domingo, outubro 16, 2011

Chefes de serviços que trabalham a mais

O Correio da Manhã de hoje dedica algumas páginas ao fenómeno recorrente das chefias de serviços públicos em Portugal que trabalham demais...

Numa entrevista desenvolvida em duas páginas, o bastonário da Ordem dos Médicos diz que "não há problema nenhum em os médicos trabalharem mais horas, desde que lhes paguem justamente." E para tal "vamos discutir o vencimento-base dos médicos, colocá-lo num nível justo. E se for preciso que os médicos trabalhem mais horas, não lhe vamos chamar horas extraordinárias, vamos pagar-lhes o preço pelas horas que trabalham a mais".
Como foi notícia recente, num hospital algarvio, um médico de oftalmologia conseguiu a proeza de ganhar no serviço público qualquer coisa como cerca de 700 mil euros num ano...mas diz que não " tem de prestar contas a ninguém". Pois não. A Ordem dos Médicos não tem poder para tal e foi com certeza no tal esforço suplementar, para diminuir listas de espera em cirurgia oftalmológica que o médico lá auferiu pelos trabalhos a mais. O Bastonária sobre isto nada tem a dizer, sobre estes "trabalhos a mais".
De resto, as administrações hospitalares, com cinco administradores por hospital não se fazem rogados nas mordomias a cargo do erário público. É ler...


Também no mesmo jornal e mesmo sentido de trabalhos suplementares aparece a notícia de que os gestores da CP, particularmente de uma empresa na qual a CP é o único accionista, os administradores queriam comprar popós novos e qualidade média ( Skodas Octavia) certamente para os seus quadros intermédios que trabalham de mais. Foi cancelada a ideia, mas fica a intenção...

Com estas e muitas outras como esta, não há estado social que resista nem falência de país que se possa adiar.

39 comentários:

zazie disse...

Pois é José. Mas deste "Estado Social" ninguém fala.

O problema com os gastos na saúde são as despesas com os velhinhos e coisas assim.

foca disse...

Misturar tudo nunca é boa ideia. Esta empresa é responsável pela manutenção, se os directores não tiverem carro não vão a lado nenhum, logo não podem fazer o que é suposto.
E não é preciso ser ecnomista para verificar que carros com centenas de milhar de km vão ficar mais caros que uns novos.

josé disse...

foca: para que é que esses administradores precisam de carros da empresa?

A maioria das pessoas que trabalham em funções no Estado têm os seus carros pessoais e transportam-se em meios públicos como os combóios, etc.
Além disso, esses adminitradores da CP e mesmo os hospitalares não têm que se deslocar a não ser para o sítio onde trabalham. Não são caixeiros viajantes...

Por isso, num país falido e que sempre foi pobre estas mordomias são simplesmente obscenas.

Floribundus disse...

ESCRAVATURA ILUMINISTA

josé disse...

Lembro-me ainda de no Terreiro do Paço, os carros do ministério da Justiça serem Volvos com vários anos de uso. Eram Volvos porque os socialistas suecos do tempo de Olof Palm se darem bem com os de cá e por isso as compras eram desses amigos políticos. Tudo o que era câmara PS tinha Volvos. Tudo o que era câmara PSD começou então a ter BMW. Não é exagero porque foi isso que sucedeu na Câmara do Porto e muitas outras.

Mas não desviemos. Nessa altura, mesmo depois da adesão à CEE não havia dinheiro para estas mordomias que depois foi um ver se te avias.
Tudo o que era ministério renovou frota automóvel. Tudo o que era empresa pública idem e com carros de topo de gama, a gasolina e cartão para encher na bomba com o Estado a pagar.

Isto para mim é simplesmente inaceitável perante o país que temos e somos.

josé disse...

Não há absolutamente nenhuma justificação para que um administrador de empresa pública tenha direito a andar com um carro público e de topo de gama. Nenhuma.

