quarta-feira, abril 25, 2012

25 de Abril: o mito


Comemora-se o 38º aniversário de 25 de Abril de 1974 e já há por aí quem reclame outro 25 de Abril, ou melhor, a reposição do genuíno, o de Abril tal como o entendem mas nunca explicam devidamente.
Portanto, a ideia peregrina deveria ser melhor reflectida e com recurso à memória do tempo que passou.

No dia 25 de Abril de 1974 uns tantos militares descontentes com o regime depuseram os chefes de então e entregaram o poder a civis, conservando uma tutela temporária. Foi uma autêntica Revolução e como escrevia a revista brasileira Manchete de 11 de Maio de 1974, escassos quinze dias depois (e de que se tira esta primeira imagem) "contando com o apoio integral do povo, o golpe de Lisboa foi dos mais ordeiros de que se tem notícia na História". Aliás, é um facto histórico indesmentível, este.
A verdade é que o regime estava apodrecido e exangue e quase todos aplaudiram a mudança. Mal sabiam ou suspeitavam o que viria a seguir...

Esta imagem da Manchete mostra o povo nesse dia 25 de Abril, em Lisboa, a apoiar os militares, espontaneamente. Uma verdadeira aliança e alegria na cara das pessoas. Nestas primeiras imagens da Revolução não há um único cartaz de partido político. Apenas um lençol onde alguém escreveu "Liberdade para os presos politicos".
O mote estava dado. Nos dias e semanas a seguir formaram-se partidos, apareceram partidos existentes, grupos, grupúsculos e mais grupos e formou-se um governo provisório, com António de Spínola, o general que comanditou o golpe com um livro publicado uns meses antes ( Portugal e o Futuro).


Um mês depois, em 24.5.1974, "O governo provisório dava os primeiros passos", segundo a revista Vida Mundial, então com 35 anos de publicação e já dirigida por Augusto Abelaira ( até então tinha sido Manuel Figueira).
Lendo o artigo com seis páginas e assinado por F.A. ( Fernando Antunes) pode verificar-se na segunda página quem foram os militares afastados do activo no 25 de Abril. Os militares "fassistas", evidentemente. Em seu lugar foram nomeados outros, "progressistas" ou que rapidamente se assumiram como tal, mudando casacas à pressa.
O comunista Álvaro Cunhal assumiu logo um ministério, mesmo "sem pasta". Logo na primeira página ( é ler...) surgia a menção a ministérios que o PCP poderia obter. Mário Soares, esse, mostrava-se já preocupado com a "fragmentação excessiva" e com a formação de inúmeros agrupamentos ( "cerca de uma centena") que "em sua opinião, reflectia o "oportunismo de tantos grupos a subverter as instituições democráticas que se pretendem venham a ser autêntica realidade no nosso país". Note-se a preocupação com a tal formação democrática que atentava contra as "instituições democráticas"...


Como exemplo paradigmático das contradições surgidas na sociedade portuguesa e na vida política em particular, note-se estas duas notícias, na Vida Mundial de 14.6.1974 ( nem dois meses depois de 25 de Abril e que já tem Álvaro Cunhal na capa, a cores e a dizer "Não temos uma política na rua e outra no governo"...
A primeira respeita a um acto de censura na RTP. O grupo de teatro A Comuna, num directo transmitido do "Mercado da Primavera" , nas comemorações do "Dia de Portugal", não achou nada melhor do que mostrar uma peça em que satirizava a Igreja Católica, associando-a à PIDE-Gestapo-SS e figurando um cardeal da igreja, com "cerejas dependuradas da mitra" ( era o tempo delas e o cardeal Cerejeira era então o Patriarca de Lisboa...). A censura da autoria de um militar, delegado da Junta de Salvação Nacional, foi altamente censurada.

Na segunda, dá-se conta da prisão, por motivos políticos ( o primeiro preso político depois de 25 de Abril, provavelmente) de José Luís Saldanha Sanches, na altura dirigente do MRPP e que apelou à deserção "em massa e com armas" dos militares ainda colocados nas colónias. O incitamento fora publicado no segundo número do Luta Popular e a prisão foi logo a seguir, para o forte de Elvas.
Diz a notícia que "À prisão deste combatente comunista, activo desde longa data e que passou oito dos últimos dez anos da sua vida nas prisões da PIDE/DGS, assistiu a estudante de Direito Maria José Morgado, co-arguida de Saldanha Sanches num processo ainda recentemente instruído"...



