A frase do título é de Cavaco Silva, o nosso conselheiro Acácio ( Carvalhas dixit). Como presidente da República acha-se no pleno direito de viajar, tal como outros o fizeram antes. Viajar para longe e com comitivas alargadas, à custa de todos aqueles que não estão imunes aos tais sacrifícios e por isso deixam de viajar, porque o dinheiro que recebem ao fim do mês não o permite.
A nossa situação actual, social e económica, segundo alguns comentadores ( Vasco Pulido Valente, na última crónica chamou-lhe o "pai do monstro") deve-se directamente e em grande parte às opções políticas dos governos de Cavaco Silva na década de noventa, com a expansão betuminosa e faraónica que se estendeu por todo o litoral, ao arrepio de um senso comum que depois parecia retomado mas sempre com muitas cautelas para não aborrecer ninguém e assegurar a reeleição. As opções políticas tipicamente keynesianas e intervencionistas, com o Estado a gastar à tripa forra não é apanágio apenas dos governos de Cavaco e diga-se em abono da verdade que se os governos seguintes tivessem seguido os seus conselhos ( não fazer os estádios, poupar mais, etc) teríamos outra situação financeira. Mas não é apenas isso que conta. O essencial é o modelo económico e social que Cavaco apadrinhou e esse, vê-se agora, está errado porque conduziu aos BPN, ao despesismo, ao novo-riquismo e finalmente ao empobrecimento geral. O "monstro" nasceu nesse caldo de cultura que Cavaco alimentou.
Em vez de intervir a tempo e com eficácia durante o primeiro mandato presidencial, fê-lo timidamente, com recados que foram sempre desvalorizados e que depois não eram repetidos, com medo de falhar a reeleição ou cobardia política típica de quem não é frontal.
Afinal, uma reeleição que serve essencialmente para isto: viajar, dar uns palpites desnecessários e inoportunos, contrariar opções políticas e legítimas do governo que está quando nunca o fizera antes com tanta veemência, reunir um conselho de Estado inútil e gastar do orçamento que lhe destinam.
Em Portugal, segundo o jornal i de hoje, o presidente da República gasta 16 milhões de euros por ano nestas andanças. O dobro do que gasta o rei de Espanha. Cavaco tem ao seu serviço 500 pessoas. Juan Carlos 200. Cavaco tem 12 assessores e 24 consultores, além de um séquito pessoal que o acompanha nas viajens.
Uma destas viajens e que se segue à última que fez aos Açores com 30 pessoas na comitiva, é já nos próximos dias 27 e 28 de Outubro, ao Paraguai, para uma Cimeira Ibero-Americana. Leva 23 pessoas. O primeiro-ministro, segundo o i, leva 4, incluindo guarda-costas.
Alguém diga ao presidente da República que não é um rei. E se fosse, que andava nu e deveria tapar-se enquanto é tempo.