O administrador que pague do seu bolso o transporte porque é o que fazem outras pessoas que trabalham para o Estado. E aliás ganham muito bem para tal, não precisando de mais essa regalia.
Para ir do trabalho que muitas vezes é um trabalho de presença apenas e nem tem horário fixo ou que careça de presença constante, o administrador que ande no seu carro se o tiver.

lusitânea disse...

Se eles roubassem mas "fizessem" ainda o zé povinho desculpava.Mas como se vê eles comem tudo...

Zé Luís disse...

Sobre as despesas nos hospitais, talvez se perceba melhor os 460 euros que custou dar um ponto de sutura numa menina lá no Barlavento, onde os pais passavam férias e agora receberam a conta em Famalicão... Veio no JN, era um hospital privado, mas há limites para tudo.

joserui disse...

Não há justificação e o José já diz tudo. No caso do vogal dos 4900€ de TM, a quanto será o minuto? 0,05€? Digo isso porque sem volume é 0,09€ na vodafone por exemplo...
A falar 8 horas por dia o pobre do homem passaria mais de 200 dias de trabalho *só* ao telemóvel. Devem ser chamadas para fora, ou para outros lados...
Para mim cada vez se torna mais óbvio que estes delinquentes têm de devolver o dinheiro ao país. -- JRF

zazie disse...

O José disse tudo. E só mesmo quem é poltrão é que pode defender uma treta destas.

joserui disse...

Adoro a palavra poltrão... hehe... -- JRF

foca disse...

José
Pela noticia, não são administradores são directores.
Não são topos de gama, são Skoda Octavia.

Podemos discutir as questões dos tipos de carro, mas se os directores usarem carros piores, os coordenadores usarão piores, e os funcionários terão de andar a pé.
A alternativa é comprar Renault Clio para todos, como o partido comunista.
É isso que defende?

Mordomias são os magistrados terem casas pagas e transportes públicos de borla, independentemente de estarem em serviço ou não.

PS - em algumas empresas os carros de serviço por servirem também para uso pessoal já obrigam os funcionários a pagar uma parte das despesas.

foca disse...

José
Só mais um pormenor, os tais directores já tinham carros, e se não renovarem o contrato terão de fazer uma extensão do anterior, com custos superiores, pois as empresas aluguer terão de manter a manutenção de carros usados e vão incorporar esse custo adicional.

Ou seja, com menos barulho, ficam com os carros que já têm e pagam mais por isso.

Parece-lhe um bom negócio?

Karocha disse...

Que andem de metro, como os do UK que tantos não gostam!!!

Lura do Grilo disse...

Usam o carro particular (podem usar o que quiserem -BMW, Audi, Volvo), metem despesas ao km (na UE pagam para algumas missões a 20 cêntimos o km) e justificativo da rota e está feito.

Até x km não há inspecção para poupar na burocracia, a partir do limite as continhas do turista são vistas à lupa e não é pela secretária.

josé disse...

FOCA:

Os magistrados não tem casas pagas. Tinham um subsídio de compensação que foi aprovado em tempos imemoriais e que ultimamente, ou seja, desde o final dos anos noventa foi incluído como complemente do vencimento porque nunca foram aumentados por não o poderem ser. Foi uma aldrabice porque tal subsídio foi sempre considerado como um modo de actualiar o vencimento dos magistrados. Porém, ultimamente andará à volta dos 500 euros, se tanto e está sujeito a IRS. Pelo contrário, o dos políticos é o triplo, quase e não paga IRS. Nem sequer foi baixado na última redução de vencimentos da função pública e até foi aumentado.

Quanto a carros de serviço, só os presidentes dos tribunais superiores.
Viagens pagas, nicles, a não ser para os juíes dos tribunais superiores que trabalham em casa...e por isso se deslocam de comboio. Não são pagas ajudas de custo por isso nem o combustível.