Estas duas notícias chegam para mostrar porque é que o 25 de Abril de 1974 se transformou num logro, logo na segunda semana e porque é que a Esquerda e a Extrema-Esquerda comunistas ( mais os seus "compagnons de route" habituais, no caso o PS ainda de socialismo alçado e fora da gaveta),  "abandalharam" logo isto tudo.
Se alguém quiser reivindicar um novo 25 de Abril, comece por contar esta História, porque é a verdadeira.
Duvido é que a contem porque os que o podem fazer estão comprometidos de várias formas: ou foram comunistas e colaboraram na "bandalheira"; ou continuam a sê-lo, mesmo por nostalgia; ou pura e simplesmente não conseguem perceber o tempo que passa.
É só por isso que o discurso oficial e jornalístico-mediático continua a ser o mesmo passados estes 38 anos: um discurso de mentira e de logro e de "sistema",  por sua vez apodrecido, como estava o que foi deposto em 25 de Abril de 1974.
Algumas figuras do actual regime metem mais dó do que as da antiga "brigada do reumático" que tanto criticaram e gozaram...










30 comentários:

zazie disse...

Excelente, José.
Em lado nenhum se podem ler estas memórias.

Floribundus disse...

no séc xx houve 3 revoluções
a 1º e a 3º falharam redondamente

havia que destruir:
o capitalismo particular e
a Igreja Católica

confrange-me ver e ouvir intelectuais como o vasco 25, o anacleto, o mário carlucci, o ó-telo, o cgtp

Joaquim Pereira disse...

Gostei muito do conteúdo e forma desta prosa, excelentíssima.

Vivendi disse...

Chegou o momento de ruptura.

Os dois caminhos que os portugueses podem escolher:

A via autoritária:
exs: Salazar, Pinto da Costa, Rui Rio, Alberto João jardim, o típico empresário industrial português

Nos países do sul da Europa, por razões eminentemente culturais e religiosas, é só na autoridade que alguns mecanismos funcionam melhor, uma autoridade carregada de moral e mostrando o timbre que pretende à sua organização.

Não esquecer que Portugal não é um estado de direito.

A democracia participativa:
exs: Suíça, países nórdicos, Alemanha

Aqui temos a participação da população com uma elevada e esclarecida participação política, níveis altíssimos de formação e uma forte cultura de moralização.

Não esquecer o chumbo recente dos Suíços para o aumento das férias e o aumento da idade das reformas na Europa do Norte com uma aceitação pacífica dos seus povos.

Carlos disse...

José,

Esta sua versão da história, é uma clara demonstração de: "prognósticos só no fim do jogo", mas futuro-zero.

É claro que os factos relatados, são verdadeiros. Mas, muito sumários e incompletos.

A verdade, na minha opinião, é que o 25 de Abril tal como ocorreu, apanhou toda a gente desprevenida e daí, ganharam obviamente vantagem as estruturas políticas minimamente organizadas, como era o caso do PCP e do PS. O resto, andava tudo inibriado com a liberdade, sentimento expresso na grande confusão e no aparecimento de múltipos movimentos e grupelhos politicos. Nesse contecto, entendo os acontecimentos como naturais e até correram muito bem. Assente a poeira com o 25 de Novembro, aí sim começou a verdadeira luta politica com as correntes existentes já minimamente acontonadas em torno dos partidos policos que hoje têem maior expressão. E aqui, sim, assistimos ao definhar dos princípios e ao puro assalto do poder a todo o custo e sem quaquer escrúpulo. É aquilo a que recentemente se designou: "ir ao pote - custe o que custar". Neste processo, tiveram de facto destaque algumas personagens que, no recurso a métodos e prácticas pouco recomendaveis, se sentiram com o à-vontade e impunidade para daí tirarem proveitos. Os nomes principais são conhecidos e sobre esses, devem ser pedidas responsabilidades e cativar o que ainda fôr possível adquirido de forma ilicita.
No entanto, no meu entender, nunca se poderá levar a discussão para a escolha entre ditadura vs. democracia. E mais, é em regime democrático que se poderá encontrar soluções colectivas capazes de aperfeiçoarem a própria democracia. Ha ja força esclarecida e uma justiça verdadeiramente ao serviço do povo.

muja disse...

Que o 25 apanhou toda a gente desprevenida parece-me claro. Até os próprios "revoltosos" originais. Tenho dúvidas que quando saíram dos quartéis com os carros de combate, tivessem como objectivo derrubar o regime. Sobretudo se a questão deles era corporativa. O José parece ser da mesma opinião.

