terça-feira, outubro 11, 2011

Ganda capa para quem é, bacalhau basta

O Correio da Manhã de hoje excede-se mais uma vez no jornalismo para quem é, bacalhau basta.
Em manchete proclama que o MºPº "pede 3 anos de prisão para Hulk" ! Fantástico como este jornalismo de pesca ao bacalhau a pataco consegue notícias assim, vindas do limbo do sensacionalismo mais rasteiro.
Nas duas páginas interiores desmente-se a si mesmo na primeira página e no título interior ( "MºPº quer portistas na prisão") ao colocar o artigo do Código Penal ao abrigo do qual o referido Hulk foi acusado- artº 143º do C.P. e que é claríssimo ao dizer que o crime de ofensa à integridade física é punido com pena de prisão ATÉ três anos OU COM PENA DE MULTA.

Portanto, nem o MºPª pede pena de prisão para o tal Hulk e muito menos o quer na prisão, porque numa acusação que foi o que sucedeu para o jornal dar a notícia é obrigatório colocar o artigo que configura a prática do crime, mas não é necessário e tal nunca ocorre, colocar o desejo de aplicação de prisão, a não ser nos casos em que a prisão preventiva é requerida. E por outro lado, atenta a dimensão dos factos- uma agressão simples num contexto de provocações e eventuais altercações com retorsão, nunca mas mesmo nunca a Justiça portuguesa aplicaria uma pena de prisão em concreto, a um arguido nessas circunstâncias.
Uma notícia completamente parva, destituida de senso e apenas com dois objectivos: acirrar os ânimos dos portistas que levam estas coisas a peito e vender asneiras, como de costume, porque dão dinheiro. O negócio são números para o patrão, para o redactor Octávio Lopes que assina a notícia. Amanhã há mais.

Entretanto, o subdirector desta edição apasquinada do jornal, Manuel Catarino, assina uma pequena crónica na última página em que tenta ridicularizar o DIAP, escrevendo que "perdeu quase dois anos em aturadas investigações a propósito do pontapé de Hulk no túnel do estádio da Luz- crime, como se compreende, de extrema gravidade".
Pontapé mesmo e no pé, é dado por este director do jornal neste pequeno escrito: se o crime tem essa gravidade residual porque é que serve de capa à edição de hoje?
Estes jornalistas do para quem é bacalhau basta, já nem se enxergam a si mesmos, na mesma redacção.

12 comentários:

AF disse...

Bem, isto passa para além das parvoíces das "interpretações" a distorcer a verdade: o que se lê na capa é simplesmente mentira !
É muito, muito mau.

lusitânea disse...

Portanto estamos quase a chegar à conclusão que talvez uma "censura" prévia evitasse estes e outros "écos" ainda mais graves na saúde mental da população.Isto porque afinal a "liberdade" é "libertinagem" e "negócio irresponsável" e ainda mais grave "traição e compadrio"...que só afundam os verdadeiros Portugueses!

Anónimo disse...

Se o José não viu a reportagem sobre o caso das estradas com a criatura que está acima e que passou hoje na TVI, então veja, porque as acusações ali proferidas são demasiado graves, como são os factos imputados àquele senhor e ao respectivo governo, se verdadeiros. Obviamente, a esta hora o PGR já abriu um inquérito e como se espera de um país civilizado, a esta gente vai ser ouvida em breve, sem tesouras. A acusação de que o governo refez primeiro a lei para negociar depois através de parte interessada foi apresentada sem papas. Aposto que este caso também vai ser isaltinado e vão todos fazer de conta que não ouviram nada.

Zé Luís disse...

José, os portistas só se riem, como eu o fiz na minha coutada.

Entetanto, agradecendo-lhe os pontos nos ii, porque se dá ao trabalho que nem eu nem nenhum portista dá de ler esse pasquim, recordo-lhe do manco Octácio Lopes ser o tipo das cassetes roubadas na Redacção e com uma estranha quietude dos responsáveis da altura, ao tempo o Marcelino pão e vinho...

O Octávio é manco também da tola...

Monchique disse...

Pode ser tudo um exagero, mas que é uma pouca vergonha o DIAP andar a perder tempo com merdinhas, lá isso é. Grave. grave para o País são os problemas do Vara, do Sócrates, dos sobreiros, da campanha Figo/Sócrates,da Cova da Beira, dos submarinos, das autu-estradas, da PT/TVI etc.etc.etc. tudo casos que, ao que parece, mexem com os nossos dinheiros. Um caos as prioridades nas investigações do DIAP e outros que tais.

josé disse...

O DIAP anda a perder tempo com estas merdinhas porque são estas merdinhas que compõe o ramalhete da maioria dos inquéritos criminais em Portugal.
Quem é ofendido fisicamente tem o direito de se queixar e o MP tem o dever de investigar tudo de igual modo.

No caso, dois anos até nem é muito tempo atendendo a que os arguidos são do Porto ou lá moram e as precatórias para os ouvir devem ter demorado vários meses, pela certa, com as faltas e a audição de testemunhas de defesa habituais ( devem ser dezenas...).

Portanto, se um jornalista quisesse iria ver o processo e como se desenrolou e rapidamente chegaria à conclusão que até andou rápido para o que é...

josé disse...

Por mim, assim à partida e sem conhecer o processo tinha-o arquivado com base num artigo do código penal que diz que quando há agressões mútuas e não se sabe quem começou, o processo pode arquivar-se, com a concordância do juiz.
Era o que fazia e seria bem mais rápido e não dava azo a estas touradas nos jornais do jornalismo para quem é bacalhau basta.

AF disse...

Permita-me discordar, caro José. O arquivamento do processo daria concerteza direito a primeiras páginas de igual calibre.

portolaw disse...

José,

Concordo com AF. Embora acredite que isto vá dar "em nada" (seja pela absolvição, seja por não se saber quem começou, sejo por que for), ou ainda que resulte numa multa qualquer, parece-me que para o jornalismo "para quem é bacalhau basta" houvesse muito mais bacaulhau num arquivamento. Já estou a ver as parangonas "MP protege jogadores do Porto no caso do túnel" ou "os viscondes do MP também já chegaram à capital".

Prefiro assim. O "nacional-abutrismo" precisa de alimento.

Monchique disse...

Aqui está mais um exemplo do caos da justiça. Então se os arguidos são do Porto porque será que em vez de cartas precatórias não vai uma simples carta registada a pedir ao arguido X Y e Z para comparecer no DIAP/TIC ou quejandos do Porto para ser ouvido via video-conferência.Eu sei que as magistraturas dizem que a culpa é do Legislador e o Legislador diz que a culpa é das Magistraturas.O Povo, que observa, está mesmo convencido,com alguma razão, pende para dar culpar as Magistraturas. Inadmissível este caso e o caminho processual em curso.

Zé Luís disse...

Ah os gajos do Porto foram ouvidos?

Eu pensava que a acusação baseava-se exclusivamente na versão dos ofendido...

josé disse...

Zé Luís: Não conheço o processo mas escrevo pelo que diz a lei. E esta diz que sempre que há um arguido conhecido num processo é obrigatório ouvi-lo sob pena de nulidade.

Quanto às precátórias é igual: a regra é ouvir as pessoas by the book e este diz que podem ser ouvidas onde convier mas o sítio da residência é o primeiro lugar para as convocar. E de resto quem pagaria as deslocações desses craques do futebol que andam em bólides a gastar muitos litros aos cem?

O Público activista e relapso