Quanto aos tais directores, ainda pior é a emenda que o soneto. Então até os directores têm direito a tais mordomias? A que propósito? E Skoda Octavia porquê? Por serem mais baratinhos que os Passat ou os Audi?

É um síndroma da velha pecha das datchas soviéticas: quem mais alto estiver melhor equipamente tem...

josé disse...

Quanto à regalia dos magistrados poderem andar de borla nos transportes públicos é outra falácia: não andam de borla; andam de passe social que fica em Lisboa á volta de 30 euros por mês...E já agora porque é que os tais directores e administradores não podem ter o mesmo? São proventura mais qualificados ou estão em patamar social superior do Estado?

foca disse...

José
Vamos lá por partes
Os magistrados recebem 500, coitados! Os professores, militares e todos os outros não recebem nada.
Não são aumentados há vários anos, que pena, mas mesmo assim recebem muito mais que os outros funcionários públicos (e por mim pode já esquecer essa mariquice de serem diferentes)
Os presidentes de tribunais superiores têm carro do Estado!, para quê, para as 2 ou 3 vezes que lá aparecem por mês?

De volta ao assunto inicial, se estivermos a falar do director financeiro, concordo, mas se for dos de operação, presumo que tenha reparado que a tal empresa faz manutenção, e não é para estarem sentados num tribunal que são pagos.

Sobre a ideia soviética, de melhores meios para os de cima, concordo, mas era preciso alargar o principio. Por exemplo, um magistrado com 40 anos produz muito mais que um de 60 (mais uma vez esqueça lá a questão da experiência, a maioria é rudimentar a usar as ferramentas informáticas básicas, as avançadas é melhor nem falar nisso!), então também devia receber mais de salário. Concorda?

josé disse...

"presumo que tenha reparado que a tal empresa faz manutenção, e não é para estarem sentados num tribunal que são pagos."

E para tal precisam de andar de Skoda Octavia quando podem andar em carro utilitário como dantes ( Renault 4L)? O que justifica o aburguesamento?

Por outro lado só trouxe os magistrados à colação por um motivo muito simples: exercem funções de soberania, como os do governo ou da AR.
E o tal subsídio foi o modo que encontraram de lhes aumentar o vencimento porque não podiam aumentar em despesas de representação, como os políticos.

zazie disse...

Este foca ainda é promovido a otário.

Karocha disse...

Estando Portugal, na bancarrota,porque não um gabinete de crise e, usarem os seus carros ?
Que eu me lembre e, posso estar errada, Portugal já é a 3ª vez com o FMI!!!

foca disse...

José
Ao contrario do(a) Zazie, para quem o meu comentário é vá para ..., compreendo os seus argumentos, mas permita-me que não concorde com tudo.

Andar de 4L, para quem experimentou, é possível, mas pouco aconselhado. Para uma deslocação rápida será indiferente, para quem faz muitos km diários provoca um desgaste que se vai notar no desempenho. Pelo que tenho lido dos seus comentários, creio que consegue entender este argumento. Não é burguesismo, ou no limite, pela sua teoria os pilotos podiam ir sentados em cadeiras de Madeira, ou os maquinistas.

Dos magistrados, e das funções de soberania, tenho em relação a si a reacção oposta. Como não é comigo, acho que é um argumento da treta para quererem mais que os outros, apenas isso.
Desculpe que lhe diga, mas considerando o salário médio nacional, o vencimento de um magistrado é pornográfico. Não se percebe que com dez anos de experiência, e num sector onde 90% são muito bons, recebam muito mais que um presidente de câmara na maioria dos Concelhos nacionais.
De resto, como é publico e notório, quase todas as reformas superiores a 5000€ são de magistrados, e com todo o valor que de certeza muitos têm, se me trouxer um que saiba operar uma apêndice, ou projectar uma ponte, ou fazer tudo aquilo que os outros profissionais competentes sabem, eu poderei aceder. De outra forma, um engenheiro com 40 anos de experiência ganhar metade de pensão que o pior dos magistrados na reforma é inaceitável.

zazie disse...

foc@, e v. é macho ou fêmea?