Aconteceu que encontraram o regime mais fraco do que alguém esperava. Segundo Feytor Pinto, Caetano terá concluído que a coisa era séria e cedeu para evitar um banho de sangue.
A determinado ponto, o PC, como estrutura clandestina melhor organizada no país terá percebido a oportunidade que se apresentava para tomar o país e tomou controlo das forças que podia controlar. Depois de o regime ceder, foi a coboiada que (não) se sabe.

Na verdade, cada vez mais penso que a responsabilidade maior de toda esta tragédia reside sobretudo no regime e em Marcello, a par com o os militares revoltosos.
Marcello cedeu muito facilmente. Tinha a obrigação, como chefe do governo, de reprimir o golpe e sobretudo assegurar a continuidade da ordem. Tinha capital suficiente para negociar um período de transição em que o controlo permaneceria firme no Estado. Talvez fosse derramado sangue, mas acho que os revoltosos desistiram rapidamente se percebesse que iam encontrar forte resistência... Por outro lado, é fácil falar agora que se conhecem as consequências da cedência de Marcello Caetano. Ainda assim, acho que se fosse Salazar, as coisas teriam sido muito diferentes.

Já os revoltosos demonstraram uma irresponsabilidade total. Não planearam absolutamente nada sobre como se iria processar a transição (para o quê, nem eles saberiam se calhar), e deixaram o país cair no caos total, isto quando não estavam já a actuar sob ordens de potências estrangeiras, como os afectos ao PC que seguia ordens de Moscovo, pura e simplesmente. Todos, com efeito, incorreram no crime de traição duplo. Traíram o governo contra o qual se revoltaram, e traíram o povo por deixarem o caos apoderar-se das ruas, para não falar na tragédia que foi a "descolonização"... No meu entender, e excepcionalmente porque o acto foi excepcional, como militares que eram e são, a única punição possível e digna para todas as partes é a execução por fuzilamento.

Porque chegar a um curral de ovelhas e abrir-lhes as porta não é dar-lhes liberdade. É abandoná-las à sorte delas.

lusitânea disse...

Muitos dos ex-capitães do 25 andam agora indignados porque lhes vão sacar 2 meses.E falaram indirectamente.Nomeadamente de incoerências e "mentiras"dos actuais políticos.Eu teria gostado de os ver a fazer o "mea culpa" do incumprimento do seu "programa" logo uma semana depois do 25.Acerca da descolonização...

E já agora nenhum deles se manifestou acerca do actual "salvamento do planeta" por nossa conta ou seja a nossa "colonização".Que não deve sair barata...
Para mim os gajos do "tudo e do seu contrário" não se safam...

lusitânea disse...

O Marcelo não teve é ninguém por ele.Que não tivesse feito a cavalidade que fez ao prejudicar os oficiais do quadro mais novos.Em números ridículos face às necesidades.Governar é prever.A ideia original até nem era má.Obrigar o zé povinho a escolher a via.Cá e lá fora.Coisa que não fizeram...e para mim a culpa maior é do "pai da democracia" que talvez temeroso com a sua exiguidade fez com que se associasse a tudo o PCP.Mas aqui não fpoi só Moscovo a mandar.Toda a gente teve uma fatia do bolo.O MRPP trabalhou para a CIA...

josé disse...

"Marcello cedeu muito facilmente. Tinha a obrigação, como chefe do governo, de reprimir o golpe e sobretudo assegurar a continuidade da ordem."

Não concordo. Marcelo não tinha hipótese de ganhar o golpe, mesmo que o reprimisse militarmente e poderia fazê-lo. Mas...o que ganharia com isso se soubermos que o regime estava politicamente podre por dentro?

Marcelo não tinha a mesma opinião política do presidente Américo Tomás, representante da verdadeira direita do país.

Marcelo se ganhasse nesse dia o golpe o que faria a seguir? Só vejo uma hipótese: endurecer a política o que não me parece consentâneo com o seu modo de pensar e agir ou contemporizar com as ideias dos revoltosos e dar espaço de manobra política a quem queria conceder a chamada "autodeterminação" às províncias ultramarinas.
Aí, os chamados "ultras" não o permitiriam e Marcelo encontrar-se-ia entre a espada e a parede- outra vez.

