isso terminou dali a alguns meses. Mas esta História que conto é a minha visão dos factos. Para mim, o 25 de Abril foi como contei.
E minto porque ainda não lia a Rock & Folk. Tal só aconteceu em Outubro desse ano.
Ouvia a Página Um e muito rádio. E fazia desenhos.
E continuo a dar-lhe com o 35 de Abril. Estou a escrever às escuras...
Pois é a tua visão. A minha como é mais minimalista e tem dados sobre o estado do tempo e não tem interpretações subjectivas sobre a guerra o regime e a imprensa parece-me mais acurada.
Veja lá se ainda se ainda se mete nalgum obscuro 31
":O)))))))
Outra coisa José,
Não existe nenhuma contradição entre ser positivista e católico. Encontrei os maiores positivistas entre os professores de história da FLUP. Quase todos sacerdotes e homens da Igreja.
Mas o José não conhecia gente da oposição? então não viveu os movimentos estudantis?
Nessa altura era a forma mais directa de se perceber o que se vivia.
Isto para quem estava a estudar, claro. Era impensável não se dar por nada.
V.s estão para aí numa confusão do caraças entre positivismo de estudo histórico e positivismo ideológico do cientismo do Comte.
Mas enfim. É mais um nome que se dá a quem faz história factual em vez de teorias ou filosofias.
O que pretendo dizer é isto:
Esta minha visão da História é tão boa como outra.
Pode ser tão objectiva quanto outra. Porque não é possível descrever um tempo ou narrar um acontecimento sem lhe dar a cor desse tempo e o comportamento das pessoas que habitavam esse espaço nesse tempo.
Por isso mesmo a narrativa histórica antiga é simplesmente ficção.
O Jacques Heers é católico e tende a seguir um neo-positivismo histórico.
Mas nem interessa para o caso. A menos que se explicasse qual o problema do positivismo histórico e porque é que tem de ser jacobino.
Isso sim.
Eu acho que o Wegie ainda não percebeu em que consiste o jacobinismo. Ou percebe e goza- com aquela do 18 do Brumário.
Eu não conhecia ninguém da oposição, comunista declarado. Conhecia quem não gostava muito do regime, que poderia ser muita gente.
Lembro-me de um ambiente de "situação" em que algumas pessoas se comportavam de modo verdadeiramente pidesco ( não era dgessesco) denunciando subversivos.
No liceu e escolas secundárias, logo no dia 25 de Abril, falava-se em certos contínuos que teriam colaborado com o regime. Suponho que essas denúncias partiram de comunistas.
Na minha turma de liceu havia uma subversiva que era assim entendida mas sem relevo de maior. A rapariga falava quase abertamente em certas aulas e nós ficávamos a ouvir. Não gostava do tom nem da forma dela falar.
Quero dizer que, para um estudante universitário, o contacto com os grupelhos comunas, as greves, as cargas policiais, era o dia a dia.
Por isso, no meu caso, não me surpreendeu o 25 de Abril, ainda que ninguém, em cima do acontecimento, percebesse que raio dali poderia vir.
E é por isso que até acho que só agora, com maior distanciamento, percebo melhor o regime do que na altura.
Porque o ruído da oposição a ele era mil vezes maior- nos anos 70, que o inverso.
Não dei por propaganda governamental como agora dou com os partidos. Existia mas não tinha cara. Era "deles"- do Poder, não fazia parte da ideologia militante como fazia a inversa- a marxista leninista. E essa existia até nos jornais.
Zazie o 18 de Brumário de Karl Marx. Porventura a melhor coisa que escreveu.
Ok. O José ainda andava no liceu. Mesmo assim, tem a idade do meu irmão e aqui em Lisboa isso era geral.
Nos cafés não se falava noutra coisa. Até o pseudo movimento hippie vinha com jazz e concertos de protesto com carga policial.