Se for a otário, aposto que lhe cresce bigode

":OP

zazie dans le metro, diz-lhe alguma coisa?

zazie disse...

No seu caso, acho que o grande problema nem será tanto a marca do carro mas o tamanho das barbatanas.

zazie disse...

Mas pode tentar fazer habilidades com a bola que vai ver que ainda consegue uma bicicleta.

zazie disse...

Com tanta inteligência focídea nem se percebe como @ foca não comparou os magistrados aos futebolistas, ou quiçá, aos trabalhadores do comércio.

josé disse...

foca: Atentemos numa coisa. Os magistrados antes de 25 de Abril de 74 ganhavam relativamente mal e tinham direito a casa de função e também carro de serviço ( do tribunal para os que se deslocavam de comarca em comarca). Depois de 25 de Abril ganhavam quase o mesmo que os professores do secundário. Eu sei porque fui professor com 25 anos e durante dois anos.

Em 1989 por aí, o governo de Cavaco entendeu fazer uma reforma no funcionalismo público e criou os corpos especiais. Os magistrados foram incluídos nesse grupo e assimilados para efeitos de remuneração aos directores gerais. O índice 100 da tabela tinha isso em conta.

É aqui que começa toda esta discussão e para a entender é preciso entender isso.

Assim, um juiz de primeira instancia passou a ganhar tanto como um director- geral. O de segunda instãncia como um Secretário de Estado e o do STJ como um ministro.
Era este o princípio e suponho que é razoável entender que tal tabela se ajusta não só às funções como ao estatuto profissional. Um magistrado tem no Estado um estatuto de titular de órgão de soberania e como tal é legítimo que ganhe como ganham os demais titulares ( deputados incluídos).
Acontece que estes titulares políticos tiveram ao longo dos anos actualizações de vencimentos. Não no salário base mas nas remunerações acessórias. E tinham e tem outra coisa: podem acumular funções e os magistrados não.

Assim, em 2000 já os vencimentos dos magistrados estavam em desvantagem relativamente aso políticos e isso não respeitava o acordo institucional que consta dos diplomas de 1989.

Está a ver o que sucedeu?

josé disse...

Quando o governo de Durão Barroso sucedeu ao de Guterres ( que com António Costa tinha percebido também o problema) tentou resolver a questão porque o Estado de Direito também vale pela palavra que dá aos seus servidores.

E para tal resolveu como resolveu o dos políticos: como não podia conceder ajudas de custo ou despesas de representação ou suplementos em comissões ( como acontece com os deputados na sua maioria que não ganham menos de 6000 euros por mês...) o que fez então perante as reivindicações justas dos magistrados?
Prometeu ( e cumpriu) a actualização faseada do subsídio de residência que mais não era do que uma forma encapotada de actualizar os vencimentos. E passou ao longo de alguns anos ( três ou quatro) para valores que colocavam os magistrados ainda assim abaixo dos vencimentos dos políticos.
Mas tanto bastou para que o PS do Inenarrável se atirasse ao caso como se de um privilégio se tratasse quando não era nada disso.

Será que me fiz entender?

josé disse...

É verdade que os magistrados do Supremo que se jubilam ganham 5000 euros. Mas...e os ministros que saem do governo quanto ganham? 10 mil? 20 mil?

Conhece algum que passe a ganhar menos do que ganhava?

josé disse...

Os vencimentos dos magistrados não podem nem devem desgarrar-se desta história porque foi isto que sucedeu.

E nessa altura houve outros corpos especiais do alto funcionalismo do Estado que usufruiram das mesmas vantagens. Não são regalias anormais ou estravagantes.

Os diplomatas, por exemplo, foram outros que beneficiaram disso.