O 25 de Abril aconteceu porque o fruto político estava maduro e foi unicamente por esse motivo que a Revolução foi dos cravos e sem derramamento de sangue, porque até os tais "ultras" estavam fartos da indefinição e nem saberiam o que fazer.

Aliás, a única tentativa de retomarem o poder ocorreu a 28 de Setembro de 1974, no Campo Pequeno, por ocasião de uma tourada e tinha nomes envolvidos como o de Zoio e de alguns militares afastados. Nada de significativo mas tinha também o apoio implícito de Spínola que não queria que o regime tomasse a direcção que tomou- sob a orientação do PCP e da extrema-esquerda.

Foi este o problema que aliás Marcelo previu: o comunismo avançou logo que teve rédea livre. Até hoje porque continuam a dominar o discurso de base, contra o "fassismo", pelas "amplas liberdades" etc etc.

Mrcelo tinha razão mas não conseguiu dar o impulso renovador que retiraria importância ao PCP como aconteceu em França ou até em Espanha.

Cunhal e Vitais Moreiras, Robespierres modernos levaram então a melhor. E continuam a dar cartas ideológico-políticas.

Daí a minha luta permanente aqui neste sítio contra essa espécie de jacobinismo.

josé disse...

Passados 38 anos a luta continua a ser a mesma: contra os que têm ódio aos ricos e fazem da luta de classes o seu leit-motiv político essencial.

É isso que é o BE e o PCP. Apenas isso e ninguém os desmascara suficientemente.

O PS é um partido que se apoia na mesma base social e por isso é um híbrido e bastardo.

Carlos disse...

De uma coisa, estou seguramente certo.

No dia 26.04.1974, quer o José, quer o mujahedini, lusitânea, etc., etc., estavam felizes com o fim da ditadura.
Agora, hoje, vejam lá em que falharam também!

josé disse...

O ódio aos ricos da Esquerda transformou-se, no caso do PS, em apoio aos que subsituiram os ricos: os patos-bravos tipo Jorge Coelho e os banqueiros da rapina, sem escrúpulos controlados.

As PPP´s e o descontrolo orçamental durante anos a fio denotam essa ausência de balizas morais e de política coerente com os princípios.

Roubar, sacar e aldrabar em proveito próprio e dos amigos transformou-se na única política de fundo do PS e também do PSD, infelizmente. Do CDS nem é preciso dizer muito-basta lembrar o caso dos submarinos.

josé disse...

O que falhei eu?

Nada. Continuo a pensar exactamente o que pensava em 25 de Abril de 1974, com 17 anos.
Gostava e gosto de Marcelo Caetano.

Já tinha lido muito e não eram apenas os jornais portugueses. E já pensava pela minha cabeça, motivo porque nunca tive um partido de eleição.

Mas tenho um ódio de estimação: o comunismo.E já o tinha nessa altura.

josé disse...

Votei contra o comunismo em 1976. Votei contra Sá Carneiro em 79, apesar de saber que era um artífice de mudança. Mas não me agradava o estilo e o modo.
Se tivesse ganho o poder em 1980 talvez fizesse a diferença, mas não sei porque Sá Carneiro era político, com ideias políticas que se esgotariam a partir do momento em que a Constituição fosse revista, o que só veio a suceder em 1989, dez anos depois.

E ainda assim, Portugal nunca mais foi o mesmo que tinha sido em 1972-73. Nunca mais houve o espírito verdadeiramente liberal na economia que então havia.

É desse espírito que tenho saudades e gostaria que Portugal se lembrasse através dos mais velhos.

Era aquilo que gostaria que hoje fosse: um país em franco desenvolvimento em que o Estado era meramente regulador e um bom regulador porque tinha pessoas sérias e com espírito de serviço público.
Não era uma camada de mafiosos sempre prontos a espreitar o furo dos negócios com os amigalhaços, seja na banca, seja nas grandes empresas.

Quem é António Mexia ou Zeinal Bava senão os melhores exemplos do pior que o 25 de Abril nos trouxe 38 anos depois?

Streetwarrior disse...

"" E ainda assim, Portugal nunca mais foi o mesmo que tinha sido em 1972-73. Nunca mais houve o espírito verdadeiramente liberal na economia que então havia.

É desse espírito que tenho saudades e gostaria que Portugal se lembrasse através dos mais velhos. ""

José, ao dizer isto não deve ter visto o filme da mesma forma que eu o vi ( os donos de Portugal )

Não havia espirito nenhum liberal naquela altura....havia sim um mercado controlado pelo Estado que permitia ás mesmas familias que hoje, financiam as PPP, as Parque escolar e outros antros de corrupcção que para ai andam.

