Ontem estive num pequeno happening. Num “lançamento” de um pequeno livrito de um jornalista que agora administra a RTP, António Luís Marinho e que ocorreu na livraria Bertrand no Plaza Picoas, em Lisboa.
Nenhum dos jornais de hoje refere o evento...
O perfil deste jornalista, pouco mais velho do que eu, é interessante pelo que revela do jornalismo português e da sua evolução.
António Luís Marinho, 53 anos ( em 2007, nota minha) trabalhou na Renascença, TSF, Lusa – primeiro como adjunto e depois como director, quando Oliveira e Silva, que hoje dirige o Centro de Formação da RTP, passou a presidente –, integrou a direcção da TVI, editou a Política na SIC e, pela mão de Emídio Rangel, foi subdirector da RTP. Depois, dirigiu os canais da rádio pública antes de suceder a Rodrigues dos Santos na direcção de Informação. Agora, é o director-geral de Informação para Televisão e para Rádio.
O que ontem presenciei e ouvi torna-se interessante porque é um pequeno retrato, necessariamente em fotomaton, apressado e fluido, do panorama de um certo ambiente mediático.
Para descorticar o assunto o pretexto é o livro, um pequeno ensaio sobre acontecimentos de 1961 da vida política nacional relacionados com o regime de Salazar: o começo da guerra em Angola, o desvio do paquete S. Maria e de um avião da TAP.
O texto do livro é, por assim dizer, inócuo, quase irrelevante perante as dezenas de reproduções de páginas e primeiras páginas de jornais da época ( quase exclusivamente o Diário Popular, consultado e fotocopiado na Hemeroteca de Lisboa) e revistas como a Flama ou o Século Ilustrado. As imagens substituem as palavras e apesar de serem apelativas justificariam melhor aproveitamento (con) textual. O livro é fraquito, mesmo graficamente e não se percebe o entusiasmo mediático que rodeou o lançamento: televisão e reportagem alargada com entrevistas e a presença maciça de jornalistas da “velha guarda” .
A apresentação do livro, com texto escrito e palreio interlocutório ficou a expensas do jornalista Batista Bastos que aludiu às velhas ideias de sempre, as de esquerda, naturalmente, sem esquecer a velha ideia de “classe” e com bicadas específicas em alguns ausentes, como um certo “troca-tintas”, que todos reconheceram assinar nome em jornal como Vasco Pulido Valente, porque este ousou criticar em escrito o excelso discurso de António Barreto, no dia 10 de Junho, muito louvado por este Bastos do jornalismo.
O perfil deste jornalista, pouco mais velho do que eu, é interessante pelo que revela do jornalismo português e da sua evolução.
António Luís Marinho, 53 anos ( em 2007, nota minha) trabalhou na Renascença, TSF, Lusa – primeiro como adjunto e depois como director, quando Oliveira e Silva, que hoje dirige o Centro de Formação da RTP, passou a presidente –, integrou a direcção da TVI, editou a Política na SIC e, pela mão de Emídio Rangel, foi subdirector da RTP. Depois, dirigiu os canais da rádio pública antes de suceder a Rodrigues dos Santos na direcção de Informação. Agora, é o director-geral de Informação para Televisão e para Rádio.
O que ontem presenciei e ouvi torna-se interessante porque é um pequeno retrato, necessariamente em fotomaton, apressado e fluido, do panorama de um certo ambiente mediático.
Para descorticar o assunto o pretexto é o livro, um pequeno ensaio sobre acontecimentos de 1961 da vida política nacional relacionados com o regime de Salazar: o começo da guerra em Angola, o desvio do paquete S. Maria e de um avião da TAP.
O texto do livro é, por assim dizer, inócuo, quase irrelevante perante as dezenas de reproduções de páginas e primeiras páginas de jornais da época ( quase exclusivamente o Diário Popular, consultado e fotocopiado na Hemeroteca de Lisboa) e revistas como a Flama ou o Século Ilustrado. As imagens substituem as palavras e apesar de serem apelativas justificariam melhor aproveitamento (con) textual. O livro é fraquito, mesmo graficamente e não se percebe o entusiasmo mediático que rodeou o lançamento: televisão e reportagem alargada com entrevistas e a presença maciça de jornalistas da “velha guarda” .
A apresentação do livro, com texto escrito e palreio interlocutório ficou a expensas do jornalista Batista Bastos que aludiu às velhas ideias de sempre, as de esquerda, naturalmente, sem esquecer a velha ideia de “classe” e com bicadas específicas em alguns ausentes, como um certo “troca-tintas”, que todos reconheceram assinar nome em jornal como Vasco Pulido Valente, porque este ousou criticar em escrito o excelso discurso de António Barreto, no dia 10 de Junho, muito louvado por este Bastos do jornalismo.
Na sala que se compôs rapidamente logo que começou a apresentação, compareceu em peso a RTP onde se jornaliza há muitos anos. Mas não só. O peso institucional do autor do livrito, que certamente a maior parte condescenderá em catalogar como obra de mérito sem além, implicou a presença de amigos e muitos obrigados. Não sei distinguir, mas consigo perceber que há uma esquerda em Portugal que se recusa a desaparecer.
É uma esquerda que deslizou da extrema até ao centro e que agora já nem sabe de que terra é. Por ali vi Adelino Gomes, um radialista cuja voz em dicção excelente nos relatou os meses de brasa do PREC, com obvio pendor de simpatia, mas suficiente distanciação para a isenção requerida.
Vi Cesário Borga sempre de pêra a mancar à esquerda e que aparecia na tv também com a mesma ética: uma seriedade antiga mas ancorada na coxia desse lado. Vi João Paulo Guerra que cumprimentei e que apresenta ainda hoje nas manhãs de rádio da Antena Um, uma resenha de imprensa periódica. Mesma ética indisfarçável que comungará com o apresentado António Macedo que aprecio ouvir apesar disso.