De um modo geral estava-se a par. O Maurice Béjard foi posto na fronteira. Nos ciclos de cinema e até de música e bailado o tom geral era de provocação ao regime.
Eu sabia o que era o oposto por via familiar. Eram amigos da família do "pai Tomás, como lhe chamavam.
Para descrever com precisão historicamente aperfeiçoada o regime é necessário citar a oposição, claro.
Mas é muito importante perceber o que era o regime em 73-74. E não era o que estes historiadores revisionistas nos pretendem impingir como História.
A minha visão da sociedade desse tempo não era essa e eu vivi esse tempo e lembro-me. Por isso mesmo contesto essa História.
O Pedro Feytor-Pinto diz o mesmo no seu livro. Conta que alguns episódios que leu não se passaram como foram contados por outros.
E é a isso que me refiro. As histórias da Flunser ou do Fernando Rosas não são a História. São apenas a história deles e que me interessa pouco.
Eu sei que é o 18 do Brumário do Marx (mas nunca li) e vi que estavas a gozar. Só não sei o que era o CPRAC
A revista que mais se aproximava dos novos tempos que viriam era o Cinéfilo, dirigido por António Pedro Vasconcelos.
Ainda tenho os números quase todos e que comprei na altura ( e depois porque alguns se perderam) e era uma maravilha.
Em Março de 74 trazia o concerto dos cantores de protesto no Coliseu.
É claro que tal acontecimento prenunciava qualquer coisa de novo e isso sentia-se. Para mim era assim que o sentia: através dessa imprensa.
Enquanto a situação resultante de 1974 não sofrer uma ruptura traumática a trama dos acontecimentos em termos de ideologia dominante será tendente a, como justificação do regime, fundar a sua legitimidade na "destruição" do regime anterior. Que na realidade não ocorreu mas é a ficção que está legitimada pelo poder e afins.
Comissão Pro-Reabertura da Associação Académica de Coimbra
Nisso tem razão. Por isso é que eu digo que só agora, por afastamento do ruído da oposição percebo as coisas boas da ditadura.
Na altura era miúda, vivi na família esses antagonismos e é claro que por todas as razões e modo de ser, o que mais queria era liberdade de expressão.
E não percebia nada de política. Apenas a noção da liberdade e de como me incomodava o "respeitinho".
Por isso foi rápido ficar logo do contra com o PREC.
Nunca poderia ser de esquerda. E ainda hoje percebo isso ao defender a Wikileaks
":O)))))))
Ah, e a treta de colectivismos e coisas assim, nunca fizeram a minha cara.
Nem para me documentar fui lá ver a anormalidade das ocupações.
O José Afonso de Venham mais cinco passava no rádio e era uma maravilha ouvir.
Logo no 25 de Abril, algumas canções que estavam proibidas passaram no rádio. Uma delas era a Ronda do Soldadinho pelo José Mário Branco. Lembro-me muito bem que essa canção representou o despertar da consciência contra a guerra no Ultramar de um modo diferente do que até então experimentava: até então essa oposição não era ideológica e essa canção já era abertamente ideológica.
Percebo muito bem que o regime a tenha censurado. A Inglaterra censurou a canção Shipbuilding de Robert Wyatt, uma grande canção na altura da guerra das Malvinas.
E Wyatt era e é comunista.
Percebem o que quero dizer?
Pois foi. Os meus pais passavam a vida nos concertos do Coliseu e na ópera e bailado e ciclos de cinema e em casa sabia-se o clima de "intervenção".
Do outro lado da família sabia-se o oposto e o passeio de domingo conjunto era sempre uma cena de nonsense.
Até tenho esse disco em EP, edição espanhola. Um grande, grande disco de Robert Wyatt. E a BBC censurou-o
A questão da guerra colonial é que a vivi de forma diferente.
Não conheci ninguém que quisesse ir para cumprir dever e tive até namoradito que desertou para a Suécia, por ter lá família.
