segunda-feira, junho 13, 2011

Republicação

Este postal foi publicado aqui, em 25.2.2011. Fica outra vez.

"O país estava a modificar rapidamente o seu aspecto e sentia-se por todo ele um surto de
Linkprogresso do qual iam beneficiando todas as classes.
A afirmação de que era o mais pobre da Europa baseava-se em estatísticas donde se extraíam índices desfavoráveis. Mas o que nós tínhamos, com certeza, era o pior serviço estatístico da Europa e a menor capacidade, também da Europa, para trabalhar a informação internacional. Quem percorria o território metropolitano via por todo o lado uma lavoura a renovar-se procurando vias novas na fruticultura, na florestação e na pecuária, uma indústria em plena expansão, os serviços cada vez mais espalhados e a oferecer mais empregos. O comércio vendia quanto tinha. Os impostos entravam facilmente nos cofres do Estado, a conta do Tesouro apresentava constantemente saldos elevados e nunca tive no governo dificuldades financeiras.
Deve-se ao Dr. Salazar a ordem mantida durante quase meio século nas finanças portuguesas. Caprichei em conservá-la. A partir de um orçamento prudentemente equilibrado praticava-se uma gestão legalista em que a previsão orçamental das despesas tinha de ser respeitada.
As despesas ordinárias ficavam sempre muito abaixo das receitas ordinárias para que o saldo pudesse servir de cobertura às despesas extraordinárias militares e até a algumas de fomento. NO rigor dos princípios, o que se empregava em investimentos reprodutivos podia- até talvez devesse- ser obtido por empréstimo: mas a verdade é que só uma parte o foi, porque se encontrou sempre maneira de conter o montante da dívida muito abaixo das possibilidades do crédito nacional e da percentagem razoável do Produto Nacional Bruto.As despesas militares eram um quebra-cabeças. (...) Debalde eu determinara que não se excedesse com as despesas militares os 40% do orçamento geral do Estado: ia-se até aos 45%, e o pior é que se tinha a consciência de uma péssima administração do Exército, pois na Marinha e Força Aérea as previsões orçamentais eram respeitadas."

Este texto vem nas páginas 96-97 do livro de Marcelo Caetano, Depoimento, escrito em 1974, após a sua deposição e publicado nesse ano no Brasil. Comprei-o há dias num alfarrabista. Antes tinha comprado um outro chamado "As mentiras de Marcelo Caetano", uma espécie de resposta a esse livro e também publicado em 1974 pela Agência Portuguesa de Revistas (!) e da autoria de um coronel- António Cruz e um tal Vitoriano Rosa. Antifassistas pela certa e que para contraporem argumentos ao livro de Marcelo Caetano, na sua maioria patéticos, usam duas dúzias de páginas, contando já com as transcrições dos trechos escolhidos pelos ditos e daquele livro.
O resto são facsimiles de documentos da Censura, onde se inclui a petição de Raul Rego ao tribunal Administrativo de então ( por causa de lhe terem censurado um livro) e que por si só vale o livro que se encontra esgotado e esquecido.
Portanto, comparando hoje o que Marcelo Caetano escreveu sobre o Portugal de 1974, em termos económicos temos que concluir que quem nos governa é simplesmente criminoso. E o crime é continuado, de há décadas para cá.
A prova é esta primeira página do Expresso de Julho de 1981. Após a intervenção do FMI escassa meia dúzia de anos após o 25 de Abril, o panorama económico português era de banca-rota. Como hoje.
Aliás, os responsáveis eram e são sempre os mesmos; a esquerda em geral e o socialismo "democrático" em particular, durante o tempo do PREC, apesar da oposição à nova ditadura, e que se manteve um fiel aliado do PCP na economia e na manutenção da Constituição, "em rumo à sociedade sem classes".
E até o PSD, compagnon de route daqueles porque incapaz de um discurso de demarcação clara do comunismo, com a excepção de Sá Carneiro que nunca teve medo da palavra. Incluindo também o CDS da AD, sempre "rigorosamente ao centro", com Freitas do Amaral. Portanto, uma esquerda alargada, ideologicamente marcada na Economia por uma colectivização objectiva e que só foi abandonada parcialmente nos anos noventa que se seguiram.

A pergunta que deve colocar-se hoje em dia é muito simples: perante o panorama económico descrito por Marcelo Caetano e que é realista, porque quem viveu esse tempo lembra-se muito bem disso, seria crível que se tivéssemos continuado na Economia, como estávamos antes, portanto sem o PREC que nos decapitou o sistema produtivo de base, teríamos o panorama de banca-rota e descrédito económico do Estado que já tínhamos no final dos anos setenta e que obrigou a medidas sérias de austeridade em todos os anos oitenta? É escusado argumentar com a crise do petróleo, da subida da inflação e essas coisas.
O essencial é a pergunta que fica. Para que serviu o PREC na Economia? A resposta é muito simples também: para nos derrotar economicamente e conduziu à pobreza que ainda hoje experimentamos. Não vejo explicação diversa.
Como não é preciso procurar muito para se encontrar a explicação para a nossa banca-rota actual: o socialismo democrático, voilà!
Ainda vai demorar tempo até que as pessoas em geral se apercebam do papel destes criminosos, mas talvez um dia destes descubram. À força da miséria que se instala.

3 comentários:

Floribundus disse...

durante o prec tive de comprar um revolver taurus para ir à minha aldeia.
fui perseguido, ameaçado fisicamente.
a gnr não queria aceitar uma queixa. o juiz ou era comuna, borrou-se de medo ou as duas coisas.

de fome mataram-me metade das ovelhas. roubaram-me quanto puderam. pegaram fogo às arvores.

em Lisboa na empresa onde trabalhava o ambiente era o mesmo. a mesma escumalha cheia de inveja e ódio.

'enquanto houver um português com um pão a revolução socialista continua'

Unknown disse...

aquando da "revolução" era miúdo e estava a viver outra a de Angola. lembro-me no entanto que os da raça que tornaram este país no que hoje é, ensinaram os de lá a fazerem o mesmo. fazendo um paralelismo e vendo o que por lá se passa, ferraris e outros a passearem no meio da M____, por cá alegremente para uma realidade paralela caminhamos. a minha esperança e para os meus filhos é que por ai apareça um grande F__P___ e deite mão a esta terra e gentes, pois felizmente bons ainda os há.

já agora, é excelente pelo menos para a minha memória que exista um "José". obrigado.

Wegie disse...

"...estatísticas donde se extraíam índices desfavoráveis.". LOL.

A obscenidade do jornalismo televisivo