E os administradores hospitalares com curso para tal.
Mas nos anos 2000 veio a vaga de novoriquismo que abrangeu milhares de boys e girls nas empresas do Estado, nas administrações e que em vez de pautarem a tabela de vencimentos por índices razoáveis e relativamente equitativos, não, foram por aí acima aos milhares.

Dizia- se há uns anos que os Governos tinham na mão cerca de 5000 nomeações políticas. São mais, muitos mais actualmente, com as tais administrações nas ep´s que já abrangem os tais directores dos Octavia e das regalias do cartão de crédito e do telefone e das despesas por conta do Estado como almoços etc etc.

Portanto o regabofe começou com isso. Só um exemplo: nos anos 2000, em vez de um administrador hospitalar passou a haver cinco ou mais e mais os seus assessores que nomeiam livremente.
Em vez de ganharem o que ganhavam os tais corpos especiais não se contentaram com isso e foram logo ganhar o dobro ou mais. E mais o carro Volvo ou de marca condizente.

E isto replicou-se por inúmeras empresas do Estado, aos institutos públicos etc etc.

Foi como cogumelos na humidade este regabofe.

É contra isto que eu estou e os postais que escrevi reflectem apenas isso.

josé disse...

Lembro-me de no final dos anos oitenta os magistrados espanhóis e portugueses se diferenciarem pelos carros que mostravam em reuniões que então se fizeram ( lembro-me de uma em Valença, aí por 85 ou assim).
Os espanhóis já tinham carros de boa cilindrada e semelhantes aos Mercedes ou Audi de hoje. Os portugueses tinham apenas os Renault 9 e isso era a média daqueles que já eram magistrados de segunda instância.

Depois as coisas mudaram e ainda bem. Mas não sei o que vai suceder daqui para a frente porque os cortes atingiram os magistrados de modo brutal porque o PS assim o quis, para castigar.

Obra pessoal do Inenarrável que por causa dessas e doutras espero ver atrás das grades quando a ocasião se proporcionar porque a França tem tratado de extradição...

Karocha disse...

É contra isso que eu estou contra José, como diz e, bem este novo riquismo, com os jobs for de boys!

josé disse...

Se atingirmos a bancarrota não creio que as pessoas que sabem o que se passou na Cova da Beira ou no Freeport ou noutros casos fiquem calados para sempre. Não creio, como não creio que este PGR se aguente muito tempo até lá e não coma também por tabela se tal suceder.

Karocha disse...

José

Para mim, já estamos na bancarrota...

foca disse...

José
O que defende para magistrados em função dos politicos é justificado, serve no entanto para muitos outros profissionais.
Deixe que lhe diga que concordo com muito do que disse.
O ponto inicial da conversa foi sobre os Skoda, porque o vi atirar-se a uns directores de uma empresa que usam viaturas para se deslocarem, como se fossem os culpados de todos os males da nação, e beneficiassem de mordomias absurdas.
E para estes, porque é disso que estamos a falar, se calhar o ataque foi exagerado.

PS. Essa história dos magistrados não poderem acumular enquanto outros podem só serve para deputados. Tanto ministros como directores gerais, como até os outros indigentes públicos sofrem do mesmo principio.
PPS. Os ministros receberem um subsidio de representação é totalmente justificável, ou acha que um magistrado tem o mesmo tipo de exigência? Ao que nós outros vemos, usam "farda" nos tribunais.

foca disse...

José
Considerando que os magistrados estão equiparados a cargos politicos, também sofreram a redução de salário destes, ainda no governo anterior?
É que não me lembro de ouvir nenhum dos sindicalistas (que também não tem paralelo nos politicos) a exigir um tratamento igual nessa questão.

josé disse...

"Ao que nós outros vemos, usam "farda" nos tribunais."

A beca só é usada nas salas de audiência...

