José Pacheco Pereira escreve hoje no Público uma crónica de página com uma ilustração sobre as revistas dos anos sessenta ( até 1974) e que lia no Porto. O artigo é interessante mais pela iconografia imaginária dos lugares de leitura ( cafés do centro do Porto) do que pela resenha dos títulos disponíveis.
JPP lembra-se de ler o Cavaleiro Andante que publicava as aventuras de Blake & Mortimer, do Condor ( esquece o Condor popular, mais pequeno e de papel ainda mais pardo que o da revista) e o Mundo de Aventuras. Outras poderia citar da Agência Portuguesa de Revistas.
Esquece a revista Tintin, em português e saída em 1968, publicada pela Bertrand, um marco na banda desenhada e não apenas nas "histórias em quadradinhos" que remetem para aquelas revistas da Agência Portuguesa de Revistas que publicavam ainda a Crónica Feminina e outras afins. De caminho nem saberá que também nessa altura ( início dos setenta) houve uma edição portuguesa da revista francesa Spirou. Nem lembra que houve nesse capítulo da banda desenhada, o Jornal do Cuto, cujo primeiro número saiu em 7.7.1971. Ou já agora, o Pisca-Pisca.
Esquece JPP, no domínio da cultura popular o papel fundamental das fotonovelas de origem brasileira, na educação afectiva de muitas moçoilas que depois foi retomado pelas radionovelas ( Simplesmente Maria, por exemplo) e mais tarde pelas telenovelas a eito. O estudo destas novelas brasileiras daria um magnífico panorama onomástico, a partir de finais dos sessenta. Nomes antigos desapareceram dos registos baptismais para darem lugar a nomes sonantes nas novelas. Desapareceram os Nepumocenos ou Tertulianos e apareceram os Marcos e as Giselas ou Elizabetes.
Lembra-se da Plateia mas esquece a Cine-Disco, mais tarde Mundo Moderno, a pindérica imitação da Playboy americana, saída em 1968, com ilustrações interessantes de um artista de Lisboa, Carlos Alberto ( que de resto desenhava quase todas as capas das revistas em quadradinhos, da Agência Portuguesa de Revistas).
Lembra-se da Vida Mundial mas esquece o fundamental Observador, saído no início dos setenta.
Lembra o Século Ilustrado e a Flama, mas esquece o Cinéfilo, saído em 73, a R&T e a Nova Antena que sucedeu à Antena, com artigos, fotos e reportagens dedicados à televisão e aos seus artistas da época, estendendo-se depois por outras áreas da cultura popular como o cinema, o teatro e a música.
Neste âmbito da música popular nem uma palavra para o jornal Disco, música & moda, saído nessa altura, início dos setenta, nem sequer para a revista muito do Porto e fundamental para a cultura popular da época, porque "progressista", Mundo da Canção, saída em 1969. A propósito disso esquece também A Memória do Elefante.
Dedica depois duas colunas inteiras do escrito a elaborar ideias sobre as revistas "políticas", ou seja, a Seara Nova dos comunistas e o Tempo e o Modo, dos esquerdistas, para além do Vértice da intelectualidade de Coimbra.
Esquece uma revista de Artes plásticas que nem eu já lembro o nome mas sei que comprei um número (perdido, mas não na memória) que tinha na capa Walter Gropius.
Esquece ainda uma plétora de revistas brasileiras de grande tiragem ( Manchete, Cruzeiro e Realidade e porventura a Capricho, a grande revista feminina de fotonovelas, das mesmas editoras) e que por cá se vendiam, como vendiam outras estrangeiras, praticamente todas as mais importantes ( Der Spiegel, Newsweek, Time, L´Express, Le Nouvel Observateur, etc. etc).
Entre as brasileiras que esquece em modo imperdoável para quem lia revistas é a das Seleções do Reader´s Digest, cujos artigos eram um must para quem tinha curiosidade em variedades culturais.
JPP para escrever o seu artigo podia ter elaborado mais um pouco sobre o ambiente do Porto nesses anos ( finais dos sessenta) e sobre quem comprava e quem lia este tipo de revistas. A primeira parte do seu artigo é a mais interessante e é nessa descrição do pathos portuense que se encontra um motivo de interesse para pedir mais.
Venham mais artigos destes, JPP!
11 comentários:
Claro que estas publicações eram para o país intelectual. Não esquecer que José Rodrigues Migueis era o tradutor das Selecções do Readers.
Agora, e muito importante o país real vivia dependurado, entre Março de 1973 e Novembro de 1974, transpondo, por isso, o tempo da Revolução do 25 de Abril de 1974, na revista e fotonovela Simplesmente Maria tb emitida na Rádio Renascença, ao longo de 500 episódios. Após o almoço, as mulheres da altura, quase todas domésticas, ficavam de ouvido colado ao aparelho de rádio e lenço na mão para enxugar as lágrimas. Quase todas excepto claro a heminguona...
Fotos
http://santa-nostalgia.blogspot.pt/2009/01/simplesmente-maria.html
Faltou o Corin Tellado. O verdadeiro ópio das donas de casa e moçoilas casadoiras.
A Crónica, como se chamava no meio, versava sobre tudo isso em papel impresso numa cor acastanhada.
Curiosamente era um papel que me lembrava as revistas alemãs. Ainda hoje conservam esse papel meio lustroso meio mate.
O melhor papel para essas revistas. Mas o supra sumo da impressão era...italiano como não podia deixar de ser.
A Crónica Feminina era a revista mais vendida na época.
http://santa-nostalgia.blogspot.pt/2008/04/crnica-feminina.html
E não esquecer a Gaiola Aberta do grande Vilhena!
E havia as revistas de lavores femininos, com moldes de vestidos e coisas assim. Alemãs, da Burda ( ainda hoje existem) e que eram compradas pelas costureiras para a roupa nova da Páscoa.
E havia o jornal Novidades, como os de hoje, sem novidades nenhumas.
Wegie
Eu detestava a Crónica Feminina,
Mas e a colecção Azul com o John Chauffer Russo :-))))
Karocha: o John Chauffer Russo era o ídolo da minha espoas. Eu era mais as Aventuras do capitão Morgan. Sempre tive alma de pirata. Qualquer dia ainda emigro para as costas da Somália...
LoooLLL Wegie mas claro que era ;-)
Tinha a coleção inteira do Fantomas,Vidoc,Axterix em Francês,TinTin, Blake and Mortimer. a revista Tintin toda encadernadada e o major Alvega LoloooLLLL
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