Os intermediarios podem ter-se tornado mais diversos do que os que operavam no Estado Novo mas as familias que financiaram todos estes negócios, continuam ai.

Streetwarrior disse...

Agora percebo bem, porque os cargos como Direcção da PSP, da Guarda Nacional republicana, PGR supremos etc, todos eles são indicados politicamente...
È a salvaguarda em ultimo caso.

Que podre que esta merda esta...e quando digo esta merda, falo do meu país.

muja disse...

Marcelo se ganhasse nesse dia o golpe o que faria a seguir? Só vejo uma hipótese: endurecer a política o que não me parece consentâneo com o seu modo de pensar e agir ou contemporizar com as ideias dos revoltosos e dar espaço de manobra política a quem queria conceder a chamada "autodeterminação" às províncias ultramarinas.
Aí, os chamados "ultras" não o permitiriam e Marcelo encontrar-se-ia entre a espada e a parede- outra vez.


Pois, como eu disse, é fácil (eu) falar agora que temos a vantagem de hindsight. Marcello estava certamente bem entalado. No livro de Feytor Pinto percebe-se bem o dilema que o homem há-de ter passado.

Agora, não entendo quando o José diz:
Foi este o problema que aliás Marcelo previu: o comunismo avançou logo que teve rédea livre.
E tendo-o previsto, entrega o poder de mão beijada, sem rédea? Sem acautelar a integridade do Estado, sabendo que os comunas tentariam imediatamente infiltrar-se a todos os níveis e activar as infiltrações de que já dispunham? Não entendo bem...

Também não entendo porque é que os "ultras", como diz o José, se não mobilizaram. Enfim, talvez tudo estivesse podre como diz... Mas cada vez tenho menos respeito pelas Forças Armadas. Fiquei espantado com a quantidade de "marechais" e "comodoros" numa tropa de um país de 10 milhões que foram saneados e a que alude o postal anterior. Saneados por uma dúzia de capitāezecos... E o pior é que nada nos garante que não se lembrem de montar uma semelhante qualquer dia...

Carolus,

não sei o que quer dizer com falharam, mas digo-lhe o seguinte: estivera eu vivo e consciente nesse dia, e soubera eu o que sei hoje, e pode ter a certeza que estaria tudo menos contente. Não vejo alegria alguma em trocar um mal por um mal maior. É de ficar contente quando a emenda sai pior que o soneto? Não creio.
Apesar de tudo e ao contrário do que diz a comunada, recauchutada ou não, a impressão que eu tenho de tudo o que leio e procuro saber sobre como era essa altura, me diz que

a) a liberdade não era assim tão restrita, o José se encarrega várias vezes de o demonstrar.

b) o Estado não existia para roubar o contribuinte.

c) existia uma administração pública com a qual hoje só podemos sonhar. Quer um exemplo? As estradas. É muito fácil distinguir uma estrada do Estado Novo e uma democrática: basta observar a berma. Nas do EN, existe uma berma feita de pedra calcetada, para que o alcatrão não se esfarele com o tempo e assim fazer com que a estrada dure mais. E tinha que durar porque era paga com dinheiro público, que não era para esbanjar.
As democratas é uma sorte se o piso estiver minimamente alinhado com a berma. É na base do menor esforço porque paga o contribuinte. Apenas um exemplo, mas mais importante do que possa parecer porque as estradas são especialmente importantes para os pobres. Quem é rico tem aviões e helicopteros e carros confortáveis. O pobre (o povo) tem de passar na estrada, a pé, ou num carro de bois... Quem é que se preocupa então com os trabalhadores e com o povo? Quem é que anda a mando dos grandes interesses económicos?
Muitos mais exemplos haveria para dar - a educação é outro, por exemplo - e eu não sei da missa a metade porque não vivi. Mas uma coisa é certa: estes "democratas" são uns escroques e uns bandidecos que não valem a ponta de um chavelho. O bem-estar e o desenvolvimento do país, os trabalhadores, os desfavorecidos, nunca foram nem nunca serão o interesse e o objectivo deles. Tão miseráveis e desprovidos de carácter são, esses sofisticados "democratas", que um "beato" "bolorento" de uma vilória à beira do Dão fez mais a dormir do que alguma vez eles farão acordados.