E esse clima era o mais tenso, porque podia tocar em breve ao meu irmão.
As discussões políticas familiares existiam à conta disso. A minha mãe nunca o deixaria ir.
Se fosse comigo deixava nas calmas
ahahahahahaha
Ele sempre foi o "menino da mamã". Eu era capaz de ir, sei lá. Era passada.
Ah, sim. Mas esse é o aspecto que vem do nosso provincianismo.
Atribui-se tudo ao "facismo".
Tal como o Humberto Delgado- um militar que faça golpe de Estado já sabe o destino que tem traçado. Fosse onde fosse.
A quantidade deles que foram desta para melhor. Isso nada tem a ver com democracia ou assim e nem se sabe se para o que era. Era oposicionista ao Salazar.
Já agora um acrescento para a história da época. Nunca percebi bem essas deserções espectaculares para o estrangeiro por causa da guerra. Muita gente conhecia médicos do Hospital Militar que atestavam doença grave do mancebo e o dispensavam do serviço militar. Falo com conhecimento de causa.
Havia um tom geral de esquerda. Não era só cá. Era guerra do Vietnam e por aí fora.
Os desertores iam por terem família estrangeira. A mãe do meu vizinho era sueca. O pai nunca meteria cunha para safar o filho (por uma questão de ética) divorciaram-se e a mãe mandou logo embora.
Mas as cunhas existiam e por isso é que digo que podiam vir de onde menos se pode imaginar...
As dispensas correspondem ao "copianço". Era quem se podia arranjar. E quem podia aproveitava.
Nunca fomos uns patriotas por aí além. Nunca conheci pessoas que fossem para a tropa e para o Ultramar por gosto e para cumprir o dever patriótico de defender o que "era nosso".
Conheci foi quem lá tivesse ido parar porque era esse o destino normal, sem cunhas ou sem padrinhos para a dispensa.
E por outro lado não perdia as histórias de guerra dos regressados das comissões.
Ouvi-as sempre que alguém vinha do Ultramar e as contava como quem contava histórias da caça.
E conheci também quem contava as aventuras da pesca do bacalhau na Terra Nova.
Quase idênticas em aventuras.
Ah, sim. Plenamente de acordo.
Essas do bacalhau também. Eram fabulosas!
O que pretendo dizer essencialmente a propósito da narrativa histórica é que falta quem a faça de um ponto de vista quase neutro, ou seja, de quem não simpatizasse com a oposição e ao mesmo tempo tivesse ficado satisfeito com a mudança de regime.
O que temos até hoje são narrativas de gente da oposição ao regime, mesmo serôdia.
Por isso me interessa muito ler livros como o de Feytor Pinto.
E detesto sobretudo a novilíngua que reinventou uma realidade.
O Ultramar passou a chamar-se outra vez colónias como nos anos cinquenta e a DGS é apenas PIDE.
O regime é fascista porque sim e por aí fora.
Disto é que estou farto até à medula. Desta linguagem comunista e de oposição militante.
ah, ok. Eras da Comissão. Essas pró-reaberturas é que nunca entendi. Aquilo tirava-se o selo com uma patada
":O)))))))
José aqui e acolá encontras qualquer coisa, por exemplo o Costa Pinto supracitado tem um bom trabalho sobre os Camisas Azuis. A Fátima Patriarca tem várias coisas honestas sobre a oposição especialmente nos anos 30. Não há muito mais o clã do Rosas tem-se encarregado de envenenar a coisa.
Para esses prefiro o João Medina. Ao menos sei ao que vou e está bem documentado.
And now, the day is done.
Eu acho até que existe uma maior tendência para designar a Outra Senhora por Estado Novo e não fascismo. Exceptuado um exaltado aqui do Norte o Manuel Loff. Mas este é um pobre de espírito.
O Medina coitado é mais fotos do que outra coisa.
