terça-feira, junho 07, 2011

Jornais de 1975- a reacção

Em 1975 surgiram em Portugal dois diários, entre outros mais, que merecem destaque. O primeiro foi o Jornal Novo, dirigido inicialmente por Artur Portela Filho e com um corpo redactorial que se pode ler clicando na imagem. O Jornal Novo era um jornal que poderia ser considerado moderado no âmbito do PREC que então se vivia. Mas não era de modo algum o jornal que afirmava qualquer ideia de direita por muito remota que pudesse ser. Era social-democrata, no máximo e pelo menos socialista democrata segundo se pode ler na ficha de colaboradores. Mais tarde, com outra direcção ( Proença de Carvalho também passou por lá) mudou para A Tarde.

No mesmo ano, em 25 de Agosto de 1975, em pleno Verão Quente saiu este primeiro número ( aqui em segunda edição) de A Luta, com ficha redactorial assinalada e que se pode ler clicando. O jornal era então dirigido por Raul Rego, do PS ( com Vítor Direito que fundou depois o Correio da Manhã, a adjunto e um repórter no estrangeiro chamado Miguel Sousa Tavares) e que dirigira o República, pelo menos até Maio desse ano, altura em que as forças políticas do PCP e da extrema-esquerda se defrontaram no interior do jornal com a linha moderada do PS que o dirigia. O conflito levou eventualmente ao encerramento do jornal, mais tarde. Entretanto, A Luta pretendeu ocupar-lhe o lugar e o editorial é sintomático da inclinação esquerdista do periódico que se associava ao PS. Escreve-se em nome de "classes", de "exploração do homem pelo homem" e outros mimos de pendor cripto-revolucionário e esquerdista que o momento era de luta e o PS não queria fazer fraca figura perante os comunistas que dominavam o panorama informativo através dos seus jornalistas de causas, com o capitão Clemente na tv , de barbas e a incentivar a brigada da 5ª Divisão que andava por Trás- os-Montes a doutrinar a populaça rural e reaccionária, à revelia da padralhada que lhes andava a fazer a cama social e lhes estragava os planos. Para grande desgosto dos nossos cantores revolucionários, como Zeca Afonso, Fausto, Sérgio Godinho, José Mário Branco e Júlio Pereira e muitos outros. Estes, os vivos, ainda hoje sentem a falta e o alento desse tempo...

Se formos ler as fichas redactoriais dos dois jornais encontramos pessoas que ainda hoje andam por aí nos media. Não mudaram assim tanto a orientação ideológica e que me parece simplesmente ser de esquerda "suave", ou seja, social-democrata. Socialista democrática, se quiserem.
A "direita" aqui, nestes jornais? Não existe. Non est. Não se apresenta a concurso. Por isso arranjem lá outra taxinomia que a que usam é um embuste.

Para perceber como é ocioso encontrar clivagens ideológicas significativas entre o PS de então e o PPD que depois veio a chamar-se PSD vale a pena ler este pequeno texto em que Marcelo Rebelo de Sousa por este partido e Sottomayor Cardia, pelo PS chegam à mesma conclusão: PS e PPD coincidem na sua análise da revolução portuguesa.
Então onde residem as diferenças substanciais e ideológicas que determinam agora que o PS encoste o PSD à direita? Alguém as topa ou afinal é tudo um fogo de vista ideológica para captar votos precisamente entre aqueles que eram então o "inimigo principal" e comum- a esquerda do PCP e a extrema-esquerda?

Estes dois jornais, aliás, foram citados por Vasco Gonçalves no seu discurso alucinado de Almada que iniciou o fim do PREC. Citou expressamente o Expresso e o Jornal Novo como jornais "reaccionários".
Evidentemente que se o PREC tivesse ido avante, os camaradas teriamposto o cadeado nas portas dos dois jornais e eventualmente prendido os seus directores e jornalistas. Iriam para campos de reeducação democrática. E arranjariam sempre uma explicação convincente para o acto de censura e repressão da liberdade: bastar-lhes-ia apodar os jornais de "contra-revolucionários"...

1 comentário:

Floribundus disse...

entrei para a fac ciências 1950.
tornei-me amigo dum colega que era estalinista. almoçamos no verão quente de 75. dizia com amargura que no dia 25.iv rebentou o cano de esgoto e só veio trampa à superfície.

em 49 no final dum comicio de norton de matos na voz do operário conheci alguns elementos que mais tarde encontrei durante a minha vida profissional. foram eles que me levaram para a maçonaria no começo dos anos 60.

a escumalha que nunca fora nada fez-me a vida negra depois do 25.iv.
consolava-me mandando-os bardamerda

ainda hoje tenho dificuldade em aceitar a escumalha de esquerda

A obscenidade do jornalismo televisivo