Mas o essencial da questão não são os Skoda. Isso é apenas o sintoma do problema.
Os directores de uma empresa como a CP não deviam usufruir de Skodas ou fosse o que fosse de carro semi-pessoal. OU então deveriam usufruir nas mesmas condições que as empresas privadas concedem aos seus "directores". Também lhes dão carros mas se a empresa estiver em falência contínua com certeza que não lhes dão carros do mesmo modo que a CP e outras empresas dão aos seus directores. E mais: há uma questão simbólica que para mim é muito importante e se fosse responsável faria tudo por implementar ( detesto este verbo mas é o mais adequado ao que quero dizer) e que é a da imagem do Estado como exemplo de contenção de despesa e de gestão fora dos padrões do novo-riquismo.

Esses directores da CP para mim deveriam andar de carro se precisassem mesmo disso para as suas funções, mas seria um carro caracterizado ( como nas empresas privadas). Dantes havia o dístico ep para identificar as empresas públicas. Claro que acabaram com isso porque não lhes agradava andarem a passear ao fim de semana com carros com o dístico...

É essa imagem que foi obliterada completamente por esses "directores" de treta que deviam ter uma grande vergonha na cara e não têm.
A mim, pessoalmente, deram-me um computador de serviço para trabalhar. Pois bem: nunca o usei para fins pessoais, ou seja para o levar para onde quisesse, trabalhar ou fazer o que me apetecesse fora do serviço.
Eu sei que o exemplo não é o melhor mas serve para dizer que aquilo que não é nosso e é do Estado deveria ser sempre do Estado,do serviço público.
A mim, pessoalmente, se o Estado me desse um carro para o serviço, não gostaria. Preferiria andar no meu e cobrar ao Estado o que gastasse efectivamente em serviço. Há tabelas para isso e são razoáveis.
Mas não toleraria que fosse usado na minha vida particular.

Porque razão é que esses directores e os demais administradores, presidentes de câmara, de instituto etc etc etc e estes etc são tantos que até chateia enumerar, não fazem o mesmo?

É assim que penso e sempre pensei e isto não é demagogia mas apenas senso adequado ao país que somos.

foca disse...

José
Debater tem estas vantagens, é que entre argumentos vamos aproximando algumas opiniões, sendo certo que dificilmente chegaremos a um consenso total, como é normal.

O meu argumento sobre a "farda" era mesmo por isso, porque fora da sala de audiências não estão regularmente a representar o Estado em funções que exijam algo fora do comum. Até porque hoje em até as gravatas são para tirar!

Carros de serviço identificados, concordo em absoluto. Se o Presidente da Republica tem (um deles, os de serviço e assessores e familia é outra coisa), todos deviam ter, com raras excepções justificadas (investigação disfarçada ou algo do género).

Agora sobre o uso semi-pessoal, alguns destes casos foram como no subsidio de residência para magistrados, para não pagarem directamente, inventaram este esquema que depois passou a ser assumido por todos como remuneração complementar. Mal ou bem, podemos concerteza discutir, mas algumas pessoas fizeram as suas opções com base nisso.
Ainda de volta ao inicial, se a empresa está falida que se trate da insolvência. Mas manter carros velhos, em alguns casos, vai ficar mais caro que trocar por novos e mais eficientes.

A imagem publica, concordo com a sua visão, mas ainda me causa um certo nó no estômago ao ver os abusadores a fazerem a regra, e não a excepção.

josé disse...

Nestas coisas partilho inteiramente a visão salazarista das coisas. E que se dane quem pensar que sou fassista por isso.

Não sou e sei muito bem que essa ética é a melhor que pode haver no Estado e poderia perfeitamente ser aplicada em democracia se os governantes fossem pessoas de bem e com sentido ético de Estado. Mas não são porque se desvirtuam ainda antes de chegar ao poder.

Duvido muito que Miguel Relvas possa ser um bom servidor do Estado quando provavelmente lhe serviu o facto de ser político para fazer carreira nos negócios.

Mas aceito que é uma visão pessoal e que carece de melhor informação. Gostaria de estar enganado mas temo que não estou.

A obscenidade do jornalismo televisivo