O problema não é a democracia, são os "democratas".

Carlos disse...

"estivera eu vivo e consciente nesse dia, e soubera eu o que sei hoje, e pode ter a certeza que estaria tudo menos contente."

Quanto à experiência vivida, estamos conversados.

"O problema não é a democracia, são os "democratas"."

Completamente de acordo.


Ao José:

"O que falhei eu?

Nada."

O outro, o da via verde, também nunca errou e raramente se engana!

Estranho eu, que num país de visionários e sem macúcla, tenha caído nisto. Mas isso, sou só eu a sonhar!...

Wegie disse...

Já dizia o poeta:

Fui ao mar colher cordões.

Vim do mar colhões cordi.

josé disse...

Carlos:

Pode acreditar: politicamente nada falhei porque não embandeirei em arco com a Revolução e fui sempre crítico das soluções que fui apreciando.

Houve uma altura em que quase acreditei no Cavaco: foi logo nos primeiros anos da primeira maioria absoluta. Julgava que os dinheiros da CEE dariam para desenvolver o país de modo diferente. Enganei-me e sempre me interroguei quando lia e sabia que havia "montanhas de manteiga" e rios de leite na Europa e por cá se incentivavam os lavradores a terem vacarias...ao mesmo tempo que lhes davam subsídios para "abate".
Algo não batia certo e quando soube que deixamos de ser os maiores ( e melhores) produtores de azeite tive a certeza que nos enganaram.

Também nunca fui político e nunca tive responsabilidade em mandar politicamente.

Mas não é preciso tal para poder dizer que não falhei.

muja disse...

Carlos,

Quanto à experiência vivida, estamos conversados.

O que quer isso dizer?

Carlos disse...

De forma muito simples: o nosso maior problema, foi a ascensão de uma nova classe de politicos, que tiveram acesso a muito, muito dinheiro. Primeiro, no finaciamento aos próprios partidos, por via de organizações internacionais e interesses locais. Depois, via CEE, nas ajudas ao nosso "desenvolvimento". Nisto, está a origem desta corja que alargou os seus tentáculos a todas as estruturas de topo do poder.

A propósito: há dias sugeria aqui, o aparecimento de um Hipermaçónico, capaz de incorporar todas as lojas existentes. Ontem, dizia-me um amigo: mas isso já existe, está a funcionar em S. Bento, onde estão representadas todas as lojas e outras seitas.

Carlos disse...

mujahedin,

"Quanto à experiência vivida, estamos conversados.

O que quer isso dizer?"

Exatamente e só, isso!

zazie disse...

Sempre vigilantes, estes escardalhos. Sempre de dedo esticado, prontos a fazerem processos inquisitoriais aos outros, para ficarem em estado de graça.

São puros- são de esquerda- não precisam de se interrogar nem encontrar falhas nos próprios ideais- estão salvo de qualquer suspeita-

são vigilantes dos que não podem estar nesse local intocável- por não serem "de esquerda".

zazie disse...

Ainda andam na patrulha, no giro de serviço.

hajapachorra disse...

O mais engraçado é ler a entrevista que há dias deu o Mota da barraca agora reciclado nos tapetes do D. Maria. Queixa-se o desgraçado que nessa altura, muito injustamente pois que ele era um santo homem, os fazistas dos tazistas não o queriam levar à praça de Espanha, a ele que, assevera compuncto, nunca foi comunista. Choremos. Bem sei que todo o lixo pode ser reciclado, aí anda o José Barroso para o atestar, mas mesmo a imundície devia ter uma pinga de decoro. Acrescento que, apesar de tudo, prefiro o Mota da comuna (oops este não é da barraca) ao equívoco socretino que lhe aqueceu o assento no teatro dito nacional.

muja disse...

Carolus,

mas elabore. É que não me dei conta de estarmos a conversar sobre experiências vividas. Se reparar, o José faz sempre questão de documentar os postais que faz. E no entanto tem a experiência vivida...

É que experiências vividas, cada um vive a sua e são portanto subjectivas. Mas factos são factos, e são esses que importam por serem objectivos.

PS: não seja tão lesto a apontar as falhas aos outros. Ainda há uns comentários atrás, estava seguramente certo que eu lá estava, em 74, feliz com o fim da ditadura. E, no entanto, eu não estava... ;)

Carlos disse...

zzzzzz, vírus na rede.

João Nobre disse...
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João Nobre disse...
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A obscenidade do jornalismo televisivo