quinta-feira, abril 12, 2012

Os fiéis da balança

Uma crónica de Jorge Fiel ( jornalista com a carteira profissional número 729, Jorge Fiel tem uma extensa carreira que começou na secção de revisão do JN e que passou, depois, pelo "Norte Desportivo", "Comércio do Porto", "Semanário", "Expresso" e "Diário de Notícias") um dos muito preocupados com o caso BPN.

O BPN dava um filme indiano

Não imaginam quanto lamento não ter o tempo nem o talento para digerir os 70 volumes e 700 apensos do caso BPN e escrever um thriller baseado nos factos reais da maior fraude portuguesa do século.
A realidade supera sempre a ficção. Duvido que John Grisham fosse capaz de imaginar a cena do juiz presidente do colectivo ter de fazer uma colecta para comprar no IKEA uma estante para arrumar o processo - que lhe foi negada pela DG da Justiça.
A galeria de personagens é estupenda. Ken Follet teria de nascer duas vezes para conseguir inventar um naipe tão rico, denso e variado.
No protagonista, Oliveira e Costa, que por alguma razão era conhecido na sua terra (Esgueira) como Zeca Diabo, e que munido de um cartão laranja subiu na vida ao ponto de chegar a secretário de Estado.
Saído do Governo de Cavaco, na sequência de um perdão fiscal mais que suspeito a empresas de Aveiro (Cerâmica Campos, Caves Aliança), foi recompensado pelo seu amigo com uma vice-presidência do BEI, apesar de ter um inglês ainda mais rudimentar que o de Zezé Camarinha.
Amigo do seu amigo, Costa comprou, em 2001, um lote de ações da SLN (dona do BPN), a 2,4 euros cada, que revendeu com prejuízo (a um euro/acção) ao amigo algarvio (o Aníbal, não o Zezé) e à filha dele. Menos de dois anos depois, Cavaco e Patrícia venderam as ações com um lucro de 140% - ele ganhou 147 mil euros, ela 209 mil. Nada mau.
Quando o naufrágio foi evidente, Zeca Diabo teve a dignidade de ir ao fundo com o barco, aceitou fazer de único responsável pelas patifarias.
Em recompensa pela imolação, foi libertado devido "ao seu estado de saúde e por se encontrar em carência económica". O elenco de actores secundários também é muito atraente e diversificado. Por exemplo, Manel Joaquim (Dias Loureiro), o filho de comerciantes de Linhares da Beira que chegou a ministro, conselheiro de Estado e administrador-executivo do BPN, carreira em que fez fortuna ao ponto de poder comprar, por 2,5 milhões de euros, à viúva de Jorge Mello, uma mansão no Monte Estoril.
Temos também Vítor Constâncio que, apesar de usar óculos e ser o governador do Banco de Portugal, foi o último a ver a falcatrua, anos depois da Deloitte, Exame e Jornal de Negócios terem alertado para o assunto.
E ainda Scolari, que recebia 800 mil euros/ano, Figo (apenas 400 mil/ano) e Vale e Azevedo, que sacou dois milhões (passaram-lhe o cheque antes de verificarem as garantias), e tantas outras figuras do nosso Gotha que lucraram com um banco que tinha balcões em gasolineiras e ativos tão extravagantes como 80 Mirós e uma coleção de arte egípcia.
O enredo é fabuloso. Dava um filme indiano. Só espero que, na venda ao BIC, o Estado tenha tido o bom senso de reservar os direitos de adaptação ao cinema desta história, que estou certo será disputada por Hollywood e Bollywood. Sempre será algum dinheiro que entra para minorar o prejuízo de seis mil milhões.

Este jornalista, Jorge Fiel, é um preocupado com o BPN. O caso BPN a Fiel e a todos os fiéis do costume é um caso que supera em tudo, todas as manigâncias de todos os demais governantes. O caso BPN suplanta Parques Escolares, Scuts, PPP´s, avenças a advogados e consultadorias.
Os milhões destas "festas" são nada ao pé do BPN, erigido por estes fiéis como o exemplo supremo da corrupção absoluta e do mal maior que nos atinge.
Para além de ser um "caso de polícia", o caso BPN é o bode expiatório de todos os casos que os fiéis fidelíssimos nunca viram, não querem ver, nem toleram que outros vejam.

Se o caso BPN for resolvido a contento destes fiéis, tudo retoma a normalidade democrática.

Os demais casos são nada de nada ao pé do BPN...

Questuber! Mais um escândalo!