Vi outros da mesma geração e feitio e ainda mais alguns que formam o corpus iuris da nossa mentalidade socialmente de esquerda. Ate o Rangel, Emídio lá se desenvolvia em passos perdidos de curiosidade solitária.
Foram essas pessoas que influenciaram de modo decisivo o relato das notícias, dos acontecimentos e dos factos socialmente relevantes durante muitos anos. Perdido no meio deles todos, Fernando Dacosta, franzino e impecável porventura à espera de ideias para o magnífico programa que passa na Antena Um, sobre as memórias do Estado Novo.
Dizem que o autor Luís Marinho nem será de esquerda…o que é extraordinário porque tinha lá toda a nata do jornalismo do antigamente. De esquerda como convém.
Sobre este fenómeno interessa-me elaborar mais um pouco, porque se me afigura interessante perceber como é que estas pessoas que acreditaram piamente no Homem Novo e nos amanhãs a cantar aderiram pacificamente a ideias esquerdistas que na prática foram abandonando e passando a conviver com praxis que combatiam anteriormente.
Mas isso fica para depois. Em primeiro lugar porque me parecem todos pessoas estimáveis, com uma atitude que me agrada, de porreirismo e companheirismo. Coisas antigas que muitos não entendem e que se tornam estranhamente simpáticas num meio em que a competição toma outras feições, porventura mais perniciosas para o humanismo de muitos e paradoxalmente mais adequadas ao funcionamento do pluralismo mediático.
Dizem que o autor Luís Marinho nem será de esquerda…o que é extraordinário porque tinha lá toda a nata do jornalismo do antigamente. De esquerda como convém.
Sobre este fenómeno interessa-me elaborar mais um pouco, porque se me afigura interessante perceber como é que estas pessoas que acreditaram piamente no Homem Novo e nos amanhãs a cantar aderiram pacificamente a ideias esquerdistas que na prática foram abandonando e passando a conviver com praxis que combatiam anteriormente.
Mas isso fica para depois. Em primeiro lugar porque me parecem todos pessoas estimáveis, com uma atitude que me agrada, de porreirismo e companheirismo. Coisas antigas que muitos não entendem e que se tornam estranhamente simpáticas num meio em que a competição toma outras feições, porventura mais perniciosas para o humanismo de muitos e paradoxalmente mais adequadas ao funcionamento do pluralismo mediático.
9 comentários:
o nacional-porreirismo é pago de variadas formas.
conheço grande parte da 'fina-flor do entulho'. alguns andaram a 'pescar' e eu a ver o peixe podre que levavam.
Macedo devia estar lá por ir a passar
Vou comentar, José!
LT
José:
Gosto do teu texto, embora não concorde com ele totalmente, e vou publicá-lo no meu blogue.
Considero no entanto que a tua visão panorâmica do "happening" está inquinada.
Não tenho a tua mestria de escrita, mas "desancas" naquilo que consideras um "jornalismo de esquerda"... Não creio que tenhas razão.
Apenas um exemplo que considero sintomático:
Apresentei-te um antigo secretário de Estado de Durão Barroso que, enquanto falávamos numa pretensa privatização da RTP, ele argumentava que os seus amigos do PSO não sabiam o que isso era e que, nem sequer, tinham alguma vez entrada numa redacção...
Ao que tu, judiciosamente (é assim que se diz) ripostaste que quem escreve sobre tribunais, justiça, etc, também nunca tinha entrado num tribunal... Ambos com razão!!!
Sabes o que te digo? Tinhas uma ideia do que ias escrever e escolheste quem se encaixava nesse módulo...
Mas a bota não diz com a perdigota. Reconheço que havia gente de esquerda, mas nem tanto... Tanta gente de direita e tanta outra que cai para os lados do vento do poder...
Não te cheguei a apresentar o Fernando Lima, que se riu quando o Baptista Bastos cascou no Cavaco?
Como quer que seja, embora inquinado (acho eu!) gostei do teu texto. É uma boa peça para discussão!
abraço!
LPA
José,
Já ando há algum tempo para te recomendar uma autora que talvez não conheças, Deirdre MacCloskey, e que tem uma démarche teórica semelhante à tua mas a uma escala maior.
Verifica a coisa aqui numa polémica com um jacobino:
http://www.deirdremccloskey.com/articles/bv/letter.php
"I call the "clerisy"---the people like you, me, and Eugene McCarraher who read Books and Culture, say. Many such people, and among them the heights (Shaw, Weil, Sartre, Rorty), have since 1848 turned against capitalism and the bourgeoisie. I don't think there's any doubt on the matter in the book, or in the history of Europe."
Hummm...interessante.
É não é? Sou um grande apreciador da obra dela especialmente quando ainda era um ele Donald McCloskey e era o top mundial da cliometria.
Ai também é um Walter Carlos que passou a Wendy?
O Laranja Mecânica deve-lhe a música.
entendido
o jornalista português é cinquentão ou pra lá caminha
usa e abusa de happening's thing's
demarche's e de Plaza's
e praxis à cause dus gregos
e acha que dantes o jornalismo era nata
e agora é só coalho (com o ou u)
bou-me paradoxal mente de mãos a abanar quando birtualmente as tinha cheias de nada e nadas
mas não de natas
jornalísticas ou outras
Sim mas assumiu a coisa corajosamente desde inicio. Com 53 casado resolveu mudar de sexo. Mas os trabalhos dele/ela não têm nada a ver com esta circunstância. Só desinvestiu na história económica e apostou mais na Ética. Para ti interessa mais a fase Deirdre. Para mim a fase Donald.
Enviar um comentário