Sleep Well
«de quem não simpatizasse com a oposição e ao mesmo tempo tivesse ficado satisfeito com a mudança de regime.»
Isso também só com distanciamento, creio eu.
O raio do PREC foi lixado. Viver aquilo e ficar satisfeito com a mudança é complicado.
Por outros motivos. O Poder anterior não era gente conhecida- não eram os colegas e assim. Era coisa oficiosa.
O PREC é uma merda feita por toda a maltosa arrivista. E isso foi lição para a vida, quanto a mim.
É que viveu-se ali, em poucos meses, tudo o que há de sórdido e mesquinho no arrivismo político e na ânsia de poder.
E isso tocou mais precisamente por não ser fruto da tal Ditadura. Estes eram pela liberdade e assim e fizeram merda e mostraram que seriam mil vezes mais perigosos.
Eu tive essa noção e toda essa gente cortou relações comigo. Até atravessavam o passeio para não se cruzarem. E era gente nova, aparentemente normal e, ainda hoje, é fenómeno que me assusta.
O fanatismo ideológico- foi isso que eu vi o que era. E atacava tudo, é coisa que não olha a "classes socais".
Para mim o resultado dessa lavagem cerebral de 37 anos deu nesta pequena passagem que comentei no artigo:
"Mas a ausência de um documento que comprove o que muitos assumem como memória colectiva poderá dar razão à acusação?"
Memória colectiva o raio que o parta!
As purgas, as perseguições, a destruição da economia, o papão dos "ricos" e dos facistas. Essa treta não se esquece, mesmo que pessoalmente nem tenha tocado em nada.
Mas é este aspecto que eu também não entendo. Não entendo quem recorda o 25 de Abril e o PREC como "a festa".
Não dei por festa nenhuma que se recomende.
"Memória colectiva o raio que o parta!"
Tem toda a razão!
Boa nôte.
":O)))
Enfim: antes e depois do 25 de Abril, temos um povo "labrego e matarruano", sem boa-vontade, à espera que lhe untem as mãos no pequeno "poder" que tem, sempre a dobrar a cerviz ao "poder", seja ele qual for, à espera de uma "promoçãozita" que lhe aumente a clientela que lhe unta as unhas, enfim, a mesma merda de sempre, UM POVO RASCA...
Sem comparação. O bom povo português, que sabia honrar a sua palavra, que era trabalhador e honesto, acabou.
Não é o mesmo povo, acredite. Por muitos defeitos de característica que tenha, também piorou e os valores foram à vida.
Nem é o mesmo povo nem o mesmo capitalismo.
Perderam todos a honra e a palavra.
Em França queixam-se do mesmo. Um dos últimos artigos de Jacques Juillard que conto colocar aqui é sobre esse assunto: o de que o capitalismo mudou e os capitalistas franceses perderam a honra de outros tempos e estão mais gulosos e sem vergonha.
São o que eles agora chamam de ricos bling bling que sacodem as pulseiras para mostrar quem são. Sarkozy é o modelo do governante bling bling.
Pois é. Eu li o artigo. A grande escala dá nisso.
Pois é mas o capitalismo honrado praticamente só existiu na cabeça do Adam Smith. Nos sécs.XVII e XIX é que acreditavam nessas utopias.
Empresários honrados fartei-me eu de conhecer.
E ainda hoje conheço. Há coisas que não têm preço e trabalhar com gente honrada é uma delas.
E isso vale para cá e para todo o lado. Ao contrário do que se pode pensar, a palavra e a honra ainda são valores, mesmo em locais de topo.
Agora os bling bling andam aí e é um facto que é ciganada para quem nada disso existe.
Zazie,
Os chineses tratam da saúde aos empresários honrados (espécie em vias de extinção).
ehehehe
Podes crer. Os chineses e os indianos. Quando escrevi isto estive para fazer a ressalva.
E tratam até como CEOs em empresas europeias. Essa gente nasceu para escrava ou para algoz.
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